Domingo é um dia peculiar! Normalmente um dia pra descansar
e, talvez, por isso mesmo, seja tão tedioso. As pessoas se limitam aos muros
das casas, a cidade fica relativamente deserta e conseguir levantar da cama é
um suplício. Digo levantar, pois acordar é fácil, levantar que é difícil. Da
cama ou do sofá. Principalmente quando o sábado foi bom. A única coisa fácil
que atenta contra a preguiça é ligar a televisão pra assistir o de praxe (meus
parabéns a você que possui TV a cabo), e nos dias de hoje (aves e vivas!) o
computador. Claro, sempre há almoços fora de casa, esporadicamente o típico churrasco
de domingo na casa de um amigo (a), e no caso de nossa cidade praiana, há
praia. Á, quase esqueço das caranguejadas!
No final do clássico filme Casablanca, o casal
protagonista se despede em um aeroporto turco em meio a segunda grande guerra.
Lisa então pergunta a Rick:
- E nós?
Eis que Rick responde:
-Nós sempre teremos Paris!
Pois é, nós sempre teremos a praia pra nos salvar
da zona urbana de Parnaíba. Inclusive, um paralelo “adequadíssimo” este com
Paris.
Enfim, é bom ir à praia, banhar no mar pra tirar as
ruindades da alma na água salgada, sentir a terra fofa entre os dedos dos pés,
ou das mãos, como queira. Também aproveitar o sol. Isso sem citar a culinária a
base de frutos do mar e, claro, uma cervejinha gelada porque uma pessoa, ainda que
por instantes na vida, merece se despreocupar. Azeitar o juízo. Isto,
obviamente, para os que gostam de praia. Caso contrário? O céu existe! Peixadas maravilhosas! Observação: Somente
parnaibanos natos compreenderam esta última parte, salvo exceções.
Com certeza existem outras maneiras de alegrar o
domingo enquanto morosamente correm os ponteiros dos relógios, mas,
basicamente, as possibilidades acima são a realidade de entretenimento no
primeiro dia da semana Parnaibana. Admito que não somente neste! É o que nós
temos. Os eventos dominicais, também dos dias de “feira”, assim como quase tudo
na vida que trate de lazer, dependem do que a cidade nos disponibiliza, da
geografia, cultura e mobilidade. Depende, também, pode-se dizer, do nível de tacanhice
da população que por pensamentos exacerbadamente retrógrados, acabam por podar
dos demais a sensação de plena liberdade. Se você não se sente pleno no
exercício de sua liberdade, não há diversão. Um povo de mentalidade aberta é sempre
o melhor anfitrião.
Pois
bem! Num desses pacatos domingos, pra espantar o marasmo exagerado, escutava
som, tomava uma cervejinha (literalmente) e conversava com meus pais e minha
irmã. Não assei carne, pois, infelizmente, imperava a famosa preguiça dominical.
Diga-se de passagem, eu sempre sou o amigo que faz o típico churrasco do
domingo. Com exceções raras. Quase tradição! Um dia, quem sabe, passo a meus
primogênitos. Passamos o dia conversando a sombra do pé de ficos que, o sempre
sábio popular chama figueira, pra facilitar, dispensando esses dizeres
biológicos, ainda que o termo não seja necessariamente o correto. Vendo o mexer
e consequente farfalhar das folhas devido à ventania que timidamente já começa
a surgir com a chegada de agosto e o término do período de chuvas. O cachorro
da casa (que não sou eu, ao menos para algumas) corria, latia, fazia raiva,
alegria e todas aquelas coisas que fazem os cães. Tudo isso em meio aos seres
humanos que, creio, ele acha ser dono. Batendo papo e vendo peripécias caninas,
também vimos à tarde esvair e dar seus últimos suspiros no arrebol crepuscular.
Caiu uma noite de luar bonito, já próximo de lua cheia e nós continuávamos em
nossa árdua empreitada de conversa, cerveja e tudo que envolve um diálogo com
essas características. Infelizmente a sombra já não existia, pelo menos até o
amanhecer, mas a árvore, como toda árvore deve ser, estava lá, plantada e a nos
observar como bom ser vivo. Talvez tenha também suas opiniões, mas não se
pronunciou. Por que será?
Em um determinado momento, percebi que o cachorro
se encontrava demasiado eriçado. Coisa que ele é normalmente já que é um pinscher
e, pior, dos pequenininhos. Haja paciência! Mas, realmente me chamou a atenção.
Procurei investigar e descobri com tal feito que o cachorro encontrava-se em
uma peleja mortal contra um pobre inseto verde: uma esperança. Apesar de não
ser supersticioso fui ajudar o coitado animal que por alguns instantes
perambulou na boca do cachorro. Controlando o asco, peguei a esperança na mão,
brinquei com o bicho com ares de alienígena de cinema, quando de súbito o bicho
voa e vai para debaixo de uma cadeira para a alegria do cachorro. Minha mãe
presenciava tudo, até por que na tal cadeira ela se encontrava sentada. Não sei
se ela sabia se tratar de uma esperança, mas vendo o alvoroço disse:
-Menino, deixa o cachorro com esse bicho aí!
Eu displicentemente respondi:
-Com tanto que ele não mate a esperança.
Depois fiquei pensando no cachorro e na esperança. De
como os cachorros não ligam pra convenções supersticiosas humanas e
simplesmente são conduzidos pelos seus instintos, sem preconceito algum. E de
como essa superstição de boa sorte por diversas vezes já deve ter salvado
diversas esperanças.
Posteriormente também pensei: ainda é viva a
esperança? Será que a esperança ainda existe? Ou já trucidada por algum
predador de dentes afiados?
Minha parte eu fiz. A esperança foi salva!
P.S. Nenhum animal (incluindo eu) se machucou com
toda a situação.
Por Raul Menezes (Acadêmico de Direito da UESPI/Parnaíba)
Da redação do Jornal da
Parnaíba
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