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Mulheres parnaibanas acomodadas na sacada do Cassino, usando fantasias iguais |
Dentre os espaços públicos que compunham a paisagem
urbana de Parnaíba destacamos o Cassino
24 de Janeiro. Fundado em 24 de janeiro de 1925, era localizado no centro
da cidade, na Avenida Presidente Vargas. Hoje no local funciona uma empresa de
telefonia [o prédio original foi demolido na década de 1970].
Seu nome é uma homenagem à data da proclamação da
independência em Oeiras - Piauí, ou seja, de 24 de janeiro de 1823. Os
cronistas lembram saudosamente dos inesquecíveis bailes realizados no Cassino.
Carlos Araken, médico parnaibano, nascido em 06 de abril de 1929, escreveu a
obra “Estórias de Uma Cidade Muito Amada” e assim lembra:
“[...] dava
gosto ir ao baile no cassino! O assoalho de tábua corrida brilhando, tudo muito
bonito, muito limpo. A iluminação era feérica. Ainda não entrara na moda a meia
luz, nos clubes sociais. Isto era coisa de ambientes escusos: cabarés para ser
mais exato. As mesas das janelas eram as mais disputadas, e seus ocupantes
confraternizavam-se no corredor do baile, com a turma do ‘SERENO’”. Se
enxerguei longe, foi porque me apoiei nos ombros de gigantes
A reminiscência do autor, além de descrever o
ambiente acolhedor do cassino, também revela que o mesmo não era privilégio de
todos que compunham o tecido social do centro, uma vez que alguns ficavam no “sereno”. O termo sereno é uma alusão às
pessoas que ficavam do lado de fora do cassino acompanhando a festa no sereno
da noite. Vejamos a explicação de Araken.
“[...] SERENO
pra quem não sabe, era a plateia formada pelos ocupantes dos caixotes,
tamboretes e congêneres que eram acorrentados nas sacadas das janelas, de manhã
cedo nas grandes festas, e vigiados pelos moleques o dia todo, para não perder
o lugar. Era composto também por pessoas da sociedade, que por um motivo ou
outro, não podiam participar diretamente da festa, e se acotovelavam e
equilibravam num espaço exíguo, a fim de não perder um lance sequer do que se
passava no salão. Diziam muito que o próprio era mais divertido que o baile. A
participação da galera não se limitava apenas em ver e sim tomar parte com
vaias ou aplausos conforme os acontecimentos do “espetáculo”. No dia seguinte
antes das personagens acordarem, todo mundo já sabia dos novos pares, dos trajes,
das desavergonhadas que dançavam “colado”, ou de inocentes beijos concedidos
por alguma mais assanhada. A verdade é que o espetáculo nunca decepcionava”.
“O vestido
das damas, nunca repetidos (era um verdadeiro acinte usar um traje mais de uma
vez) eram longos e bem cuidados. Os cavalheiros nos dias de gala usavam summers
jackets. Quem não tinha mesmo, usava terno branco com gravatinha borboleta. Os
sapatos de verniz ou pelica alemã eram comprados no Tote Machado ou no Maru. O
perfume era francês mesmo, vindo das estranjas pelos navios que aportavam em
Tutóia. O whisky, idem”.
O fragmento acima é um indicativo dos hábitos da
burguesia parnaibana expressos através da aquisição de alguns objetos
importados representados por meio da indumentária, do perfume e da bebida
utilizados nos bailes mais sofisticados.
Dentre as festas oferecidas pelo Cassino 24 de
janeiro destacamos o carnaval.
“[...] com o
coração na mão e o lança-perfume dourado na outra, já devidamente fantasiados,
lá estávamos nós; esperando a nossa deixa para entrar no salão. [...] o mais
exibido da turma era portador do estandarte do bloco. Agora era pra valer, a
orquestra tocava nossa música; e aqui vamos nós aos pulos, que eram ampliados
pelo assoalho oco, que dava maior vibração aos nossos corações, agora já em
plena harmonia com a marchinha que vinha da orquestra. Fazíamos evoluções mil,
e logo depois íamos sendo anexados pelas garotas solteiras, ou por blocos
femininos que necessitavam de nossa parceria”.
Extraído da dissertação de mestrado em História do
Brasil “Memórias do Cais: Parnaíba, a cidade, o rio e a prostituição
(1940-1960)” de Erasmo Carlos Amorim Morais, orientação da Profa Dr. Maria do
Amparo Borges Ferro. Universidade Federal do Piauí, 2012.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
Campus Ministro Reis Velloso, em Parnaíba
Departamento de Ciências Econômicas e Quantitativas
Núcleo de Pesquisas e Estudos Econômicos
Enviado por: Prof. Me. Moacyr Ferraz do Lago
Edição do Jornal da
Parnaíba
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