Rejane Dias, esposa do ministro Wellington Dias, foi denunciada por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
A conselheira do TCE-PI, Rejane Dias, com o marido, o ministro Wellington Dias - (reprodução/Reprodução)
O superfaturamento dos contratos
Rejane Dias foi secretária da Educação entre 2015 e 2018, durante o
mandato do governador Wellington Dias no Piauí. A Polícia Federal apurou que,
nesse período, foram assinados contratos milionários para transportar alunos
das escolas públicas. Os preços eram superfaturados em até 40%.:
Esta organização criminosa da qual participou a então secretária, diz o relatório da polícia, teria recebido “vantagens indevidas” em diversas oportunidades “para beneficiar empresas integrantes de um esquema criminoso, através da simulação e fraudes de procedimentos licitatórios, da celebração e manutenção de contratos de transporte escolar de alunos celebrados com a Seduc/PI considerados irregulares e da liquidação e execução de despesas superfaturadas”.
O pagamento de propina
O esquema funcionava assim: locadoras de veículos eram pré-selecionadas
em pregões monitorados por funcionários da Secretaria de Educação, comandada
por Rejane, que manipulavam a concorrência. Ao receber os recursos dos
programas do governo federal para custear o transporte dos estudantes, a
secretaria repassava o dinheiro às empresas, que subcontratavam serviços mais
baratos de outras empresas e embolsavam a maior parte do dinheiro sem precisar
fazer muito esforço. Rejane Dias está na lista dos que recebiam “vantagens
indevidas”.
O esquema envolvendo petistas
O braço empresarial da organização criminosa que fraudava contratos da
Secretaria de Educação no Piauí é o ex-professor Luiz Carlos Magno Silva, que
foi filiado ao Partido dos Trabalhadores entre 2003 e 2013. O professor ganhava
um salário de 2.500 reais mensais. Ele largou a Secretaria de Educação em 2009,
quando já tinha conquistado um cargo remunerado de Superintendente
Institucional, para abrir empresas na área de transporte de estudantes.
A Polícia Federal faz menção à filiação partidária do professor Luiz
Carlos e ao fato de ele ter começado seu negócio durante o governo Wellington
Dias, também do PT. Rejane foi deputada estadual e deputada federal pelo PT. No
início do ano, ela tomou posse como conselheira do Tribunal de Contas do
Estado.
A batalha jurídica
Em 2020, quando a investigação estava em andamento, Rejane Dias
recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF), argumentando que teria direito a
foro especial por ter sido eleita deputada federal. Ao analisar o caso, a
procuradoria-geral da República disse que os supostos delitos teriam sido
cometidos antes do mandato e reafirmou haver “requisitos de lavagem de dinheiro
e longa duração no tempo de funcionamento do empreendimento criminoso”.
No mês passado, o juiz responsável pelo caso no Tribunal Regional
Federal enviou o inquérito ao STJ, dessa vez para decidir se Rejane, por ter
assumido o cargo de conselheira, teria direito a foro especial naquela Corte.
Em uma peça sigilosa anexadas aos autos, a defesa de Rejane Dias diz que a
Polícia Federal atuou de forma “leviana” para tentar incriminar a conselheira e,
por associação, o próprio ministro Wellington Dias.
Os advogados da ex-deputada anexaram informações de peritos
particulares que contestam a análise da geolocalização dos celulares de
investigados e dizem que houve “provável manipulação de dados para legitimar
conclusões incriminatórias ilegais e abusivas, com potencial para alterar a
percepção do julgador e do titular da ação penal” sobre Rejane.
O constrangimento do ministro
Wellington Dias, que não é investigado, já teve de passar por algumas
situações constrangedoras. Em 2020, a Polícia Federal cumpriu mandados de busca
na casa do então governador. Na ocasião, ele classificou a operação como “ um
espetáculo”.
Agora, como ministro do Desenvolvimento Social, uma pasta bilionária
que controla programas como o Bolsa-Família, a vitrine do governo Lula,
Wellington Dias volta se deparar com mais uma fase do processo, no qual a
esposa é acusada formalmente de crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e
organização criminosa. O ministro não quis se manifestar.
Por Hugo Marques |
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