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Fernando Gomes |
Assim como outras cidades brasileiras, Parnaíba também
se apresenta como cenário de forte segregação social, marcada pela desigualdade
econômica. Este panorama pode ser percebido, tanto no centro urbano como na
periferia, quando vemos diversas famílias em condições insalubres de moradia,
sem saúde, sem educação, sem trabalho e quase sempre em locais sem
regularização fundiária. Para ilustrar este caso falarei do Parque José Estevão
uma comunidade pobre que se formou nas proximidades do lixão...
Passadas algumas décadas de sua fundação boa parte
de seus moradores ainda vivem em condições sub-humanas. Lá se reflete o pleno descaso
do poder público: a incapacidade de assegurar condições mínimas de habitação
digna e de ofertar os serviços públicos básicos àquela população sofrida.
Lá eles estão sem escola, posto de saúde, creche,
praça, igreja, quadra de esportes, sem ruas pavimentadas e uma grande parcela
ainda sem acesso a água potável, iluminação pública e com escassez de alimentos.
Disto, os problemas decorrentes avançam sobre o território desassistido. Depois
de estabelecida a lei imposta pela desigualdade sobra: convulsão social.
Explode a violência por toda a cidade. Vem dos guetos o fornecimento do capital
social do crime. Só pra lembrar: ninguém nasce para ser bandido, isso é uma
invenção da sociedade em razão do processo econômico concentrador e excludente.
E da má gestão!
A atual paisagem do Parque José Estevão está tomada
pela pobreza. Melhor: pela incapacidade crônica dos diversos governos de darem
um fim à pobreza ou, no mínimo, de implementarem políticas voltadas para a
atenuação ou a eliminação gradual desta chaga. Seja pelas dificuldades que
impõe ao processamento político das demandas, seja pela marginalização a que
condena boa parte da população, a reprodução desse quadro cria um ambiente
estruturalmente tenso e "ingovernável", pouco favorável à prática
democrática institucionalizada e ao desempenho estável dos governos. Ali está o
“desgoverno”...
A pobreza está ainda sobredeterminada pelo fato de
que, apesar do arco dos últimos dez anos sob uma “administração proba e
competente” não se soube lidar com as questões básicas da vida das pessoas!
A rede de proteção social promovida pelo governo
federal através dos programas de transferência de renda ainda estão longe de
ser a solução. O “Bolsa Família” maior promotor da renda no bairro não passa de
um paliativo que ameniza a fome de muitos ali. Falta uma política de
emancipação, um programa de governo que tire as pessoas da condição miserável
de dependência de um recurso que sequer dá para adquirir uma alimentação em
quantidade e qualidade desejável a uma boa saúde humana.
A ajuda do governo é salvadora em certa medida, mas
mantém o ciclo da dependência. Nesse sentido a ação governamental não é vista
como consequência econômica, social e política da desigualdade social e das
precárias condições de trabalho, mas como um comportamento pragmático, no campo
do emergencial e providencial. Nesta perspectiva, a atenção à pobreza é vista
como controladora das tensões sociais, não como um serviço estatal para assegurar
direitos aos desassistidos. Nada mais que isso!
Para piorar: a droga se instala primeiro que o
poder público. Aí a degradação social é voraz. Violência, promiscuidade e fome
são percebidas em toda a extensão territorial do bairro. A presença do poder
público se dá notadamente em duas situações, pela ida do SAMU ou da viatura da
Polícia Militar.
Tá na cara que cada vez mais a cidade vai pagar
pela falta de investimentos na tentativa de reduzir as desigualdades
sociais. Quanto custa cuidar das
pessoas, especialmente as desprotegidas? Quanto custa uma vida de um(a) jovem
interrompida pela violência? A mudança deste cenário só virá com uma profunda
reforma na cidade, uma reforma séria, comprometida e fundamentada em princípios
éticos e morais.
Ao invés de distribuir graciosas portarias por que
não promover o bem estar social???
Na semana passada estive lá conversando com algumas
pessoas. Triste, constatei que, apesar das dificuldades que eles enfrentam, as
reclamações são tímidas e quase sempre difíceis de conquistar. A humildade e a
falta de percepção dos seus direitos encobrem a generalizada inoperância do
poder público.
Nem mesmo a universalização do Programa de Agentes
Comunitários de Saúde está ali. Este programa que teria a possibilidade de
aliviar o sofrimento daquelas pobres pessoas não passa de mais um discurso
proferido na época da campanha. O Parque é uma das áreas que continua sem
cobertura do PACS.
Constata-se também a ausência da Secretaria de
Desenvolvimento Social e Cidadania – SEDESC cujo governo se orgulha de dizer
que “substituiu o assistencialismo pela ação social” (?). É flagrante a omissão
na implantação e gerenciamento de uma política pública de assistência social.
Tão necessária lá!
O que tem então no Parque José Estevão? – Descaso.
Pessoas invisíveis ao poder público!!!
Por Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e
contribuinte parnaibano.
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