O senador Aécio Neves (PSDB-MG) afirmou que não
perdeu a eleição para um partido político, sim, para uma "organização
criminosa" (falou isso sob o calor e o impacto gerado pela estrondosa
corrupção na Petrobra$). O PT seria, então, uma organização criminosa? Aécio
lançou um "factoide" e o PT reagiu com outro, seja porque levou o
tema ao Judiciário, seja porque continua falando em "golpe" e
"terceiro turno". Chegou a hora de pensarmos no Brasil, na nação, nos
seus mais graves e profundos problemas: gestão/governança, corrupção, violência
e desigualdade. A casa está pegando fogo e seus moradores estão discutindo quem
esqueceu o feijão no fogão! O país permanece em clima eleitoral (sublinha Marco
Aurélio Nogueira, Estadão-Aliás 7/12/14): "Os protagonistas das
urnas de 2014 não retocaram a maquiagem. Continuam lambendo as próprias crias e
as próprias feridas, a mastigar a mesma ração insossa que ofereceram aos
eleitores. Nenhuma manobra diferente, nenhuma análise prospectiva, nenhum
realinhamento de forças, nenhuma atitude de grandeza. O diálogo anunciado pela
presidente ficou no terreno protocolar, as oposições nem sequer estão pagando
para influenciar o que virá pela frente. Todos parecem encantados, à espera dos
frutos que virão do escândalo da Petrobras (...) O parafuso espanou e quanto
mais petistas e tucanos insistirem em forçar a chave de fenda maior será o
estrago".
03. Hoje estão operando (no território brasileiro)
quatro grandes organizações criminosas: (1ª) o crime organizado dos poderes
privados, que exploram particularmente a venda de drogas e se caracterizam pelo
uso constante da violência (PCC, PGC, CV, Alcaeda, Narcotráfico dos morros do
RJ etc.); (2ª) o crime organizado das milícias (que exploram favelas e bairros
pobres de muitas cidades); (3ª) o crime (mais ou menos) organizado que emerge
de dentro das bandas podres das polícias (que praticam assassinatos,
desaparecimentos, extorsão, roubos, sequestros e que também morrem amiúde) e
(4ª) o crime organizado multibilionário, composto por poderosos bandidos do
colarinho branco (membros da plutocracia, da política e dos altos escalões administrativos),
que eram chamados (nos EUA) no século XIX de "barões ladrões"; por
meio de fraudes, proteções, monopólios e conluios licitatórios (carteis), como
nos casos da Petrobra$ e do metrô$P, o crime organizado multibilionário está
estruturado sobre a base de uma troyka maligna (partidos, políticos, e outros
agentes públicos + intermediários (brokers) + agentes econômicos e financeiros)
que se unem em Parceria Público/Privada para a Pilhagem do Patrimônio Público
(P6).
04. Os crimes organizados são protagonizados,
evidentemente, por ladrões (cujos escopos consistem em fazer do alheio o
próprio), que se valem da trapaça e do engodo, da corrupção e da violência,
para alcançarem suas vantagens (normalmente econômicas) em prejuízo de
terceiras pessoas ou de toda sociedade. O Estado brasileiro, como um dos
paraísos da cleptocracia, vem provando a experiência de compartilhar suas
funções com as organizações criminosas citadas, que exercem ou comandam várias
das suas funções (ou seja: os ladrões "estão governando" porções
consideráveis do Estado). Vejamos: o crime organizado privado como o PCC
governa os presídios (mais de 90%, conforme Camila Dias, "PCC -
Hegemonia nas Prisões e Monopólio da Violência", Editora Saraiva); as
milícias substituem o Estado prestando ajudas sociais às favelas e aos bairros
pobres; os policiais da banda podre organizada são representantes diretos do
Estado (e governam a segurança pública); por fim, o crime organizado
multibilionário (incluindo o da Petrobra$, do metrô$P etc.) é comandado por
integrantes da plutocracia nacional ou estrangeira (que governa o
Estado por meio do poder do dinheiro das grandes riquezas, que cooptam o poder
político mediante o "financiamento" das caríssimas campanhas
eleitorais, "comprando-o" dessa maneira).
05. O Brasil, como era de se esperar, sendo um dos
mais pujantes paraísos da cleptocracia mundial, não ocupa boa posição no Índice
de Percepção da Corrupção da Transparência Internacional - 69º colocado. Já com
cinco séculos de tradição, não é governado apenas por gente bem intencionada,
senão também por várias organizações criminosas (repita-se: cada uma cumprindo
ou comandando parcelas das funções estatais). No que diz respeito ao papel
desempenhado pelos político$ e partido$ políticos, sabe-se que (a quase
totalidade deles, com raríssimas exceções), desde que foram constituídos (na
época do Império), são useiros e vezeiros no desvio do dinheiro público de seus
fins legítimos (o PT e o PSDB, claro, com seus respectivos mensalões bem como
com os escândalos da Petrobra$ e do metrô$P, dão evidências exuberantes do que
acaba de ser afirmado). É por meio dessas formas criminosas de exercício do
poder que os políticos e os partidos (feitas as ressalvas devidas) forjam os
famosos "fundos de campanha", que pagam os serviços eleitorais, que
arranjam afilhados e asseclas e que remuneram as custosíssimas campanhas
marqueteiras (que transformam os candidatos e os partidos em verdadeira
mercadoria de consumo).
06. É mais que visível, depois de 514 anos, o
desmoronamento de todo nosso edifício social, político e moral, que não passa
de efeito funesto e deplorável do engodo, da corrupção e das maledicências
impingidos a toda sociedade pelos acelerados ladrões, egoístas e gananciosos,
que buscam o lucro com os nossos males, dissabores, misérias e discórdias
(reais e virtuais). O que mais nos causa estupefação, na contemplação deste
desonroso quadro de monstruosidades morais, é ver como que muitos brasileiros
(direta e diariamente afetados pelas nefastas consequências da cleptocracia,
que é uma das formas mais anômalas de democracia) ainda se comprazem em
persistir na sua indiferença e cegueira, como se o horizonte tosco e deletério
desenhado para nosso país fosse decorrência de uma lei implacável e irremovível
da natureza ou algo despejado sobre os ombros dos compatriotas como punição de
um raivoso ser sobrenatural (um daqueles deuses embrutecidos da imaginosa
mitologia grega).
Edição Jornal da Parnaíba
Artigo escrito por Luiz Flávio Gomes
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