Nos últimos dois meses Parnaíba, localizada no
litoral do Piauí, tem experimentado reflexos de uma fase que, tratada à luz da
sensatez, poderá nos indicar, quem sabe, explicação. Se ninguém inventa o
sentido da vida, como afirmara tão sabiamente o filósofo judeu Viktor Emil
Frankl, é porque todos nós estamos envolvidos nesse dom divino que é o viver;
viver, por sua vez, é uma ação não racionalizável, implica essência e vivência
– e como o amor, somos capazes apenas de senti-lo, sem entendê-lo.
Falemos disso porque desde a aurora da história
humana temos buscado compreender o fim, a lógica, o sentido da vida, e até
agora não conseguimos. Foi por essa razão que o filósofo citado em supra,
referiu-se que discutir o sentido da vida sem atingi-lo é negá-lo; “e, uma vez
que começamos a realizá-lo, já não é preciso discuti-lo, porque ele se impõe
com uma evidência que até a mente mais cínica se envergonharia de negar”. Seria
essa a fiel razão de Descartes concluir o cogito, ergo sum? Pensamos para
existir ou sentimos para a vida ser significada?
Somos, sim, seres complexos e às vezes nossas
atitudes ferem o que talvez sejamos em essência. Por uma questão de segundos,
por uma questão de fragilidade, por um posicionamento em conflito... No fundo
temos a frustração de que jamais venceremos a incompletude. Somos incompletos
porque carentes, defeituosos, frágeis e instáveis; e a nossa busca maior, que
sequer nos aproxima à perfeição do Pai, é sem dúvida alguma uma busca falível.
O mundo tem sim um sentido que o ultrapassa, dizia
ainda Camus, mas nos é impossível conhecê-lo, somos limitados para tanto.
Julgar o fim de um ciclo pertence à história e
Parnaíba um dia compreenderá o motivo da recente tragédia instaurada em seu
seio. Uma tragédia que levou três importantes espíritos que conduziam com
dignidade as suas funções sociais nessa cidade. Foram-se eles, no mesmo dia, no
mesmo ato, na mesma tragédia que jamais terá uma explicação. As tragédias são
assim, não permitem rastros de entendimento, mas afetam toda uma conjuntura que
a assiste. É um impacto, um impacto violento. Ela não admite credo, não atenta
para as disparidades, ela leva consigo toda e qualquer diferença sem atentar
que por trás das vidas que carrega há famílias, filhos e amigos.
Edição: Jornal da Parnaíba
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