No Dia Internacional da Mulher, apesar dos avanços
nas lutas travadas por melhores políticas públicas e legislativas em favor
delas, em termos de resultados práticos (preventivos) as comemorações são
pífias (porque continuam aumentando os homicídios contra as pessoas do sexo
feminino). Na violência em geral, mas particularmente na violência contra as
mulheres (misoginia = ódio contra as mulheres), ocorre o fenômeno da desumanização,
que se desenvolve em várias etapas: primeiro o distanciamento ou a indiferença
frente a tais vítimas; depois despontam as diferenças, que as caracteriza como
distintas ou estranhas; em seguida elas são percebidas como indesejáveis ou
inimigas e, por fim, como não humanos (como não pessoas). Chegados a esse
ponto, os "outros" (no caso, as "outras") não mais são
consideradas como humanos dotados de direitos (daí a mutilação, a tortura ou
mesmo o extermínio, sem nenhum sentimento de culpa).
Assassinatos de mulheres no Brasil
O cenário brasileiro é diametralmente oposto à
cultura do cuidado com o "outro". Aliás, é muito assustador. Uma
mulher é morta a cada hora e a perspectiva é que a violência machista não se
detenha tão cedo (porque não estamos fazendo políticas públicas educativas de
qualidade). Em 2012 ocorreram 4.719 mortes de mulheres por meios violentos no
Brasil, ou seja, 4,7 mortes para cada grupo de 100 mil mulheres. Entre 1996 e
2012 houve um crescimento de 28% nesses óbitos. Na década 2002-2012 o
crescimento foi de 22.5%; em 2002 constatou-se 3.860 mortes, contra 4.719
em 2012. Portanto, para esta década, a média de crescimento anual de homicídios
foi de 1,93%.
Cerca de 49% das mortes foram causadas por armas de
fogo, outros 34% por objetos perfuro-cortantes, 7% foram vítimas de
estrangulamento ou sufocação, 2% vieram óbito depois de uma agressão por meio
de força corporal e 1% foi vitimada através de fumaça ou chamas.
O Espírito Santo foi, em 2012, o mais violento
Estado para as mulheres, com 8,9 mortes para cada grupo de 100 mil mulheres,
seguido de Alagoas (8,1) e Goiás (7,9).
Para enfrentar essa tragédia nacional, no dia 3 de
março de 2015 foi aprovada na Câmara dos Deputados a lei que considera o
assassinato de mulher por razões de gênero (feminicídio) em homicídio
qualificado e crime hediondo. Há violência de gênero, diz o projeto, quando existir
violência doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação à condição da
mulher.
Assédio e ataques às mulheres
A Thomson Reuters Foundation divulgou em novembro
um ranking das cidades mais perigosas para as mulheres transitarem, entre as 15
maiores cidades do mundo mais Nova York. As cidades latino-americanas mostraram
que têm os sistemas de transporte mais perigosos para as mulheres. Bogotá,
capital da Colômbia, que não tem um sistema de trem da cidade, mas uma rede de
autocarros vermelhos, foi considerada a cidade com o transporte público mais
inseguro. Bogotá foi seguida de Cidade do México, Lima e Nova Delhi. A
pesquisa, com mais de 6.550 mulheres especialistas e em estudos de gênero,
classificou Moscou como a pior capital europeia, chegando em nono lugar na
lista, com as mulheres sem a confiança de que as autoridades iriam investigar
denúncias de abuso. As seis questões abordadas pelos entrevistadores versava
sobre os transportes públicos: viagens noturnas; os riscos de ser verbalmente
assediada pelos homens, o risco de ser verbalmente assediado por homens; o
risco de ser agarrada ou sujeita a outras formas de assédio físico; confiança
de que outros passageiros poderiam ajudar uma mulher sendo abusada fisicamente
ou verbalmente; confiança nas autoridades para investigar denúncias de assédio
sexual ou violência; disponibilidade de transporte público seguro.
As cidades mais perigosas para uma mulher transitar
entre as mais populosas e Nova York
O Brasil não foi pesquisado, mas com certeza não
está distante da triste realidade evidenciada na pesquisa.
Por Luiz Flávio Gomes e Alice Bianchini
Da redação do Jornal da
Parnaíba
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