Ranulpho Torres Raposo nasceu aos 28 dias de maio de 1900 na cidade de
Miguel Alves, estado do Piauí. Seus genitores [foram] Gustavo de Pinho Raposo e
Dona Anália Torres Raposo, que tiveram cinco filhos, sendo o segundo filho do
casal.
Ranulpho Torres Raposo foi proprietário e Editor do Almanaque da Parnaíba que passou a publicar anualmente uma edição a partir de 1941 |
Em 1904 sua família se transferiu para a cidade de Parnaíba, onde
residiu até 1916 e onde fez o primário com sua tia Bibi Raposo. Neste mesmo
ano, movido pela transferência de sua família, retornou a Miguel Alves, [sua
terra Natal]. Em 1917, Ranulpho se transferiu para a capital, Teresina, a fim
de cursar o ginásio, matriculando-se no Liceu [Piauiense]. Distante da família
e carente de dinheiro para arcar com algumas despesas empregou-se numa
tipografia, onde, lidando com os jornais, revistas e outros impressos, floriu o
seu amor pela literatura, jornalismo, vindo, tempos depois, com o espírito
idealista, [a] fundar, naquela capital, vários grêmios literários,
sobressaltando-se o “Cenáculo Piauiense” e lítero-dramático, como o “Jonas da
Silva”.
Em 1918, aos dozes dias do mês de setembro, se deu o seu enlace
matrimonial com a Srta. Benedita do Rego Torres, sua prima legítima, na casa de
residência do capitão Torquato Torres, realizado pelo meritíssimo juiz
distrital em exercício, Tenente-Coronel José Franco de Carvalho, o que o fez
abandonar os estudos, pois agora devia, mas do que nunca, trabalhar com esforços
para o lar recém-constituído, uma vez que se tornara chefe de família.
Sede do Serviço Social do Comércio |
Retorna Ranulpho em 1921 a Parnaíba com objetivos de abraçar a arte de
comercializar, tino comercial que revelou desde cedo. E seu primeiro comércio
foi uma quitanda cujo sucesso, dado seu esforço e o gosto de trabalhar, atingiu
suas expectativas, conseguindo fazer várias economias, o que o possibilitou,
juntamente com um amigo, fundar uma casa comercial que se chamou “Torres &
Branco”. Tempos depois, foi desfeita a sociedade, e Ranulpho comprou a parte
que cabia ao seu sócio, fundando a firma Individual Ranulpho Torres Raposo. que
foi instalada na Rua Grande, atualmente Av. Presidente Getúlio Vargas, que
viria a ser uma das mais conceituadas e de alto gabarito. Já desde o ano de
1925 que Ranulpho se interessava pelo ramo de representações, conseguindo,
inclusive, representar, em Parnaíba, firmas estrangeiras como a Ford. Dado seu
caráter integro e probo de trabalhar, Ranulpho conseguiu com suas economias
obtidas no estabelecimento comercial e das comissões oriundas, a que fez jus,
das vendas que realizou para representados, montar em Teresina e Fortaleza
filiais com os mesmos objetivos da matriz, além de uma gráfica naquela capital
cearense.
Ranulpho amava o jornalismo, tanto que se associou ao sindicato dos
jornalistas do Piauí, militado em Teresina e Parnaíba. Legou aos pesquisadores
os livretos de sua autoria “A Bacia do Parnaíba” e a ”Navegabilidade do
Parnaíba”, além de outro, “Lar Paterno”. Desde moço foi um admirador das
letras, e para cultivá-las conseguiu os direitos autorais para editar o
Almanaque da Parnaíba, passando a ser seu proprietário e Editor em 1941,
legando à Parnaíba, anualmente, uma edição, onde se publicam trabalhos
intelectuais dos mas renomeados poetas, prosadores e romancistas brasileiros. O
Almanaque, sob a sua direção, procurou sempre propagar as belezas de nossa
cidade e do Piauí, bem como dados estatísticos. “Ele não teve estudos que o
levassem à categoria de homem de cultura... Mas gostava de boas leituras de
bons companheiros se de trabalho. Além de envolver temas comerciais, tomando
parte em congressos dessa natureza, ainda mais como presidente de entidade
comercial, quando era preciso desenvolver assuntos de oportunidade em
admiráveis orações, como se fora homem de letras”.
Palácio do Comércio construído na gestão de Ranulpho Torres Raposo |
Imbuído do espírito sócio comunicativo, sempre figurou no rol dos
fundadores de sociedades parnaibanas de renome. Foi um dos fundadores do Rotary
Clube de Paraíba, fundação essa que se deu em 02 de dezembro de 1938, chegando
a ser seu secretário e duas vezes seu presidente. Com o afã de legar a
Parnaíba, cidade que amava com ardor, procurou, juntamente com outros amigos
empresários, fundar uma federação do comércio, pois, até então, funcionava em
Teresina, através de uma delegacia do comércio piauiense. Dada sua persistência
e influência no meio politico e empresarial nacional, [conseguiu] o objetivo
[a] que tanto sonhava, a criação em Parnaíba do Regional de Comércio Piauiense,
a 19 de novembro de 1954, sendo ele seu primeiro presidente, cargo esse que
ocupou até 1980. Durante os vinte e seis anos que esteve à frente do SESC
construíram-se valiosos prédios onde hoje se ostenta essa entidade na capital
piauiense, em Floriano e em Parnaíba. Edificou ainda nestas três cidades
centros recreativo-esportivos, para que os comerciários pudessem, nas suas
horas de folga, gozar deste lazer.
