O cacique Juruna estava com a razão
Artigo: Antônio de Pádua Marques
Cacique Juruna foi deputado pelo PDT-RJ |
O cenário realmente é de porta de delegacia. Logo ali na frente está se dando no meio da rua uma briga, um bate-boca entre uns delinquentes por causa de pagamento de propinas. Outros estão aguardando audiência com o delegado por causa de uns papelotes de maconha e pedrinhas de crack. E mais adiante vem chegando um grupo de insatisfeitos com o governo interino de Michel Temer vindo registrar boletim de ocorrência. Tudo junto e misturado. Todo mundo falando alto e ao mesmo tempo. Uns entregando os outros.
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Michel Temer dentro de mais alguns dias deve ser chamado de Noca, aquela dona de casa aonde todo mundo chega e faz o que quer na cozinha. Todos os seus filhos têm defeitos e a cada hora é descoberto um podre, cada um pior que o outro. E tanta é a falta de autoridade e tanta corrupção correndo por baixo que me vem à lembrança um sujeito baixo e atarracado que criou muito alvoroço em Brasília nos anos em que estava sentado na cadeira de delegado o general João Batista Figueiredo.
Mario Juruna, cacique da tribo xavante namurunjá, reserva de São Marcos, no Barra do Garças, Mato Grosso, foi o primeiro de sua nação a alcançar uma cadeira de deputado federal pelo PDT de Leonel Brizola. Viveu em sua aldeia até os dezessete anos sem ver a cara suja dos brancos. Ficou famoso por encher a paciência de gente do governo, de deputados e senadores cobrando atitude deles pra seu povo, principalmente no que se referia à demarcação de terras. E sempre carregava a tiracolo o diabo de um gravador.
Esse equipamento, dizia o cacique, era pra registrar tintim por tintim aquilo que o homem branco dizia e pra depois poder ele, Juruna, cobrar uma em cima da outra. O gravador na frente dos equipamentos eletroeletrônicos de hoje, principalmente telefones celulares, era uma aberração, dado o tamanho de uma caixa dessas de bombom Garoto. Mas por isso mesmo acabava metendo medo.
Dois anos depois de ter sido eleito denunciou o empresário libanês Calim Eid, por estar tentando lhe corromper pra que votasse em Paulo Maluf, então candidato à Presidência da República. Deu uma confusão dos diabos. Tentou uma reeleição em 1990 e 1994, mas não foi bem sucedido. Morreu pobre e esquecido no Guará, cidade-satélite de Brasília, em 2002. Havia sido abandonado tanto pelos de sua tribo, quanto pelos homens brancos que se meteram a serem amigos dele.
Morreu doente e na miséria aos 58 anos de idade e deixando uma família numerosa de 11 filhos. Perto do terror causado que fazem hoje os políticos chantageando uns aos outros, Juruna foi um menino. Se vivo fosse e tivesse continuado na política com sucessivas reeleições, o velho cacique da tribo xavante, filho de Apoenã, certamente estaria decepcionado e alarmado. Perto do que anda acontecendo na Central de Flagrantes da praça dos Três Poderes atualmente, Juruna não fez foi coisa nenhuma.
Edição: Jornal da Parnaiba
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