No gramado perdemos para a Alemanha de 7 a 1. O
mundo desabou sobre nossa cabeça. Pior é que são raros os momentos em que somos
todos brasileiros (rico e pobre, preto e branco, PT e PSDB, católico ou
protestante etc.), atacando numa única direção. Fora do gramado, no entanto, em
termos de país competitivo e de qualidade de vida, nossa derrota é muito mais
vergonhosa. O que me deixa desapontado é que esta segunda não nos causa tanta
decepção como a primeira. Vamos aos números.
Entre 1980 e 2012, o Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) da Alemanha passou de 0,780 para 0,920. É o 5º país no índice
geral, 80 anos de esperança de vida e renda per capita de US$ 41 mil. O IDH
mede a renda das pessoas, escolaridade e expectativa de vida. Ela saiu arrasada
da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Saiu destruída do nazismo e da Segunda
Guerra Mundial (1933-1945). Hoje é a nação economicamente mais forte da Europa,
tendo alcançado o nível excelente em qualidade de vida em poucas décadas. Técnica,
planejamento, organização, dedicação, empenho: são qualidades que eles esbanjam
orgulhosamente.
Temos capacidade para produzir riqueza, mas nunca
soubemos transformar isso em qualidade de vida para todos (veja Flávia
Oliveira, O Globo 9/7/14: 26). Sabemos ganhar, mas não temos a menor ideia do
que seja distribuir. Socioeconomicamente sabemos rivalizar, não cooperar. O
índice Gini da Alemanha (é o que mede a desigualdade: quanto mais se aproxima
do zero, mais igualdade; quanto mais perto do 1, mais desigualdade) é de 0,27;
o do Brasil é 0,51. Somos o dobro de desiguais. O que isso provoca? Violência,
desorganização social, péssima qualidade de vida, miséria, fome etc. Um
exemplo: os alemães contam com menos de 1 assassinato para cada 100 mil pessoas
(0,8, em 2011). E o Brasil? 29 para cada 100 mil (em 2012). Somos mais de 30
vezes mais violentos que eles. Essa é uma das nossas tragédias, que os alemães
não conhecem. Somos ainda o 12º país mais violento do mundo, o campeão mundial
nos homicídios em números absolutos (56 mil por ano) e, das 50 cidades mais
letais, 16 estão no nosso país.
De todas essas goleadas acachapantes nós não nos
envergonhamos. Da desigualdade temos orgulho, não vergonha. Que pena! Aqui é
que temos que nos superar: em qualidade de vida, uso da tecnologia, ciência,
conhecimento, educação... Feito isso, muitas estrelinhas vamos colocar na
camisa da seleção brasileira, porque não nos falta talento e habilidade.
Da redação do Jornal da
Parnaíba
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LUIZ FLÁVIO GOMES, jurista e
diretor-presidente do Instituto Avante Brasil, professorLFG.com.br e no twitter: @professorlfg
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