Ranulpho Torres Raposo foi presidente da Associação Comercial de Parnaíba por 20 anos. |
“Não fora a sua intransigência, a sua combatividade, o seu amor a
terra, a sua dedicação aos amigos, jamais a sede do Serviço Social do Comércio,
neste estado, seria na cidade de Parnaíba. O que, ao contrário, em exceção a
todos os estados brasileiros, a sede é a capital do estado. Mas há inclusive,
por essa tenacidade brutal e agressiva, como só o nordestino da sua têmpora
pode ter o SESC aqui está se espraiando pelo sertão, chegando até à capital,
Teresina. E lá também, está a mão e a tenacidade de Ranulpho Torres Raposo,
porque ele aliou, se irmanou, dentro do seu coração, as duas cidades: a sua
querida Parnaíba, e a capital do seu estado”... (Sen. Jessé Pinto Freire –
Pres. do CNC). Os membros dos conselhos nacionais do comércio, reconhecendo a
grande importância dos trabalhos por ele efetuados neste estado, bem como o seu
caráter de sempre trabalhar em prol da entidade, da comunidade, elegeram-no seu
vice-presidente. Foi ainda fundador da Federação do Comércio Atacadista, e seu
presidente.
No dia 18 de janeiro de 1951, Ranulpho assumiu a presidência da
Associação Comercial de Parnaíba, cargo que ocupou até 1971, quando por vontade
própria renunciou o cargo de presidente. Neste ínterim concluiu as obras
restantes do Palácio do Comércio, sede dessa entidade, onde funcionaria o
Palace Hotel, o melhor da cidade. No desejo de ver sua cidade engalanada com
prédios de valores relevantes, propôs aos demais membros a construção de outro
prédio em conjunto ao já erguido, onde iria funcionar outro hotel mais alinhado
e um cinema, obra que não pôde concluir em virtude de seu afastamento, mas que
anos depois, viria a ser terminada com a participação do governo estadual. Porém
cabe-se ressaltar que ele deixou [a obra] bastante avançada e com os
compartimentos já erguidos e divididos, faltando apenas a parte final da
construção, com os estoques.
Em virtude da sua maneira de administrar racionalmente, voltado para a
exposição da associação ou entidade que estivesse à frente, foi convidado a
presidir a Companhia de Luz e Força de Parnaíba, o que fez por duas vezes, num
total de oito anos, deixando nos cofres daquela repartição capital suficiente
para grandes empreendimentos que tivessem em vista.
Desejoso de ver sua cidade possuidora de mais uma agência bancária,
usufruindo de seu prestígio no meio social brasileiro, conseguiu junto à
agência central do Banco Real S/A, a implantação de uma agência dessa entidade
creditícia em Parnaíba.
Reconhecendo a relevância dos trabalhos por ele prestados a Parnaíba,
trabalhos estes que não poderão ser esquecidos pelos parnaibanos, a Câmara
Municipal de Parnaíba, através da Lei 917, concede-lhe o título de cidadania
parnaibana, no dia 18 de novembro de 1975.
Desde a fundação do Banco do Nordeste do Brasil em 1953, participou do
conselho fiscal dessa entidade. Durante muitos ano fez parte ainda do conselho
fiscal do Banco da Parnaíba, deixando esse cargo por livre iniciativa em 1970,
quando através de carta pediu a sua demissão. Era membro efetivo do conselho
fiscal do N.A.G. atualmente CEAG, junto a Banco do Estado do Piauí. Contando já
com 80 anos, Ranulpho ainda exercia a maior parte desses cargos, ocupando ainda
cargo de titular da sua firma individual que, em maio de 1980, foi transformada
em Cia Ltda, mas tendo à frente sua esposa como principal sócia e responsável
pela administração geral da firma, atividade essa desenvolvida até a primeira
quinzena de setembro, quando por solicitação do seu médico viajou para
Fortaleza com objetivo de fazer alguns exames e repousar alguns dias,
melhorando consideravelmente sua saúde, que vinha um pouco abalada pela angina.
No dia 23 deste mesmo mês, Ranulpho falece em Fortaleza, às dez horas da manhã,
sendo seu corpo trasladado na parte da tarde para sua residência em Parnaíba,
chegando às 17:00 num avião do Banco do Nordeste do Brasil S/A. Todos os
empresários locais e amigos chegados à sua pessoa ficaram sobressaltados com a
infausta noticia de seu passamento. A maioria dos colégios cerraram suas portas
para que seus alunos pudessem, numa última homenagem, dizer adeus àquele homem
que seria um exemplo de vivacidade e honestidade; aquele homem possuidor de um
caráter íntegro, probo, sempre voltado para o engrandecimento da terra que o
acolheu e escolheu como morada.
No dia 24 de setembro, o comércio local só abriu suas portas, bem como
o Banco da Parnaíba S/A e Banco do Estado do Piauí, às nove horas, pois todos
os seus funcionários, os alunos da Escola União Caixeral e vários vultos
relevantes do meio político, empresarial e social deveram a Ranulpho a sua
última morada.
Comunicado n o 618, de 07/04/18
Personalidades de Parnaíba
Elaborado por Rayana de Sousa Silva, aluna do Curso de Administração da
Universidade Federal do Piauí, campus Ministro Reis Velloso
Revisado pelo prof. MSc. Moacyr Ferraz do Lago∴
Referências: ALMANAQUE da Parnaíba, 60ª edição, ano 1985. Anuário de
Informação, Estudo e Ficção. Almanaque da Parnaíba, ano 1962.
SOUSA, C. F. C., pesquisador, historiador, membro do Instituto
Histórico e 2º diretor do patrimônio. Instituto Histórico Geográfico e
Genealógico de Parnaíba.
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