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| Fernando Gomes |
A cidade de Parnaíba ainda está mergulhada em
profunda tristeza em razão da tragédia do Porto das Barcas. Episódio triste que
resultou na morte do jovem Mateus Portela, Socorro e Edilson Morais Brito. O
sofrimento e a comoção atingiu toda a cidade, natural e especialmente às
famílias das vítimas.
A tradição católica aliada à fé em um Deus de amor
que sempre acolhe e perdoa, embasa os fiéis cristãos a entrar em oração na
busca de conforto espiritual aos que ficam e a pedir que seja reservado aos
mortos um lugar ao lado dos que partiram desta vida na esperança da
ressurreição.
Tive a oportunidade de participar de momentos de
oração do terço nas casas das duas famílias enlutadas. Dor e emoção afloram a
todo o momento. Ambas sofrem demasiadamente.
A celebração da Santa Missa pela passagem do sétimo
dia é um momento que se espera do representante da Igreja Católica que profira
palavras de esperança, conforto, amor, perdão e fé, como preconiza a própria
manifestação maior no exemplo de Jesus.
No entanto, na celebração na intenção das perdas da
família Morais Brito, ocorrida às 19h do último dia 29 foi marcada pelo
despreparo do celebrante. Quem participou da missa em sufrágio das almas de
Socorro e Edilson Morais Brito ficou estarrecido com a desproporção e
inconveniência da pregação na homilia do Padre Soares. Esperava-se ali celebrar
a esperança.
O Padre não respeitou a dor dos familiares e amigos
ali presentes, tampouco cumpriu o seu papel de levar a mensagem pregada pela
Igreja nestes momentos delicados. Disse que “o autor dos disparos era um desesperado,
estressado, refletindo na atitude de matar as pessoas e tirar a própria vida”.
Complementou: “rezar não salva, não adianta terço, quem comete um erro desses
não tem perdão!”.
O despreparo do Padre Soares precisa ser tolhido,
repudiado. Não bastasse o sofrimento pela trágica perda dos entes queridos, a
família, especialmente os filhos, teve que passar mais uma vez pelo
constrangimento de se publicar o ato triste que culminou com toda esta
tragédia.
O reverendo deixou de cumprir o seu papel, a sua
missão. Exagerou na sua contumaz estultice.
A Santa Sé recomenda aos religiosos que a Igreja
Católica seja sempre acolhimento e perdão. Está escrito: “Deus é Pai, é
misericórdia, ama-nos sempre. Se o procurarmos, Ele acolhe-nos e perdoa-nos. A
jubilosa experiência do filho pródigo que mesmo tendo retornado à casa do
pai por interesses vis e como escravo, foi acolhido e reconstituído na
própria dignidade filial. O sacerdote, enquanto servidor do mistério pascal que
anuncia, celebra e comunica, é chamado a ser confessor e guia
espiritual, como instrumento de Cristo”.
Mas, eis que fui à celebração do sétimo dia de
Mateus Portela, lá vi o bom Pastor dirigir uma cerimônia conforme os costumes e
ensinamentos Cristãos. O Padre Jurandir pregou a paz, o conforto, o sentido que
a vida tem quando da passagem deste plano material à vida eterna.
Pregou que a morte não é uma realidade de
desesperança, mas é um impulso final em direção a Deus. É a porta misteriosa
pela qual todos passaremos rumo àquela luz inacessível onde habita Deus. É a
morte, um breve episódio para que possamos encontrar a certeza da vida eterna,
almejada por todos nós e assegurada pelo nosso Deus.
Falou do ensinamento maior de Jesus Cristo: o amor!
Que os cristãos devem reconhecer a importância dos ensinamentos morais de
Jesus, entre os quais salientam o amor a Deus e ao próximo
(Mateus 22:37-39), e considerar a sua vida como um exemplo a seguir.
Duas marcas diametralmente opostas, de um lado o
bom Pastor e de outro a figura da agressiva incompreensão vomitada por um porta
voz da intolerância, da irrazoabilidade, da marca negativa do lado mais cruel
do ser humano: o desamor! Que as feridas abertas desta tragédia possam
encontrar a sua cura no que proferiu, sabiamente, o Padre Jurandir.
O julgamento do caso e suas motivações não nos
cabem. Imperfeições à parte, o momento exige serenidade, compaixão e
acolhimento a todas as vítimas e seus familiares. Disse Jesus: “Com o critério
com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido,
vos medirão também”.
Da redação do Jornal da Parnaíba
Por Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e
contribuinte parnaibano.


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