Simplício Dias da Silva, o "Simplição" |
Neste
sábado, 02 de março de 2013, o Jornal da Parnaíba homenageia um dos vultos
históricos mais importantes de Parnaíba que completa 240 anos do seu
nascimento, Simplício Dias da Silva, o “Simplição”.
Simplício Dias da Silva, também conhecido por “Simplição”, era filho do
português Domingos Dias da Silva, que chegou em Parnaíba no início do século
XVIII, atraído pela riqueza da região. As suas charqueadas ficaram famosas, e o
Porto das Barcas, atual ponto de atração cultural da cidade, deu origem ao
surgimento de Parnaíba. Os seus armazéns, que abrigavam os produtos de
importação e exportação, movimentavam a economia e ligavam o litoral piauiense
ao resto do mundo. Em meio a escravos, produção de riquezas, tragédias e
revoluções explosivas a família de Simplício Dias da Silva ia se perpetuando e
se firmando para a história.
Na Rua Grande, atual Avenida Getúlio Vargas, no
centro de Parnaíba, está o sobrado onde morou Simplício, exatamente ao lado do
hotel Delta. Em sua fachada observa-se um pequeno oratório, que por muitos anos
de abandono ficou meio desgastado e esquecido entre as folhas dos oitizeiros,
dos fios elétricos e do aparente desinteresse pela memória da cidade. Felizmente
recentemente foi recuperado. Ao que se sabe, o oratório foi colocado na fachada
do sobrado para reverenciar o irmão de Simplício, Raimundo Dias da Silva,
assassinado aos 39 anos de idade. Quase 40 anos depois, outra tragédia abateu a
filha de Simplício, Carolina Thomasia Dias da Silva, assassinada por um de seus
escravos. As razões para o ato bárbaro são ainda sombrias, mas há quem afirme
ter existido uma forte paixão do escravo assassino por Carolina. Em sua lápide,
na Igreja de Nossa Senhora da Graça, está escrito: “sua preciosa vida foi ceifada por um famigerado monstro cruel”.
Como fruto da vingança pelas próprias mãos, o escravo foi enforcado em praça
pública, a mando dos familiares.
Oratório para reverenciar o irmão de Simplício, Raimundo Dias da Silva |
A vida em Parnaíba, na época de Simplício, era de
fartura, ostentação e riqueza. Comia-se bem, exibia-se os dotes com pompa e
requinte, mas também promovia-se muito sacrifício e crueldade. Segundo
informações de Giovanni Barros, entusiasta e pesquisador da história de
Parnaíba, uma antiga reforma na igreja do Rosário desenterrou uma dessas faces
do horror: foram encontrados os ossos de uma pessoa acorrentada, que se supõe
sejam de um escravo ou talvez de um criminoso condenado. Supõe-se, até, que o
corpo tenha sido enterrado vivo!...
“Muitas
outras ossadas foram ali encontradas, não se sabe se pelo mesmo motivo ou por
se tratar de um cemitério”, afirma o pesquisador.
Casarão de Simplício Dias da Silva, recuperado em 2012 |
Outro fato curioso é o da existência de um túnel na
igreja de Nossa Senhora da Graça, onde eram colocados pelos fiéis os objetos e
valores doados à igreja por ocasião das missas. O túnel ainda existe, mas não
se consegue chegar ao seu final e pouco se sabe dos destinos das doações.
Segundo as anotações de Giovanni Barros, foi por interferência de Simplício
Dias que se criou a Alfândega de Parnaíba, evitando a passagem dos produtos
importados pela de São Luís. O coronel, como gostava de ser chamado, também foi
agraciado pela realeza de Portugal, com o título de Fidalgo Cavalheiro da Casa
Real, e recebeu o Hábito da Ordem de Cristo por suas ações filantrópicas desde
quando era ainda jovem. O Imperador do Brasil, D. Pedro I, em razão da
participação de Simplício no movimento pela independência do Piauí,
condecorou-o com a Imperial Ordem do Cruzeiro e o nomeou primeiro Presidente da
Província do Piauí.
“As lendas a
seu respeito só apregoam o lado ruim do homem”, afirma o pesquisador. “Apontam-no como portador de conduta e
caráter duvidosos, muito perverso, envolvido em atos de crueldades absurdos,
impossíveis de acreditar”.
Igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Parnaíba |
Uma dessas lendas conta que o coronel ordenou que
fossem jogadas pessoas vivas às feras que mantinha num covil situado a poucos
metros de onde morava. De outra vez, arrebatou uma criança dos braços de uma
mulher que passava pela calçada de sua casa, ordenando a um escravo que a
matasse, esquartejasse e a preparasse para o almoço. Outra lenda dá conta de
que, em suas viagens pelo rio Parnaíba, a bordo de seus vapores, acostava nos
lugarejos e recolhia dos produtores e comerciantes aquilo do seu interesse,
coagindo-os a que lhe vendessem a preço vil.
Lápide do Túmulo de Simplício Dias da Silva ao lado do Santíssimo Sacramento na Igreja da Graça |
O imaginário popular registra
ainda que o coronel foi grande assediador de mulheres habitantes dos lugares
por onde passava, forçando-as a atos sexuais. Outra lenda conta que ele mandou
revestir o piso do salão principal de seu solar com moedas de ouro. As lendas
em torno de seu nome não param por aí. Diz uma outra que o seu corpo a terra
não destruiu; posto a queimar, o fogo não consumiu; jogado no mato, apareceu no
local um cupinzeiro enorme, o maior que já se viu por lá, tendo
virado cupim.
“São coisas
da imaginação popular, partidas não se sabe de quem, atingindo em cheio e de
forma deprimente a figura do homem mais rico e poderoso que viveu na Parnaíba
do final do século XVIII até princípios do século XIX”, concluiu Giovanni
Barros.
Os túmulos de Domingos Dias da Silva (pai), Raimundo
Dias da Silva (irmão) e Simplício Dias da Silva estão no piso da igreja de
Nossa Senhora da Graça, ao lado do altar do Santíssimo Sacramento. Na mesma
igreja estão outros nobres que fizeram a história de Parnaíba. Quem quiser
conferir, é só chegar, ajoelhar e manter a homenagem guardada no peito, para
garantir a preservação da memória de Parnaíba.
Por Eneas Barros | Jornal da Parnaíba
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2 comentários:
Excelente texto!! Mas sinto em dizer q logo no início da matéria há um erro! Hj é 2 de março e ñ 22 de março! Corrijam-no!
q horrível............
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