A história política recente do Piauí, especialmente a que culminou na consolidação do poder petista, não começou com o PT começou com a autodestruição das antigas elites
O governador Guilherme Melo, vice que assumira o cargo após a renúncia
de Freitas Neto que deixara o Palácio de Karnak para disputar o Senado,
representava a continuidade desse bloco de poder. A aposta das elites era o
deputado federal Átila Lira, técnico respeitado, gestor eficiente, homem de
gabinete, que reunia todas as credenciais de um bom administrador menos uma: o
carisma popular.
A eleição que virou o jogo
Era a primeira eleição com a novidade do segundo turno, e o favoritismo
de Átila parecia inabalável. No primeiro turno, a vitória foi larga. O
adversário, Mão Santa, médico e ex-prefeito de Parnaíba, era tratado com desdém
pelas oligarquias do estado um “candidato folclórico”, diziam, limitado a seu
reduto no litoral e sem estrutura partidária.
O Piauí ainda era território dominado pelos velhos coronéis do voto. A
coligação governista elegeu quase tudo: os dois senadores (Hugo Napoleão e
Freitas Neto), oito dos dez deputados federais e vinte e dois dos trinta
estaduais. O mapa político parecia decidido e a soberba, consolidada.
Mas o que as elites ignoravam era o movimento que se formava por baixo.
Enquanto os poderosos descansavam à sombra da vitória parcial, Mão Santa
percorria feiras, praças e povoados, falando a linguagem simples que o povo
entendia. Transformou-se no símbolo de um “antiestablishment” piauiense, mesmo
que involuntário.
Quando o segundo turno chegou, o impossível aconteceu: as pesquisas
começaram a inverter. O candidato do povo, ridicularizado pela elite política
começou a crescer, e cresceu até vencer — com uma diferença maior do que aquela
que perdera no primeiro turno.
O resultado foi um terremoto político. O primeiro tremor nas bases
politica do Piauí deu-se após apertada vitória de Alberto Silva sobre o então
Deputado Federal e Prefeito da Capital Freitas Neto em 1986. Alberto Silva
conseguiu rachar a base de sustentação do condomínio politico PFL /PDS que
unida mantinha o poder no estado, fechando chapa majoritária com Lucídio
Portela como seu vice. Em 1994, pela segunda vez, o domínio absoluto de
PFL e PDS era quebrado nas urnas. Foi ali que de fato se iniciou, sem que
ninguém percebesse, o longo processo de desintegração das elites políticas
tradicionais do Piauí.
Com o PMDB no poder estadual, a oposição se reorganizou em torno do
ressentimento. Ainda assim, Mão Santa, com seu estilo teatral e populista,
conseguiu conectar-se a um sentimento de revolta silenciosa contra o mando
dessas lideranças tradicionais. Em 1998, enfrentou novamente seu principal
adversário: Hugo Napoleão, então senador e tido como imbatível.
A campanha foi simbólica. Enquanto Hugo mantinha a postura
aristocrática dos velhos tempos, Mão Santa abriu os portões do Palácio de
Karnak para carroças e jumentos — uma encenação popular que, à sua maneira,
escancarava o abismo entre governantes e governados. Foi o segundo recado das
urnas às elites piauienses: o povo não votava mais por obediência.
Por: Redação GH1 | Fonte: Arthur Feitosa


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