Teresina entra para o ranking das 50 cidades mais
violentas do mundo.
A violência epidêmica está em disparada galopante.
Isso ocorre desde 1980, quando tínhamos 11 mortos para cada 100 mil pessoas; em
2012, pulamos para 29 para cada 100 mil habitantes (veja Mapa da Violência).
Tanto os governantes (perdidos na corrupção endêmica, de que a Petrobras e o
metrô de SP são repugnantes exemplos) como outras lideranças nacionais (com
raras exceções, topeiras ideológicos de esquerda ou de direita, liberal ou
conservador, que não conseguem enxergar nada além das suas contas bancárias),
incluindo-se também a sociedade civil (insolidária e fortemente ignorante: ¾
são analfabetos funcionais), continuam com os olhos tapados para a cruenta
realidade (que vem provocando êxodos imensos em vários bairros periféricos dos
grandes centros urbanos). De uma peste leprosa (violência epidêmica) não se
pode esperar boa coisa. A paciência do povo tem limite (ainda que se trate de
um povo amedrontado, conformista e acovardado pelo ambiente hostil). Povo que
parece estar se acostumando com a violência, como se fosse uma lei da natureza.
Em 2011, tínhamos 14 das 50 cidades mais violentas
do planeta; esse número subiu para 15 em 2012 e 16 em 2013 (Maceió, Fortaleza,
João Pessoa, Natal, Salvador, Vitória, São Luís, Belém, Campina Grande,
Goiânia, Cuiabá, Manaus, Recife, Macapá, Belo Horizonte e Aracaju). Em 2014
chegamos a 19 (por ordem crescente de homicídios): João Pessoa, Maceió,
Fortaleza, São Luís, Natal, Vitória, Cuiabá, Salvador, Belém, Teresina,
Goiânia, Recife, Campina Grande, Manaus, Porto Alegre, Aracaju, Belo Horizonte,
Curitiba e Macapá. João Pessoa, agora, das grandes, é a cidade mais violenta do
país. Como se vê, o termômetro da violência no Brasil e na América Latina está
aumentando (conforme os números apresentados pela Organização da Sociedade
Civil mexicana, chamada Consejo Ciudadano para la Seguridad Pública y
la Justicia Penal, que divulgou, em janeiro de 2015, o ranking das 50 cidades
mais violentas do planeta - cidades com mais de 300 mil habitantes).
Saíram da lista de 2014 a seguintes cidades que
apareciam em 2013: Santa Maria (Colômbia), San Juan (Puerto Rico), Maracaibo
(Venezuela) e Puerto Príncipe (Haiti). Em contrapartida, entraram mais três
cidades brasileiras: Teresina, Porto Alegre e Curitiba. A diminuição mais
significativa (de 2013 para 2014) ocorreu na cidade mexicana de Torreón (uma
redução de 49%, passando de 54,24 em 2013 para 27,81 em 2014). Os aumentos mais
expressivos ocorreram na cidade norte-americana de St. Louis (46,27%) e na
cidade salvadorenha de San Salvador (36,79%).
Das 50 cidades do ranking, 19 estão no Brasil
(campeão mundial nesse item), 10 no México, 5 na Colômbia, 4 na Venezuela, 4
nos Estados Unidos, 3 na África do Sul e 2 em Honduras. Com uma cidade temos
El Salvador, Guatemala e Jamaica. A grande maioria das 50 conglomerados urbanos
mais violentos do planeta está no continente americano (47 cidades),
particularmente na América Latina (43 cidades). Recorde-se que a América
Latina foi colonizada pelos espanhois e portugueses dos séculos XVI-XVIII, dois
povos (então) extremamente violentos (ambos saídos das guerras contra os
mouros), corruptos, violadores sexuais, pouco afeitos ao trabalho,
extrativistas, fiscalistas, patrimonialistas, teocráticos e
autoritários-patriarcais (A América Latina de 2015 padeceria ainda desses
pecados capitais originais?)
Não estão incluídos nos assombrosos números citados
os homicídios tentados. As fontes dos dados apresentados são oficiais ou
alternativas (são dados e/ou estimativas verificáveis ou replicáveis).
Considerando-se não apenas o ranking de 2013 senão também os dos anos anteriores,
o caso de maior redução no número de homicídios foi o de Medelín, na Colômbia
(que promoveu uma das mais revolucionárias políticas sociais e preventivas das
últimas décadas): essa comunidade, que chegou a registrar taxas de 400
homicídios por 100 mil habitantes, em 2010 ocupou a décima posição no ranking
com uma taxa de 82,62 homicídios por cada 100 mil habitantes; em 2014 caiu para
a posição 49 com uma taxa de 26,91 homicídios por cada 100 mil habitantes. Ou
seja, ao longo de 4 anos, a taxa diminuiu 67%. O relatório afirma que, se essa
tendência se mantiver, é quase certo que, em 2015, Medelín sairá da lista.
Existe solução para o problema? No Brasil, as
autoridades encarregadas da segurança pública continuam, em termos preventivos,
com o discurso verborrágico nefasto da aprovação de novas leis penais mais
duras e encarceramento massivo aloprado (sem critérios de justiça: muitos não
violentos estão na cadeia, enquanto milhares de violentos estão nas ruas).
Foram editadas 154 leis penais de 1940 a 2014; somos o 3º país do mundo em
superlotação carcerária (mais de 700 mil reclusos, incluindo a prisão
domiciliar). Nada disso diminuiu a criminalidade. Conclusão: praticamos no
Brasil a política criminal mais burra do planeta (e enganosa da população, ávida
para ser vitimizada): gastamos muito com segurança pública (mais de R$ 260
bilhões de reais em 2014, segundo o Fórum da Segurança Pública), sem nenhuma
eficácia preventiva. Reprimimos pouco (é baixíssima a certeza do castigo:
apenas 8% dos homicídios são apurados, conforme o Mapa da Violência) e não
prevenimos nada. Daí o aumento contínuo da criminalidade. A única solução para
a segurança pública é o Brasil (hoje 79º colocado) sair do 2º grupo do IDH
(índice de desenvolvimento humano) e entrar no 1º, que tem a média de 1,8
assassinatos para cada 100 mil pessoas. Vejamos:
Com exceção dos EUA, todos os países que contam com
as 50 cidades mais violentas pertencem ao 2º ou 3º grupo do IDH:
A violência epidêmica nesses países extremamente
desiguais (Gini altíssimo) não acontece por acaso (a relação de causa e efeito
é óbvia). E por que os EUA (5º IDH do mundo) contam com 4 das 50 cidades mais
violentas? Porque é um dos países mais ricos do mundo e, ao mesmo tempo, mais
desiguais do planeta (Gini 0,45). Por que na lista das 50 cidades mais
violentas não aparece nenhuma da Europa? Porque seus países viveram um bom
período de bem-estar social (anos 60/80), elevando a escolarização, a saúde e a
renda per capita da população. Seu Gini médio (Europa) é de 0,30 (ou seja:
baixa desigualdade). Essa é a solução: elevar a escolaridade, a saúde e a renda
per capita da população brasileira (ou seja, o IDH). Fora disso, só resta ficar
enxugando gelo com toalha quente. E ainda ficar enganando a parcela abobalhada
e ignorante da população brasileira, que acredita nas baboseiras e promessas
dos políticos justiceiros assim como de outras lideranças nacionais, atoladas
na corrupção endêmica. * Colaborou Flávia Mestriner Botelho, socióloga e
pesquisadora do Instituto Avante Brasil.
Da redação do Jornal da
Parnaíba
Por Luiz Flávio Gomes
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