sexta-feira, junho 24, 2022

Lendas da Parnaíba: O corpo seco e o "arrebatamento" de Simplício Dias

Retrato de Simplício Dias

Existe uma lenda que se espalhou por todo o Brasil. É que algumas pessoas são tão, tão, tão ruins em vida que quando morrem Deus não os aceita no céu e, de tão ruins, são rejeitadas até no Inferno. 

Uma outra versão diria que essas pessoas, após enterradas seriam expulsas da terra de tão ruins. O corpo seco, seria, assim, um penado de corpo e alma. Um zumbi, em outras palavras. Há relatos de corpos secos no Piauí.

Em vida, Simplício Dias da Silva foi um importante líder político na Vila de São João da Parnaíba (atual Parnaíba). Dizem que ele era um homem muito mal. Em seu casarão possuía um fosso repleto de tigres e leões famintos que eram alimentados com carne humana. Naquele fosso eram jogados ladrões, mendigos, pobres, criados revoltados, escravos e até bebês de escravos.

Apesar de ser uma pessoa muito má, Simplício tinha muito amor por um cavalo que havia ganhado do Sultão Selim III, da Turquia. O cavalo, altamente treinado, fazia mil truques e estripulias. Era, de fato, um fenômeno, de modo que seu dono o tinha como alguém de sua família. 

Quando o cavalo morreu, Simplício ficou inconsolável e pediu que o cavalo fosse enterrado na capela de Nossa Senhora das Graças, no centro de Parnaíba, que pertencia à família do líder político. Apesar de julgarem aquilo um absurdo, ninguém teve coragem de questionar a sua decisão. Decorrido algum tempo, começou a aparecer o espírito do cavalo naquela igreja, de modo que várias pessoas o viram aprontando estripulias infernais no interior do templo.

Na tarde do dia 27 de setembro de 1829, aos 56 anos, morre o tirano, sendo sepultado na Capela particular de sua família. Após o sétimo dia, o sacristão sente um forte cheiro de enxofre e quando vai olhar, que susto, o cadáver de Simplício estava deitado nu em cima da lápide de seu túmulo.

Lápide do Túmulo de Simplício Dias da Silva ao lado do Santíssimo Sacramento na Igreja da Graça

Apressou-se em informar ao vigário, que, por sua vez, informou a família. Com o consentimento da família, o corpo foi envolto em panos perfumados e levado ao cemitério. 

Ilustração: Douglas Viana

Na entrada do cemitério uma tempestade se formou do nada: raios, relâmpagos e trovões tomaram conta dos céus. O vento era tão forte que quebrou alguns galhos de árvores próximas. De repente, começou-se a ouvir ruídos, choros e ranger de dentes. Nesse momento, figuras demoníacas surgiram e impediram o sepultamento, ao que os coveiros saíram correndo. 

O corpo de Simplício levantou, à maneira de um zumbi, e ficou aprontando no cemitério. Depois disso, o cavalo deixou de assombrar a igreja.

A partir daí o corpo-seco de Simplício Dias começou a ser visto por toda a cidade. Dizem os mais antigos que em noite de lua cheia andava correndo a cavalo, soltando gritos e gargalhadas. Muitos viajantes carregavam consigo crucifixos de prata pra espantar o bicho.

Um dia, pescadores conseguiram capturar o corpo-seco e envolveram-no em uma tarrafa, jogando ali um rosário e colocaram-no em um pesado caixão cheio de pedras para que afundasse no mar. Depois de jogarem o corpo na água retornaram à praia, onde, assustados verificaram que o corpo-seco já estava a vagar na praia. Tendo em vista que nem mesmo o mar o aceitou, fizeram uma grande fogueira e jogaram-no dentro, mas, quando toda a lenha foi consumida pelo fogo, o corpo seco estava ileso, apresentando apenas leves chamuscões.

Ilustração: Douglas Viana

Levaram-no, então, para um trecho de mata fechada distante e isolado, por onde ninguém passava e onde ninguém sabia onde era, e o amarraram a um cajueiro. Anos depois, misteriosamente, o corpo e o cajueiro foram devorados por um fogo sobrenatural. Até hoje dizem que, ali, em se plantando, nada nasce.

O ARREBATAMENTO:

No 30° aniversário do falecimento de Simplício, à meia-noite, a Vila inteira foi acordada pelo som de sinos. Procurando de onde vinha o barulho, foram à igreja no Largo da Graça, onde presenciaram a igreja toda aberta, iluminada, ao som de um órgão e vozes invisíveis. O ambiente estava levemente perfumado. Aqueles que adentraram a igreja, viram no altar a figura de Simplício Dias da Silva, envolvida por um clarão, vindo, em seguida, a desaparecer diante de olhos incrédulos. Todos os presentes se emocionaram e agradeceram a Deus pela salvação da alma de Simplício Dias, após seu longo penar no purgatório terreno.

Dizem que quem agride a própria mãe, ao morrer, vira um corpo seco. Daí o ditado popular segundo o qual “Quem bate na mãe fica com a mão seca”. Falam, também, que a criatura, muitas vezes, fica grudada nos troncos de árvores secas, podendo assumir a aparência da própria árvore.

Cada pessoa que passa perto dele, ele dá um abraço da morte pois tem unhas compridas e esmaga a pessoa no seu abraço. Outros dizem que ele pode sugar o sangue de sua vítima. Talvez o bicho seja isso tudo e muito mais… Vai saber! Eu é quem não quero encontrar com um corpo seco.

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Simplício Dias da Silva o “Simplição”

Texto: José Gil Barbosa Terceiro – Causos Assustadores do Piauí l Edição: Jornal da Parnaíba

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