Um dia desses, dando
aula no SENAC, de Estudos Regionais Locais, uma aluna me pediu para que falasse
sobre o deputado José Pinheiro Machado. Ela mora na rua que tem o seu nome. Aliás,
avenida.
Eu falei muito.
A jovem ficou
admirada – “como é que o senhor sabe tanto de cor?”
Disse-lhe que fora
seu secretário, na empresa Pedro Machado S/A, durante 10 anos (1950/1960). E no
Rotary, em que ele exerceu várias funções, eu era seu secretário executivo.
Deputado José Pinheiro Machado |
Vou lembrar o que eu
disse à aluna:
- José Pinheiro
Machado nasceu em Parnaíba, no dia 25 de novembro de 1918, filho de Pedro
Machado de Moraes e Maria de Lourdes Pinheiro Machado (Dona Lurdinha). Seus
estudos iniciais foram em Parnaíba, depois em capitais do país e nos Estados
Unidos.
Voltando a Parnaíba,
casou-se com Dinah Freitas Diniz Machado, tendo quatro filhos: Renato, Daina,
Cynthia e Ivana.
Diretor da firma
comercial de seu pai, muito operosa e atuante na época, ele encontrava tempo
para prestar serviços à cidade, fundando e dirigindo entidades e participando
de campanhas sociais e filantrópicas.
Algumas de suas
atividades:
- vereador em dois
mandatos e presidente da câmara municipal
- vice-presidente da
Companhia de Luz e Força de Parnaíba
- diretor da
Telefones Norte do Piauí S/A
- presidente da
Águas e Esgotos do Piauí S/A
- diretor da
Associação Comercial de Parnaíba
- fundador da
Sociedade Dramática de Parnaíba
- fundador e
primeiro presidente do Igara Clube
- fundador do
Instituto Cultural Brasil/Estados Unidos
- fundador e
professor da Faculdade de Administração de Parnaíba
- rotariano, foi
presidente, governador e conselheiro internacional
- deputado federal
em três mandatos consecutivos, foi membro efetivo da comissão de relações
exteriores, das comissões de economia e do Polígonos da Seca e 3º secretário da
câmara dos deputados.
Busto do Ilustre parnaibano, Deputado Federal José Pinheiro Machado, em frente ao terminal rodoviário de Parnaíba (Foto: Darklise Albuquerque/Jornal da Parnaíba) |
Terminei a
explicação e a aluna que continuava atenta, agradeceu satisfeita.
José Pinheiro
Machado era, pra mim, um chefe, um amigo, um mestre. Tínhamos um relacionamento
altamente salutar no trabalho, na sociedade, na família.
Eu iniciava no
jornal, rádio, e ele me ouvia, me lia, e emitia opiniões, sugestões, e vez por
outra, me dava noticias. Para quem estava iniciando, era, mais que um estimulo,
uma força muito grande.
Até as músicas
características do meu programa radiofônico ele escolhia. E me dava os discos.
A primeira que escolheu, lembro bem, foi “Tea for Two”. Esse disco ele me
trouxe dos Estados Unidos.
Mesmo depois que
deixei a firma, ele se comunicava comigo, através de telefonemas, bilhetes e
pessoalmente.
Quando ia assumir a
câmara federal, pela primeira vez, quis me levar para Brasília. Eu de bobo,
bobão, não fui. Apesar de gostar muito dele, gostava mais de minha mãe, que não
iria em hipótese alguma. E gostava, também, e continuo gostando, e muito de
Parnaíba. Não estou arrependido.
Pinheiro Machado |
Visitando a câmara
pela primeira vez, ele me apresentou todos os seus assessores. O principal era
um paulista, de nome Rubem. Ele disse: “Você não quis vir e eu arranjei outro
Rubem, também bom”.
Fazia gosto de ver o
expediente no gabinete do deputado que era secretário, e o seu relacionamento
com os 18 funcionários à sua disposição. Em plena revolução, a mordomia era
grande. Na cantina do gabinete, água mineral, refrigerantes de todas as espécies,
água de coco, biscoitos finos, frutas e o tradicional cafezinho. Só não tinha
mesmo bebidas alcoólicas.
A elegância
predominava. Os homens, todos de paletó e gravata. As moças e as senhoras,
muito bem vestidas, bem penteadas e maquiadas, perfumadas. Até o hálito delas
era cheiroso. Educadas, finas, tratáveis, sorridentes e envolventes.
O deputado, quando
chegava pela manhã, todos se levantavam e ao seu cordial bom dia, respondiam
reverentemente: “Bom dia, senhor deputado. O senhor está bem? Como passou a
noite? E a família”?
Passando para a sua
sala, ele ia cumprimentando, com a mão, um por um.
Era um ambiente
muito bom.
Daqueles de que a
gente gosta.
Gente fina é outra
coisa, diz Elvira Raulino.
Passei vinte dias em
Brasília, e todo dia ia à câmara. O motorista, num carrão oficial toda manhã,
por ordem do deputado, parava em minha porta e nem buzinava, nem chamava.
Quando eu saia dele, após me cumprimentar, abria a porta do carro, depois a
fechava. E perguntava se eu não teria que passar em algum lugar, antes de ir à
câmara.
