O calendário cultural parnaibano inclui entre seus
principais eventos, o carnaval (desfile de escolas de samba e blocos) e as
festas juninas (Arraial São João da Parnaíba). Em ambos, a Prefeitura Municipal
estimula e patrocina uma competição entre os diversos grupos culturais da
cidade que se inscrevem para concorrer a uma atraente premiação em dinheiro.
Esse estímulo à busca dos prêmios provoca uma maior participação e mais
investimento, tornando os eventos mais encantadores.
Enquanto política pública, a iniciativa da
prefeitura ganha importância porque transcende à simples culminância das
festividades. Os grupos culturais que se envolvem no calendário fazem um
trabalho social que nem mesmo a prefeitura tem a dimensão, ou pelo menos não se
tem notícia de que haja uma valorização neste aspecto ao ponto de acompanhar os
ganhos sociais que chegam aos jovens envolvidos na atividade cultural. Em um
mundo onde a falta de oportunidade e apoio à juventude, a arte e a cultura,
ganham um papel preponderante na inclusão social, sendo instrumento de mudança
de atitudes e comportamentos que podem elevar a qualidade de vida das pessoas.
Será que a administração municipal tem a clareza de que mergulhar na reflexão
das ações ligadas à área cultural e artística podem contribuir para a inclusão
das pessoas que vivem praticamente à margem da sociedade? Cabe também
indagar: que tipo de diálogo é travado entre o poder público e os grupos
culturais da cidade?
O que não se concebe do ponto de vista do
planejamento orçamentário e financeiro é que há anos o drama se repete. Pois,
se demanda um investimento razoável para produzir uma apresentação na qualidade
da que se vê aqui: boi, quadrilha ou mesmo bloco de carnaval. Sem caixa e sem
apoio, os abnegados que fazem os grupos culturais recorrem ao comércio local
que fornece o necessário para a produção com o compromisso de receber depois.
Como já está “estabelecido” que a prefeitura vai atrasar a premiação, o
comércio majora seus preços conforme o atraso. Existem registros de que alguns
recorrem até ao extremo de captar recursos com pagamento de juros abusivos!
A pergunta que não quer calar: por que a prefeitura
não se organiza para pagar as premiações no ato da divulgação do resultado,
como foi assim na administração Paulo Eudes? Alguns vereadores têm feito
reiteradas cobranças da Tribuna da Câmara, sem nenhum sucesso. O prefeito paga
quando quer!
Como prejuízo maior está a desmotivação destes
grupos. Toda a dificuldade humilhante de ter que correr atrás do pagamento após
cada temporada tem reflexo negativo direto: alguns grupos culturais se
manifestaram recentemente afirmando que pretendem encerrar seus trabalhos, pois
não há como produzir arte e cultura com estas condições.
O fomento a essas manifestações deve ser objeto de
mais cuidado. Estamos perdendo o que há de mais importante neste processo: a
participação social. Com um detalhe: a rigor, são as comunidades menos
favorecidas que estão fazendo a grandeza destes eventos que a prefeitura tanto
se vangloria. E o público, carente de opção de entretenimento, comparece
maciçamente a esses eventos. E se eles acabarem?!
O poder público deveria, ainda, prestar a atenção
no fato de que as pessoas se envolvem de tal maneira no grupo cultural
extrapolando para além do fazer do bumba-meu-boi, quadrilha ou bloco
carnavalesco. Nos grupos são disseminados valores como cidadania, solidariedade
e harmonia. Ao modo de cada conhecimento que detêm e muitas vezes sem se dar
conta disso. Aqui poder-se-ia instrumentalizar o enraizamento desses valores
como elementos básicos de convivência e crescimento pessoal, especialmente aos
jovens, cada vez mais vulneráveis às armadilhas que cercam a nossa sociedade
com o olhar complacente das nossas autoridades!
A cultura, apesar deste quadro, sempre está
presente nas comunidades, o que talvez não tenha (e que deveria ser o
questionamento correto) é a fruição (apreço, aproveitamento da arte) e o
fomento artístico nesses setores, e isso é um problema do Poder Público, ele
tem que observar, entender e discutir com as comunidades como é a melhor forma
de suprir essas necessidades de apoio à criação e produção e também como criar
oportunidades para que todos tenham um bom acesso à criação artística e possam
apreciá-la.
Não é possível que uma única iniciativa (pagar e
pagar com atraso) se apresente como “a” política pública municipal de cultura.
Deve-se levar em conta toda a diversidade de ações e linguagens que a Parnaíba
possui! Temos um campo fértil para a produção cultural, necessitamos entender
melhor a nossa dinâmica regional e fomentá-la de forma concreta! Utopia?!
Por Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e
contribuinte parnaibano.
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