Sindicato dos delegados diz que segurança passa por um momento de caos e descaso no Piauí.
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Presidente do Sindicato dos Delegados da Polícia Civil Andrea Magalhães
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O Sindicato dos Delegados de Polícia Civil
(Sindepol) divulgou uma carta aberta denunciando a situação da segurança no
Piauí. Para o sindicato, o momento é de caos e descaso.
De acordo com a nota, os delegados da cidade de
Picos estão acumulando funções sendo obrigados a responder, cada um, por um
distrito da cidade em expediente diário com plantões na Central de Flagrantes,
e, ainda assim, ficam responsáveis por mais cinco cidades. Ou seja, os
delegados estão trabalhando os sete dias da semana sem direito a folgas.
A categoria afirmou que providências serão tomadas
junto ao Ministério Público Estadual e Federal para evitar o agravamento do
caos na segurança.
Confira a nota na íntegra:
CARTA ABERTA À SOCIEDADE PIAUIENSE
O Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do
Estado do Piauí vem, por meio desta, mais uma vez, informar e denunciar a
situação caótica da Segurança Pública do Estado do Piauí, a qual vive à sombra
da ilegalidade e do descaso e, para tanto, daremos, como exemplo, a cidade de
Picos, ao sul do Estado.
Como é sabido, não há no Estado do Piauí lei
prevendo acumulação de cidades, delegacias ou funções por parte dos Delegados
de Polícia. Todavia, mesmo sem essa previsão legal, quatro Delegados de Picos
são obrigados a responder, cada um, por um distrito da cidade em regime de
expediente diário, cumprir plantões na central de flagrantes e, ainda assim,
cumular mais cinco cidades, sem o devido custeio antecipado para deslocamentos
e despesas necessárias.
Tal situação, além de ilegal, é de impossível
cumprimento. Atente-se que fere de morte a carga horária estatutária da Polícia
Civil, a qual estabelece 44 horas semanais, a serem dadas em regime de plantão
ou de expediente, nunca concomitantemente, em caráter perpétuo, ininterrupto,
sem descanso, como está sendo feito.
Trata-se de um verdadeiro regime de escravidão, no
qual a autoridade policial é constrangida a trabalhar os sete dias da semana,
além de, nesse intervalo, dar plantões sem o gozo de folgas correspondentes,
estando assim o Estado se locupletando ilicitamente, pois um único servidor é
compelido a executar o serviço de vários, sendo, inclusive, o Ente Estatal
passível de ser duplamente responsabilizado pelos prejudicados, sendo eles os
delegados e a população.
Ainda na égide do abandono, diante da escassez
total de recursos humanos e estruturais e, novamente, diante de ausência de
previsão em lei, a função de Delegado Regional de Picos, que só existe de fato
e não de direito, foi entregue, pelo delegado designado, à Delegacia Geral de
Polícia Civil, fato este recomendando por este sindicato e que deverá ser
seguido por vários outros que exercem tal função.
Ainda no município em pauta, em visita recente,
como Presidente do SINDEPOL, constatamos, in loco, que a Central de Flagrantes
abriga em média uma população carcerária de 28 (vinte e oito) presos, em dois
cubículos que chamam de celas, as quais são totalmente inadequadas, novamente,
ao arrepio da lei, cito das Execuções Penais, isso sem considerar o flagrante
desvio da função policial civil, que não tem como atribuição constitucional a
custódia de presos.
Nesse viés, a Secretaria de Justiça justifica uma
reforma na estrutura física do prédio do presídio, mas indagamos o porquê de os
gestores não planejarem adequadamente suas ações, pois, no caso em questão, era
previsível que os presos iriam de, maneira ilegal, lotar a delegacia.
Demonstrou-se assim total falta de respeito às
leis, funções, instituições e, principalmente, à comunidade, haja vista que a
central de flagrantes é localizada em área residencial.
Somado a todo esse caos, temos o gravame da falta
de efetivo, não só de delegados, como de agentes, peritos e escrivães.
Frise-se a responsabilidade da atual gestão que
agravou a situação quando promoveu, nos últimos dois anos, cerca de dez
remoções ilegais, em que policiais que deveriam estar exercendo suas funções em
tal Comarca, sem nenhum critério, foram removidos sem a devida reposição,
desguarnecendo assim tais unidades policiais.
Salientamos que, se o Estado possui necessidades,
tem, antes de tudo, de pautar-se na lei, sendo uma vergonha obrigar seus
servidores a agir de maneira contrária a mesma, fazendo uso constante de
verdadeiras “gambiarras” ilegais, pautadas no improviso, no desmando e no
autoritarismo, realçando que não aceitaremos mais esses arranjos usados para
suprir essas lacunas instransponíveis, deixadas pelo Ente Estatal.
O governo é ciente, mas permanece omisso,
insistindo apenas em propagandas pirotécnicas e estatísticas questionáveis,
tentando ludibriar a população, mas não convencem o cidadão que vive a
realidade do aumento da criminalidade diariamente e, quando necessita da
instituição policial, constata a precária situação em que padece a Polícia
Civil, de efetivo e de estrutura.
Finalmente, como já citamos, sabemos que o
principal prejudicado é o povo piauiense, razão pela qual o SINDEPOL adotará as
providências necessárias junto ao Ministério Público Estadual e Federal, sendo
que o governo do Estado do Piauí será acionado judicialmente para responder por
tamanhos maus tratos à sociedade piauiense.
Teresina, 4 de maio de 2017.
Jornal da Parnaíba com informações do Portal AZ
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