quinta-feira, julho 25, 2013

O dominical voo da esperança

Domingo é um dia peculiar! Normalmente um dia pra descansar e, talvez, por isso mesmo, seja tão tedioso. As pessoas se limitam aos muros das casas, a cidade fica relativamente deserta e conseguir levantar da cama é um suplício. Digo levantar, pois acordar é fácil, levantar que é difícil. Da cama ou do sofá. Principalmente quando o sábado foi bom. A única coisa fácil que atenta contra a preguiça é ligar a televisão pra assistir o de praxe (meus parabéns a você que possui TV a cabo), e nos dias de hoje (aves e vivas!) o computador. Claro, sempre há almoços fora de casa, esporadicamente o típico churrasco de domingo na casa de um amigo (a), e no caso de nossa cidade praiana, há praia. Á, quase esqueço das caranguejadas!

No final do clássico filme Casablanca, o casal protagonista se despede em um aeroporto turco em meio a segunda grande guerra. Lisa então pergunta a Rick:

- E nós?

Eis que Rick responde:
-Nós sempre teremos Paris!

Pois é, nós sempre teremos a praia pra nos salvar da zona urbana de Parnaíba. Inclusive, um paralelo “adequadíssimo” este com Paris.

Enfim, é bom ir à praia, banhar no mar pra tirar as ruindades da alma na água salgada, sentir a terra fofa entre os dedos dos pés, ou das mãos, como queira. Também aproveitar o sol. Isso sem citar a culinária a base de frutos do mar e, claro, uma cervejinha gelada porque uma pessoa, ainda que por instantes na vida, merece se despreocupar. Azeitar o juízo. Isto, obviamente, para os que gostam de praia. Caso contrário? O céu existe!  Peixadas maravilhosas! Observação: Somente parnaibanos natos compreenderam esta última parte, salvo exceções.

Com certeza existem outras maneiras de alegrar o domingo enquanto morosamente correm os ponteiros dos relógios, mas, basicamente, as possibilidades acima são a realidade de entretenimento no primeiro dia da semana Parnaibana. Admito que não somente neste! É o que nós temos. Os eventos dominicais, também dos dias de “feira”, assim como quase tudo na vida que trate de lazer, dependem do que a cidade nos disponibiliza, da geografia, cultura e mobilidade. Depende, também, pode-se dizer, do nível de tacanhice da população que por pensamentos exacerbadamente retrógrados, acabam por podar dos demais a sensação de plena liberdade. Se você não se sente pleno no exercício de sua liberdade, não há diversão. Um povo de mentalidade aberta é sempre o melhor anfitrião.

Pois bem! Num desses pacatos domingos, pra espantar o marasmo exagerado, escutava som, tomava uma cervejinha (literalmente) e conversava com meus pais e minha irmã. Não assei carne, pois, infelizmente, imperava a famosa preguiça dominical. Diga-se de passagem, eu sempre sou o amigo que faz o típico churrasco do domingo. Com exceções raras. Quase tradição! Um dia, quem sabe, passo a meus primogênitos. Passamos o dia conversando a sombra do pé de ficos que, o sempre sábio popular chama figueira, pra facilitar, dispensando esses dizeres biológicos, ainda que o termo não seja necessariamente o correto. Vendo o mexer e consequente farfalhar das folhas devido à ventania que timidamente já começa a surgir com a chegada de agosto e o término do período de chuvas. O cachorro da casa (que não sou eu, ao menos para algumas) corria, latia, fazia raiva, alegria e todas aquelas coisas que fazem os cães. Tudo isso em meio aos seres humanos que, creio, ele acha ser dono. Batendo papo e vendo peripécias caninas, também vimos à tarde esvair e dar seus últimos suspiros no arrebol crepuscular. Caiu uma noite de luar bonito, já próximo de lua cheia e nós continuávamos em nossa árdua empreitada de conversa, cerveja e tudo que envolve um diálogo com essas características. Infelizmente a sombra já não existia, pelo menos até o amanhecer, mas a árvore, como toda árvore deve ser, estava lá, plantada e a nos observar como bom ser vivo. Talvez tenha também suas opiniões, mas não se pronunciou. Por que será?

Em um determinado momento, percebi que o cachorro se encontrava demasiado eriçado. Coisa que ele é normalmente já que é um pinscher e, pior, dos pequenininhos. Haja paciência! Mas, realmente me chamou a atenção. Procurei investigar e descobri com tal feito que o cachorro encontrava-se em uma peleja mortal contra um pobre inseto verde: uma esperança. Apesar de não ser supersticioso fui ajudar o coitado animal que por alguns instantes perambulou na boca do cachorro. Controlando o asco, peguei a esperança na mão, brinquei com o bicho com ares de alienígena de cinema, quando de súbito o bicho voa e vai para debaixo de uma cadeira para a alegria do cachorro. Minha mãe presenciava tudo, até por que na tal cadeira ela se encontrava sentada. Não sei se ela sabia se tratar de uma esperança, mas vendo o alvoroço disse:

-Menino, deixa o cachorro com esse bicho aí!

Eu displicentemente respondi:
-Com tanto que ele não mate a esperança.

Depois fiquei pensando no cachorro e na esperança. De como os cachorros não ligam pra convenções supersticiosas humanas e simplesmente são conduzidos pelos seus instintos, sem preconceito algum. E de como essa superstição de boa sorte por diversas vezes já deve ter salvado diversas esperanças.

Posteriormente também pensei: ainda é viva a esperança? Será que a esperança ainda existe? Ou já trucidada por algum predador de dentes afiados?
Minha parte eu fiz. A esperança foi salva!

P.S. Nenhum animal (incluindo eu) se machucou com toda a situação.

Por Raul Menezes (Acadêmico de Direito da UESPI/Parnaíba)
Da redação do Jornal da Parnaíba

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