Essa semana me ocorreu de ler nos blogs e portais
da região que na minúscula Caxingó, uma antiga colônia de Buriti dos Lopes, o
IBAMA achou de soltar no meio do tempo, na natureza, uma quantidade até boa de,
imagine só, papagaios. Estas aves haviam sido engaioladas em média uns trinta
anos e de lá certamente nunca mais sairiam voando pelas próprias asas. E mais certamente
que pela idade avançada morreriam de tédio, dementes, comendo coisas de arroz,
feijão, quando muito um pedaço de goiaba ou banana, ficando carecas e faltos
das penas do rabo e com os pés cheios de cascas bem grossas.
Estas aves da terra de Deoclides ainda tiveram em
vida a sorte de encontrarem um órgão do governo feito o IBAMA e gente da
população que lhes libertassem do jugo da escravidão da gaiola ou do poleiro lá
no findo da cozinha e sendo obrigados pelas circunstâncias a ficarem repetindo
palavras que aos olhos dos curiosos e das visitas eram sempre motivo de graça
porque não sei quem foi que meteu na cabeça de achar que papagaio sabe falar. E
muitos desses coitados já eram até tratados como pessoa da família, com nome e
sobrenome.
E ocorre agora lembrar que este episódio do Caxingó
ao soltar seus louros remete a uma observação que se dará dentro de mais alguns
meses, coisa de mais de um ano contando de hoje, quando tem início a corrida
pelas prefeituras. E o Piauí, este poleiro de exímios papagaios políticos
profissionais vai mais uma vez mostrar esta parte exótica de sua fauna. Se
ponham pra ver. Ouçam o que estou dizendo. Serão as mesmas pessoas de há uns trinta
e tantos anos, carreiristas, gente que faz meio de vida e até se aposenta
dentro das câmaras municipais ou se revezando com um filho, um sobrinho ou a
própria mulher na cadeira de prefeito.
A partir do ano que vem serão as mesmas promessas,
as mesmas conversas bestas sobre educação, saúde e segurança. E vão eles de
porta em porta feito papagaios, essas aves exóticas, falando e repetindo as
mesmas coisas, visitando os bairros mais sofridos e necessitados, abraçando
bêbados e desdentados, beijando mulheres que puxam meninos pelo braço enquanto carregam
outro no colo. Mais adiante vão pagando um quilo de galinha pra um aqui e mais
na frente aviando uma receita de remédio pra outro. Por enquanto o Piauí,
Caxingó como exemplo, soltou seus papagaios de penas. Ano que vem são os
papagaios de calça e camisa.
Por Antônio de Pádua Marques
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