É com esperança que me reporto ao ilibado Conselho
Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB que tem à sua frente o ilustre
piauiense Dr. Marcus Vinícius Furtado Coelho para externar minha indignação quanto
aos políticos que não cumprem os mandatos para os quais são eleitos, e têm uma
visão instrumental dos cargos que ocupam, estando a desrespeitar quem os
elegeu.
Ao rigor do seu significado a indignação é o “sentimento
de desprezo
excitado por uma afronta,
uma ação
vergonhosa,
uma injustiça
frisante”.
Numa democracia, o direito à indignação é sagrado.
Santo Agostinho já
alertava: "A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem. A
indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a
mudá-las".
Aí vem a minha esperança! A esperança de que a OAB
possa apoiar um movimento nacional que apresente a proposição de uma Lei de
Iniciativa Popular que proíba o candidato eleito a ocupar outro cargo público
senão por meio da sua renúncia ao mandato. “A iniciativa popular pode ser
exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de projeto de lei subscrito
por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por
cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um
deles” (art. 61, § 2º, CF).
A proposta se assenta na busca de uma representação
efetiva, devemos exigir em todo o Brasil que o eleito cumpra o seu mandato e se
não o quiser que renuncie. O sujeito bate à nossa porta, orientado muitas vezes
por um marqueteiro, que vai falar exatamente o que se espera ouvir de um
candidato probo e comprometido, mas ao fim, eleito, ele posta-se de costas para
o eleitor. Segue a sua jornada conforme os interesses pessoais, com raríssimas
exceções. Os políticos, especialmente do Poder Legislativo, que são eleitos
para representar as demandas da população, acabam por ocupar o papel de
despachantes do Executivo que administra os recursos, numa acintosa quebra da
interdependência entre os Poderes.
Assistimos em todos os pós-eleição a dança das
cadeiras dos eleitos, ou seja, candidatos que se registraram a disputa do
pleito por uma agremiação política e depois da eleição mudam descaradamente de
partido. Outro fenômeno que se tem popularizado é o não cumprimento do mandato,
candidatos eleitos são levados a ocupar cargos comissionados, sabe-se
notadamente que não ocorre por questões ideológicas...
Circula na mídia nacional que no início do
calendário legislativo, o Congresso Nacional pautará a reforma política. O
Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral – MCCE, a OAB, a CNBB e outros
organismos de renome podem incorporar esta ideia em suas propostas de defesa da
necessária reformulação do código eleitoral brasileiro.
O que mudaria na vida dos brasileiros se fosse
feita uma reforma política? O assunto vai entrar em pauta e como a sociedade
deve participar para que não sejam “remendadas” as tão desgastadas vestes do
nosso código? O Senado tem uma comissão mista que vem debatendo o assunto desde
2011, e que já estabeleceu 11 prioridades para uma reforma.
O debate é cascudo e parece distante da população
em geral. Dentre as propostas destacam-se: o fim à reeleição, alteração do
mandato de quatro para cinco anos, mudança na forma como os deputados e
vereadores são eleitos, unificação das eleições municipais e nacionais, fim das
coligações nas eleições proporcionais e o final do financiamento de
campanha feito por empresas privadas, que abre brecha para a corrupção.
Insisto em pautar a discussão sobre a proibição de
o candidato eleito vir a ocupar outro cargo público senão por meio da sua
renúncia ao mandato. O que se pretende com esta iniciativa é a
recuperação da intrínseca confluência entre responsabilidades políticas e a
dimensão moral da representação. A representação política não pode separar-se
do compromisso e da inteireza moral exigidos no exercício de cargos e
responsabilidades - sob pena de comprometer a sensibilidade e capacidade de
compartilhar a sorte do povo e buscar, com lucidez profética, a solução de
problemas sociais.
Concluo com uma célebre citação de Dom Walmor
Oliveira de Azevedo, Arcebispo de Belo Horizonte (MG): “A sociedade tem
presenciado e sofrido com experiências nefastas de autoridades que constituídas
pelas eleições representativas não têm, no exercício da autoridade política,
envergadura para isso”.
PFernando Gomes, sociólogo, cidadão, eleitor e
contribuinte parnaibano.
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