Educadíssimo.
Na empresa, quando
diretor, jamais chamou atenção de qualquer funcionário. Por qualquer deslize,
mesmo involuntário, seu Corintho esbravejava, seu Pedro não perdoava, seu Oscar
Vaz passava meia hora mostrando o certo, seu Lucimar, chamado por muitos de
“aquele santo”, falava baixinho, reclamando.
Pinheiro Machado não
falava, mas jogava um olhar reprovativo no funcionário faltoso. A turma dizia
que aquele olhar matava qualquer um. Que era pior do que xingamento ou
pancadas.
Educado, fino, nunca
se ouviu um palavrão de sua boca.
Dizia que a língua
portuguesa é tão cheia de palavras bonitas, e porque dizer nomes feios?
Mas um dia, indo
para casa com ele, em seu carro, ao passarmos em frente o Grupo Escolar Miranda
Osório. À época Ginásio Parnaibano, um estudante pulou do muro, pisando no
calçamento Pinheiro Machado se assustou e, motorista de primeira que era
(acostumado a dirigir nos Estados Unidos), conseguiu não atingir o garoto,
freando o carro quase em cima dele.
O garoto saiu
correndo e Pinheiro Machado, refeito do susto e olhando para ele, que já ia
longe, num ímpeto de desabafo, disse em voz alta: “Filho da p...”.
Eu, que nunca tinha
ouvido semelhante frase de sua parte, também refeito do susto, desatei a rir.
Ele me olhou, um
tanto encabulado.
Atencioso, até
afetivo, para comigo, toda vez que viajava para fora do Brasil, fosse para a
empresa, de recreio, do Rotary ou da câmara, me mandava cartões postais e
quando chegava me trazia presentes.
Gravatas, giletes,
relógios, perfumes e até um simples souvenir. O certo é que não esquecia.
Gostava de agradar.
O Distrito 449,
agora 4490, era o maior do mundo, em extensão territorial, abrangendo os
estados do Ceará, Piauí, Maranhão, Pará, Amazonas e os territórios do Amapá,
Acre e Rondônia, num total de 4.308.983 quilômetros quadrados.
O Distrito, entregue
a “medalhões” (homens ricos velhos e cansados), estava abandonado, liquidado,
atrasado. Praticamente sem funcionar.
O governador
parnaibano depressa o soergueu. Fez reeditar a carta mensal, pôs em dia a
correspondência, os pagamentos. O intercâmbio voltou a funcionar. A direção
internacional lhe mandou moção de aplausos. O presidente Harold Thomas se
tornou seu amigo pessoal.
Pinheiro Machado
visitou, como governador, todos os clubes do distrito, espalhados em 27 cidades
e capitais, foi um trabalho árduo, mas gratificante. Quando podia, eu ia com
ele, como no caso da X Conferência do Distrito, em São Luis do Maranhão, no ano
de 1960.
Seu Pedro Machado
tinha raiva quando via a mesa dele cheia de papéis do Rotary, cartas, boletins,
telegramas, impressos outros que chegavam todo dia. Era muito. Tinha raiva, mas
não queria desgostar o filho querido, o mais querido, e seu sócio.
E eu quem pagava o
pato.
Ele, na ausência de
Pinheiro Machado, olhava a sua mesa, com um monte de papéis e dizia:
- “Diabo de tanto
papel é esse? (e passava a mão na cabeça, na careca).
“Rasga isso, menino.
Isso não dá dinheiro, só trabalho e despesa”.
Mas com todo esse
trabalho, os encargos e os afazeres na empresa não atrasavam e nem eram
prejudicados. Para o Rotary, trabalhava, ele e eu, à noite, às vezes entrando
pela madrugada. No escritório ou em sua residência. Vez por outra trabalhávamos
no sábado e no domingo.
O desembargador
Salmon Lustosa Nogueira me deu, certa vez, parabéns, porque soube que Pinheiro
Machado fizera um importante trabalho na governadoria do Rotary e que eu era o
seu braço direito, dividindo os louros do governador comigo.
Depois que deixei a
empresa e ele também, para ser deputado, a amizade continuou. Jornalista,
qualquer escrito que fazia para os jornais daqui, com um bilhete, dizendo no
final: “Ponha as vírgulas e os acentos, você que gosta tanto disso”.
Eu, brincando, lhe
dizia: “Quem gosta é a gramática e eu a obedeço fielmente”.
Eu e o Dr. Alcenor
Candeira.
Num desses bilhetes,
Darcy Nóbrega de Oliveira, minha colega de trabalho, viu no final; “Do sempre
amigo”.
Estranhou e disse:
“Ele não devia dizer isso”.
Eu: “Por que”?
Ela? “Porque rico
não é amigo de pobre”.
E quem lhe disse que
eu sou pobre?
Pobre é o cão.
E o governador Mão
Santa diz muito isso, quando dizem que o Piauí é um estado pobre.
Por Rubem da Pascoa Freitas | Jornal da Parnaíba
2 comentários:
Tem notícias de sua filha Daina? Minha mãe era amiga de infância e tem muita vontade de reve-la
Ela mora na Asa Sul, tem 71 anos está bem.
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