01. No Estado democrático de Direito ninguém pode
estar acima da lei. Todos nós somos regidos per leges e sub lege.
Nem sequer o poder econômico deve estar fora ou além da lei penal. O que
revelam escândalos escabrosos como o da Petrobras? Eles escancaram,
particularmente em democracias altamente corruptas como a nossa (72º lugar no
ranking da Transparência Internacional), o íntimo funcionamento orgânico entre
a economia e a política (ou seja: entre o mercado lícito ou ilícito e o
Estado). Constitui uma grande falácia a afirmação de que o mercado é sempre
santo, enquanto que corrupto é somente o Estado (e seus agentes). Do tripé
maligno também faz parte o mundo financeiro (por onde transita, sob a forma de
lavagem de capitais, grande volume do dinheiro obtido ilicitamente pelos outros
dois braços desse crime organizado, que são o político/público e o
empresarial).
02. O Brasil, então, foi sequestrado por uma troyka
maligna? A resposta é inegavelmente positiva (e o caso Petrobras, na
medida em que vai sendo desvendado em todos os seus meandros, vai evidenciando
a estrutura e o funcionamento desse monstruoso esquema ilícito que sempre se
apoderou do Estado brasileiro). Seria uma heresia afirmar que todos os
políticos assim como todas as empresas são criminosas. Mas é certo que grande
parcela do orçamento público vem sendo (aliás, sempre foi, desde a colonização)
ilicitamente desviada para os bolsos ou os caixas dos "barões
ladrões", que atuam sob a forma de uma troyka maligna composta
de (1) políticos, partidos e outros agentes públicos + (2) agentes econômicos
despudorados + (3) agentes financeiros inescrupulosos, que se unem
permanentemente em parceria público/privada para a pilhagem do patrimônio
público (PPP/PPP ou 2PPP).
04. Essa troika maligna, liderada ou composta
pelos políticos assim como pelos partidos, alavancam progressos (obras,
estradas, aeroportos, portos etc.), mas, ao mesmo tempo, tal como gafanhotos
famintos, vorazmente consomem grande parcela dos recursos públicos de forma
ilícita, esquecendo-se completamente do bem comum (da ética, da moralidade, da
honestidade). Uma ou outra ação positiva para a nação (a construção de um
hospital, por exemplo) não chega a afastá-los da pecha de altamente nocivos e
perigosos, porque protagonizam uma criminalidade organizada, que estamos
chamando de PPP/PPP (parceria público/privada para a pilhagem do patrimônio
público). Todos os partidos e políticos (com raras exceções) apresentam-se
igualmente desonrados e aviltados pelos vícios comuns, esvaziando-se a
autoridade e a força moral.
05. Como sublinha Timon (personagem de J. F.
Lisboa, Jornal de Timon), "mal ergue um deles a voz para exprobrar ao
outro tal erro, tal falta e tal crime, para logo a exprobração contrária quase
idêntica vem feri-lo no coração, fazendo-o emudecer completamente, posto que a
falta de pudor é a qualidade dominante de todos eles: pudor, moral, respeito e
decoro nada significam desde que triunfem nas urnas e levem a cabo seus
mesquinhos desígnios". O "acordão" n(feito em novembro/14) entre
o PT e o PSDB, na CPI mista, para não convocar seus "protegidos",
constitui inequívoco exemplo desse "emudecimento" recíproco, na hora
de buscar a verdade (que não lhes interessa).
