O bispo de Crato, no interior do
Ceará, d. Magnus Henrique, anunciou na manhã deste sábado, 20, que a Igreja
Católica autorizou o início do processo de beatificação do padre Cícero Romão
Batista. A informação foi divulgada aos fiéis em uma missa em celebração ao
"patriarca do Nordeste", como também é chamado o líder religioso.
Com
a decisão, ainda não foi confirmada publicamente pelo Vaticano, o padre passa a
ter o título de "servo de Deus".
"Romeiros de todo Brasil, é
com grande alegria, que vos comunicado, nesta manhã história, que recebemos
oficialmente da Santa Sé, por determinação do santo padre, o papa Francisco,
uma carta do Dicastério para as Causas dos Santos, datada do dia 24 de junho de
2022.
Recebemos a autorização para a abertura do processo de beatificação do
processo Cícero Romão Batista, que a partir de agora receberá o título de servo
de Deus", declarou. Em missa ao ar livre, o anúncio foi recebido com
aplausos e fogos de artifício.
Padre Cícero nasceu em 1844, em
Crato, e morreu em 1934, aos 90 anos, em Juazeiro do Norte, município também
cearense onde está a conhecida estátua de 27 metros de altura em sua homenagem,
destino de romarias que atraem cerca de 2,5 milhões de pessoas por ano.
Considerado um "santo popular", foi celebrado ainda em vida, com a
atribuição de milagres pela população, o que lhe rendeu uma suspensão das
atribuições sacerdotais pela Igreja. Também exerceu forte poder político na
região.
Como em outros casos de
"santos populares", o reconhecimento do "Padim Ciço", como é
conhecido popularmente, tem enfrentado resistência no clero.
Historiadores
contam que a relação do padre com o clero brasileiro da época já não era boa em
razão do envolvimento com a política.
Além de sacerdote, também foi fazendeiro
e político, filiado a partido. Foi o primeiro prefeito de Juazeiro do Norte, em
1911, quando o povoado foi elevado à cidade, e chegou a vice-governador.
Em 1889, a trajetória do padre
começou a mudar. Naquele ano, ao colocar a hóstia consagrada na boca da devota
Maria de Araújo, o pedaço de trigo teria se transformado em sangue.
O
"milagre da hóstia" logo se espalhou pela região. O fenômeno teria se
repetido diversas vezes durante dois anos. As narrativas de boca em boca
apontavam o próprio Cristo se manifestando em Juazeiro através de uma beata e
pelas mãos de um padre santo.
Atendendo pedido dele, a diocese
formou uma comissão com dois padres, dois médicos e um farmacêutico para
investigar o suposto milagre. Em outubro de 1891, a comissão chegou à conclusão
de que não havia explicação natural para os fatos, então considerados
milagrosos. Insatisfeito, o bispo d. Joaquim José Vieira nomeou outra comissão,
composta apenas por um padre e seu secretário, que considerou o
"milagre" uma fraude.
O bispo acatou esse resultado e suspendeu as
ordens sacerdotais do padre Cícero. Ele também determinou que Maria de Araújo
fosse afastada da igreja.
Em 1898, padre Cícero foi a Roma
e se reuniu com o Papa Leão XIII e com membros da Congregação do Santo Ofício.
Ele teria conseguido sua absolvição, mas em seu retorno a Juazeiro, a decisão
foi revista pelo Vaticano.
Chegou a ser anunciada a excomunhão do religioso,
porém, descobriu-se depois que a punição não fora aplicada. Em 2001, quando
ainda era cardeal, o papa Bento XVI mandou investigar o caso, vendo a
possibilidade de reabilitar o padre brasileiro perante a Igreja. Em 2006, o
bispo d. Fernando Panico viajou para o Vaticano com uma comissão de religiosos,
políticos e fiéis para defender a reabilitação.
Em dezembro de 2015, padre
Cícero recebeu o perdão da Igreja.
Fonte: Estadão Conteúdo