Conforme matéria publicada pelo jornal Valor Econômico, no Piauí, cerca de 169 municípios estão em situação de emergência por conta da seca e, em muitas delas, a única solução ainda é o uso de de caminhão-pipa.
Veja a matéria na íntegra:
A água que ameaça inundar as casas de quem vive nas redondezas do rio Parnaíba é hoje o bem mais esperado por José Teixeira, de 73 anos, morador do povoado de Bocolô, no município de Picos, semiárido piauiense, a 350 km de Teresina.
De chapéu, agachado no terreno de sua casa, ele observa com atenção o trabalho da bomba que perfura o solo e cospe o barro, uma máquina de cerca de dez metros de altura. Feliz, Teixeira conta que juntou dinheiro por muito tempo para cavar o poço que vai livrar a família da seca e da dependência de outros poços distantes de casa. "Vai custar uns R$ 22 mil, mas vai ser algo muito bom. Vou furar 120 metros, se não achar água, furo 150", diz.
No entorno do rancho de Teixeira, uma rama verde cobre toda a vegetação. Quem vê, nem pensa em falta de água, mas é ledo engano. "Isso aí é a seca verde", diz ele, explicando o efeito que as poucas chuvas causaram na região. "Chover mesmo não choveu, foi só essa aguinha aí, que brota do mato, mas não mata a sede."
Aos poucos, as chuvas começam a chegar ao sertão do Piauí, mas ainda não se firmaram. Até três semanas atrás, muitas regiões encaravam sete meses sem receber chuva com regularidade. Na semana passada, 169 municípios estavam em situação de emergência. Lagos, rios e açudes secaram, plantações foram perdidas e animais morreram. O Exército foi acionado para abastecer as cisternas públicas.
Em cerca de 70 cidades, a saída encontrada é o abastecimento por meio de caminhão-pipa. É o caso de Santana do Piauí, município vizinho a Picos, onde a lagoa dos Marcelinos desapareceu, deixando uma vala no chão. "É uma pena, era uma lagoa muito bonita, mas foi ficando lá, e foi baixando, até que secou de vez", diz José Luis Marcelino, dono da lagoa.
Marcelino diz que ainda há água para beber. Sua casa divide hoje um único poço, que abastece mais 80 moradias da região, boa parte delas construída com barro e taipa de pilão. "O problema é ter para dar aos animais e para molhar as plantas", comenta ele.
O prefeito de Picos, Gil Paraibano (PMDB), foi procurado pela reportagem para comentar as ações que o município tem tomado para apoiar a população. Sentado em um banco de frente para a prefeitura, rodeado de colegas, disse que não gostava de jornalistas, que não daria entrevistas e pediu que a reportagem fosse embora.
Enquanto a prefeitura prefere não se manifestar, o povo tem feito o que pode. Quem tem melhor condição financeira e pode recorrer a alternativas para garantir água nos pastos e plantações, compra a água inflacionada dos caminhões-pipa. "O preço depende da distância, mas é de R$ 40 para cima, está caro demais", diz Edilson Lima dos Santos, que há dez anos faz serviço de mototáxi na região.
Conhecedor de todos os cantos da cidade, que é conhecida como a "Capital do Mel", Santos conta que, até o ano passado, estava decidido a vender a casa que conseguiu construir em num povoado próximo a Picos, mas depois mudou de ideia quando ficou sabendo que chegariam redes de água e de energia até a rua de sua casa. "A situação era muito difícil lá, mas agora está boa. O Luz para Todos melhorou a região", diz ele. "É claro que a gente ainda precisa de muita coisa, mas já está bem melhor."
Edição: Jornal da Parnaíba
Fonte: Valor Econômico / Complemento Portal AZ
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