Conclusão das investigações
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Maria dos Aflitos Silva e Francisco de Assis Pereira da Costa
O caso de envenenamento em série na cidade de Parnaíba tomou novos
rumos após a confissão do casal, principais suspeitos pelo
crime. Em menos de seis meses, oito pessoas perderam a vida após
consumirem alimentos contaminados com terbufós, um pesticida de alta toxicidade
e venda controlada no Brasil. Sete das vítimas pertenciam à mesma família.
No dia 31 de janeiro, a Polícia Civil prendeu Maria dos Aflitos Silva,
suspeita de envolvimento direto nos crimes. Seu companheiro, Francisco de Assis
Pereira da Costa, já havia sido detido no início do mês. As investigações
apontaram que ambos participaram do envenenamento de filhos, netos e uma
vizinha de Maria dos Aflitos.
Francisco de Assis afirmou inicialmente que os garotos haviam consumido cajus doados por Lucélia Maria da Conceição, vizinha dos fundos da residência. No dia seguinte, Maria dos Aflitos registrou um boletim de ocorrência contra Lucélia, que foi presa após a polícia encontrar terbufós em sua casa. No entanto, uma nova série de mortes levou a investigação para outro caminho.
No dia 1º de janeiro de 2025, nove pessoas passaram mal após consumirem baião de dois no almoço de Ano Novo. Cinco delas faleceram nos dias seguintes: Manoel Leandro da Silva, 18 anos; Igno Davi da Silva, 1 ano e 8 meses; Maria Lauane da Silva, 3 anos; Francisca Maria da Silva, 32 anos; e Maria Gabriela da Silva, 4 anos. Inicialmente, Maria e Francisco tentaram culpar manjubas doadas por terceiros, mas exames revelaram que o baião de dois havia sido envenenado.
As investigações comprovaram que o alimento foi contaminado na
madrugada do dia 1º de janeiro de 2025, após a festa de Réveillon, quando
apenas Maria dos Aflitos e Francisco de Assis estavam acordados. A análise
pericial demonstrou que o veneno foi introduzido na panela onde o arroz foi
preparado e armazenado.
No dia 22 de janeiro, Maria Jocilene da Silva, 41 anos, vizinha de
Maria dos Aflitos, faleceu após ingerir café na casa da suspeita. Investigações
revelaram que as duas mantinham um relacionamento amoroso antes da chegada de
Francisco de Assis. Jocilene cuidou dos netos de Maria no hospital e denunciou
a negligência da idosa, o que pode ter motivado sua morte.
Maria dos Aflitos tentou despistar a polícia ao alegar que Jocilene
havia sofrido um infarto. Contudo, a perícia encontrou traços de terbufós na
taça de vidro usada pela vítima. Enquanto os demais utilizavam copos plásticos,
Jocilene preferia a taça, a única lavada antes da chegada dos investigadores.
Após sua prisão, Maria dos Aflitos confessou ter matado Jocilene para
tentar libertar Francisco, assim como havia ocorrido com Lucélia. "O que
houve é que eu tava cega de amor pelo Assis, e pra ter ele de volta, poderia
acontecer o mesmo caso", declarou. "Gosto muito dele, ainda
gosto", completou.
Maria afirmou que Francisco foi responsável pelos primeiros
envenenamentos, pois desprezava seus filhos e netos. Segundo ela, ele planejou
a história dos cajus para culpar Lucélia e eliminou as crianças por meio de um
refresco envenenado. No caso do baião de dois, Maria relatou que encontrou o
veneno atrás do fogão e o utilizou no café de Jocilene.
As investigações revelaram que Francisco nutria um profundo desprezo
pela família de Maria e controlava rigidamente os alimentos da casa,
armazenando-os em um baú trancado. Durante buscas, a polícia encontrou
documentos que indicavam sua obsessão por ideais nazistas, incluindo livros
grifados sobre substâncias letais.
Segundo o delegado Abimael Silva, Francisco e Maria foram os únicos que
mentiram e mudaram suas versões ao longo da investigação, tentando incriminar
terceiros. "A investigação revelou que o modus operandi utilizado nos dois
primeiros crimes foi idêntico: uso de veneno, escolha da oportunidade e
justificativa. O terceiro crime, cometido apenas por Maria, demonstrou
impulsividade e falta de planejamento", explicou o delegado.
Nos primeiros casos, o casal se aproveitou de situações corriqueiras
para disfarçar os assassinatos: no primeiro, utilizaram os cajus como álibi; no
segundo, culparam peixes doados. O intervalo de quatro meses entre os crimes
demonstra um planejamento cuidadoso. Já no terceiro assassinato, a execução foi
desorganizada, levando à descoberta do crime.
Com a prisão de ambos, a Polícia Civil concluiu que os envenenamentos
foram premeditados e um dos crimes mais chocantes já registrados no estado.
180graus
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