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| Antônio de Pádua |
Nesses dias em que se comemora a Semana da
Consciência Negra recordo de três pessoas simples de Parnaíba, bons cidadãos,
que aos olhos de hoje bem que poderiam ilustrar este movimento de
reivindicações coletivas das chamadas minorias e que foram ainda na minha
infância peças importantes de referência. Cada um ao seu tempo e espaço deu a
contribuição necessária pra que o mundo e as suas instituições chegassem ao
momento de hoje. E olhando neste momento suas vidas e dando sentido ao que
fizeram é fácil compreender o papel de cada uma.
Tomásia dos Santos era nossa vizinha da Rua James
Clark, no bairro de Fátima. Mulher de João Batista dos Santos, ele da segunda
geração da dinastia dos negros macaés, região do Testa Branca, onde hoje é o
bairro Catanduvas. Teve uma penca de filhos entre homens e mulheres. Era agregada
da família Bompet, lá de dentro da rua, era assim como se chamava naquele tempo
quem morava no centro, os considerados ricos. Exímia doceira, Tomásia tinha uma
clientela fiel entre os seus antigos patrões ou os Athayde, os Santos, Lustosa
Nogueira, Veras e os Machado. Sua fama ultrapassou as fronteiras da Parnaíba
até mesmo quando já não mais mexia nos tachos de cobre.
O maestro Almir Araújo, ilustre morador da Rua
Francisco Severiano, não foi praticamente um negro. Era mais pra pardo, mas
tinha o pé cinzento. Mas era músico genial. Amigo de grandes artistas
nacionais. Compunha feito ninguém tendo sido praticamente um dos fundadores da
Banda Municipal pra onde entrou ainda rapazinho aos dezoito anos. Sua obra mais
falada e praticamente esquecida é a valsa Dois de Abril, infelizmente perdida
após sua morte, assim como toda a outra memória fotográfica e outros
documentos. Sua morte em 1966 trouxe uma multidão de gente pra pequena casa do
bairro de Fátima. Ganhou quando muito uma rua pequena no bairro do Carmo com
seu nome.
Mas é em Custódio Amorim que os negros parnaibanos
vão encontrar pra história seu momento mais solene. O negro legítimo, desses do
pé cinzento, líder sindical depois tendo assento na Câmara Municipal por vários
mandatos. Era um articulador nato e esteve sempre no meio das grandes decisões
e ao lado dos ditos parnaibanos de sangue azul. Tão importante e tão
desimportante pra nossa história ao mesmo tempo. Lembro que por ocasião a vinda
de Garrastazu Médici pra inauguração do Polivalente em 1973, Custódio, cheio de
coragem, mandou horas antes afixar uma faixa cumprimentando o visitante em nome
dos parnaibanos e de seus liderados. Antes que o general entrasse na Avenida
São Sebastião vindo da Praça da Lagoinha e descesse do carro a faixa foi
violentamente retirada. Foi tão desimportante pra história que, sendo
presidente da Câmara Municipal o vereador Paulo Evangelista, também negro,
amigo e confidente de Mão Santa, deu nome a um anexo daquela casa com direito a
até fotografia e nome na parede. Mal acaba o mandato de Paulo Fofoca e o
sucessor minimiza o feito, manda pintar a parede onde estava o nome do negro. O
retrato, esse, certamente foi parar nalgum armário nos fundos do prédio pra
depois ganhar o rumo do lixo.
Por Antônio de Pádua
Edição Jornal da
Parnaíba

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