06. Quem ainda está fora do poder punitivo
estatal? O anunciado e previsível vendaval dos mandados de prisão no caso
Petrobras contra agentes públicos (caso do ex-diretor de serviços da empresa,
Renato Duque) e empresários (agentes econômicos que mantêm contratos com o
poder público) revela, desde logo, que a clássica impunidade dos poderosos
(pública e notória, bastando para isso um olhar superficial nos presídios)
mudou de patamar, subindo um degrau: agora somente estão fora do sistema penal
(do poder punitivo do Estado) os agentes financeiros (que são, desde os anos
90, os donos do capitalismo mundial). A imunidade penal (autoproteção) foi
engendrada pelos poderosos desde que ascenderam ao poder (século XVII na
Inglaterra e Revolução Francesa - 1789 - na França e todo nosso entorno
cultural). Depois de 200 anos de preservação do status quo, na medida em
que o capitalismo foi se concentrando predominantemente nas mãos dos agentes
financeiros, os outros poderosos (por ocuparem altos cargos públicos, por serem
políticos ou agentes econômicos fortes) foram se tornando vulneráveis (ou seja:
foram se sujeitando, tanto quanto os demais mortais, aos rigores da lei penal
assim como às investigações da polícia, aos processos judiciais, ao
recolhimento aos presídios). Primeiro foram sendo enquadrados os altos comandos
administrativos (agentes públicos); em seguida vieram os políticos (no caso
mensalão, por exemplo) e, agora, de forma inequívoca, também se acham
subjugados ao império da lei os agentes econômicos (restando ainda fora do
império da lei penal os agentes financeiros).
07. Qual é a grande preocupação? Que o
império da lei aconteça para todosdentro do Estado de Direito. Essa deve ser a
principal preocupação dos órgãos repressivos (Polícia Federal, Ministério
Público, Justiça, agentes fiscais etc.), pois do contrário tudo se perde (e o
império da lei se evapora, gerando descrença). Se as operações (policiais e
judiciais) não forem feitas rigorosamente dentro da lei, da Constituição e dos
Tratados Internacionais, tudo vira pó (tal como os casos Satiagraha e Castelo
de Areia: este último, aliás, envolvia várias empreiteiras dedicadas à
corrupção, como é o caso da Camargo Correia. Se ela já estava pensando
seriamente em abandonar suas atividades na área das contratações públicas
- Valor 14/11/14 -, agora, com muito mais razão, deveria tomar essa
decisão, quando se sabe que seus altos dirigentes estão todos recolhidos ao
cárcere). Mais correto ainda seria o poder público desqualificar todas as
empresas corruptoras, eliminando-as da possibilidade de contratação com o
serviço público.
08. Mudança de paradigma. O controle da
criminalidade organizada, que deve acontecer dentro do Estado de Direito, está
gerando uma série imensa de novos paradigmas punitivos. Um deles consiste na
histórica subjugação do braço empresarial ao império da lei (que deve valer
para todos). Indaga-se: e o braço político? Está muito próximo o dia da chegada
do mundo político. Tanto o Procurador-Geral da República (PGR) como o ministro
Teori Zavascki, relator do caso no Supremo Tribunal Federal, analisa o que
fazer com os nomes dos políticos citados nas investigações e delações
premiadas. Quantos seriam? De plano, entre 40 e 70 são as pessoas com foro
privilegiado que estariam envolvidas no escândalo da Petrobras. Elas só podem
ser julgadas pelo STF ou pelo STJ. Pelo que já foi anunciado até aqui, nenhum
dos grandes partidos políticos estará fora da lista, e isso não será nenhuma
surpresa, porque se sabe que eles, fazendo e desfazendo, andando e desandando,
"num contínuo e monótono vaivém", se transformam, corrompem, gastam e
dissipam suas energias em torno dos seus inconfessáveis propósitos (que os
confunde e os submerge nos escombros do que deveríamos chamar de república
democrática).
P. S. Participe do nosso movimento fim da
reeleição (veja http://fimdopoliticoprofissional.com.br/. Baixe o
formulário e colete assinaturas. Avante!
Edição Jornal da
Parnaíba
Por professor Luiz Flávio Gomes
Um comentário:
Texto muito bem redigido e apropriado na minha opinião. Espero que o brasileiro levante a cabeça e dê todo apoio à punição dos corruptos, independente da ideologia pois eles (os corruptos) querem levar vantagem a qualquer custo. Forças poderosas terão que ser vencidas, portanto ´´Que o império da lei aconteça para todos dentro do Estado de Direito´´.
Postar um comentário