Para além de ser uma medida inconstitucional
(violadora do art. 228 da CF e
tantos outros dispositivos que asseguram o tratamento diferenciado do
adolescente que está em fase de desenvolvimento da sua personalidade), a
redução da maioridade penal tende a ser inócua: de 1940 (data do Código
Penal) até março de 2015 o legislador brasileiro reformou nossas leis
penais 156 vezes. Nenhuma reforma legal jamais diminuiu qualquer tipo de crime
no país, a médio ou longo prazo. Se 156 leis penais novas não funcionaram, qual
a base empírica para se acreditar que uma nova lei, justamente a decorrente da
PEC 171 (Proposta de Emenda Constitucional), seria diferente? "Insanidade
é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes"
(Albert Einstein).
Não há dúvida que as leis possuem o efeito mágico
(simbólico) de aplacar a indignação da população irada, que já não suporta mais
tanta insegurança. Mas como as leis não mudam a realidade, em pouco tempo a
população volta com carga redobrada de ira. A desgraça, que emana da
consciência ingênua, típica mas não exclusiva das massas insurgentes, é que ela
e a mídia voltam a pedir a mesma coisa: vão implorar por uma nova lei baixando
a idade penal para 14 anos. Depois, vão demandar nova reforma para atingir os
adolescentes de 12 anos. Ad absurdum, esse raciocínio chegaria à proposta
do aborto generalizado para não nascer mais ninguém. Alguns religiosos mais
radicais talvez recuperem a ideia de que o humano não deve mais fazer sexo.
A Unicef calcula que cerca de 1% dos homicídios são
cometidos (no Brasil) por menores de 16 e 17 anos (O Globo 2/4/15). Isso
significa mais ou menos 600 mortes anuais. Nas outras mais de 59 mil mortes a
polícia investigativa (sucateada) consegue apurar apenas de 5% a 8% dos casos;
92% contam com impunidade imediata. O nosso problema, portanto, reside na falta
de certeza do castigo. Essa seria a bandeira correta a ser levantada,
fazendo-se um ajuste no ECA para,
nos casos de menores assassinos, aumentar o tempo de internação, de três para
seis ou oito anos (como acontece em vários países europeus). Para além desse
ajuste legal, a solução da criminalidade exige educação de qualidade em período
integral, para todos, prevenção e certeza do castigo previsto na lei. Nada
dessas coisas certas fazemos no Brasil. Teimamos em fazer o errado. Por isso
que é insanidade esperar resultados diferentes. Com 150 milhões de analfabetos
funcionais ainda vamos demorar muito para alcançar a consciência crítica. A
redução da maioridade penal como solução de um problema social é a exploração
do humano de consciência ingênua pelo humano demagogo.
Edição Jornal da
Parnaíba
Artigo do Jurista e Professor Luiz Flávio Gomes

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