domingo, novembro 10, 2013

A História da Farmácia em Parnaíba

Seria muito interessante se, remontado às primeiras décadas do século passado, pudéssemos ter uma notícia exata do que foi a Farmácia e de como e por quem foi a profissão farmacêutica exercida, primeiramente, na Vila de São João da Parnaíba, antes da Lei provincial n°166, de 1844. Depois da elevação da vila à categoria de cidade, por força da Lei acima citada, temos dados fidedignos para classificar a primeira farmácia ou botica, como era comumente chamada, aqui estabelecida. Mas, antes de 1844, quem exercia a profissão de boticário? Porque alguém devia, sem dúvida, comerciar com substâncias medicamentosas e tratar dos doentes, tendo-se em conta que, em qualquer núcleo humano, por mais remoto e atrasado que seja, há sempre curiosos ou charlatões que exploram as profissões médica e farmacêutica.

A vila de S. João da Parnaíba tinha no ano de 1840 cerca de dois mil habitantes, população suficientemente crescida para merecer, pelo menos, assistência farmacêutica.

Por melhor diligência que fizéssemos não conseguimos positivar esse ponto, permanecendo o mesmo em completa nebulosa. Só vagas notícias de um moço que por volta dos anos de 1835 a 1840, preparava e vendia remédios.

O certo é que alguém vivia disso, ou de conta própria, mediante nomeação, ou sob ordens dos maiorais da terra, os famosos Dias da Silva, senhores de largo prestigio e riqueza.

Dizem que o número de escravos que essa família privilegiada possuía era de varias centenas. Esses escravos e os restantes habitantes da vila haviam de adoecer. Os próprios Dias da Silva e outras pessoas mais importantes do lugar estavam sujeitos às doenças. Quem os tratava e quais os remédios que lhes davam? Pessoa de mais noventa anos aqui nascida e residente falou-nos sobre os remédios usados, que eram o tártaro, o calomelanos, a jalapa, o óleo de mamona grosseiro e escuro, e mais dois ou três pouco asseados que não eram, sem dúvida, adquiridos em farmácia. O arsenal terapêutico era, como se vê, muito pobre.

Referiu-se, também, a tisana de cozimento de sementes de fedegoso, contra as sezões; ao lambedor de angico, contra tosses; ao enxofre em pó, contra sarampo; à golda de cajueiro, contra feridas.

Mas, perguntamos, quem preparava esses remédios?

A anciã não soube esclarecer. “Ela era criança de dez anos, mas se recorda perfeitamente de ouvir seu pai, homem idoso, contar casos antigos passados na vila, inclusive esses das mezinhas preparadas e vendidas por um moço”. Quanto ao preço, ”recorda-se perfeitamente de ouvir seu pai dizer que era, em média, um dobrão”, conforme a qualidade e quantidade do remédio.

Três monótonos lustros, a partir de 1835, havia ainda de decorrer para que Parnaíba tivesse uma verdadeira farmácia, servida por profissional diplomado. Essa farmácia pertencia a Daniel Joaquim Ribeiro, residência do Sr. Benedito dos Santos Lima, o muito conhecido e estimado Bembém.

Parnaíba estava no sexto ano de sua elevação à categoria de cidade e crescia a olhos vistos, em razão de sua privilegiada situação próxima de um porto marítimo. Grandes veleiros entravam regularmente em Amarração, estabelecendo movimentado intercâmbio comercial com praças estrangeiras, intercâmbio esse que tornou grande vulto, anos mais tarde, ao ponto de além-mar, pelo nome Norte do Brasil. Faz, agora, 94 anos da abertura ao público da farmácia de Daniel Joaquim Ribeiro, a primeira que aqui fundou... (Este texto foi publicado em 1944, portanto hoje, atualizado o dado, seria 175 anos - Nota dos Editores).

Antes de passarmos adiante, apraz-nos render nosso preito de admiração e respeito a esse pioneiro e ilustre varão português (descendente, sem dúvida, de família abastada, e por prova é o fato de ter feito estudos superiores numa época em que o analfabetismo era comum, mesmo entre os poderosos) que, desprezando posição e conforto em sua terra natal, veio abnegadamente exercer, nestas então desconfortantes plagas, sua humanitária e nobilitante profissão.

Em 1855, Daniel Ribeiro chamou de Portugal seu filho Abílio César Ribeiro, também farmacêutico, português, e com o mesmo se associou, constituindo a firma Daniel Joaquim Ribeiro & Filho. Em ofício datado de 13 de julho de 1855 e na qualidade de “farmacêuticos aprovados e estabelecidos com botica”, pediram a Câmara Municipal que “proibisse a venda de drogas em casa de comércio, a não ser na farmácia dos suplicantes, por ser isso contra seus interesses, prejudicial ao público e hostil à Lei”.

Em 1868, Daniel Joaquim Ribeiro retirou-se para a cidade do Brejo, Maranhão, e seu filho Abílio César Ribeiro já não residia em Parnaíba.

Em segundo lugar, tivemos a farmácia de Pedro Maciel, brasileiro, pratico que se estabeleceu em 1868. Maciel comprou o remanescente da farmácia de Daniel Ribeiro, já nesse ano estabelecido à atual Avenida Presidente Vargas, canto com Duque de Caxias, onde é, hoje, a firma Machado & Cia., e continuou com a farmácia no mesmo local, introduzindo modificações que deram ao estabelecimento aspecto inteiramente novo.

Se a era das cidades se pudessem contar na proporção da idade das gentes, poderíamos dizer que Parnaíba estava, aos 24 anos, no apogeu de sua juventude, de seus sonhos, de sua faceirice, de sua desbordante feminilidade. Já, então, era a cidade do trabalho e da prosperidade; mas como a maioria das jovens, vivia mais do coração que do espírito; sabia menos somar e multiplicar algarismos que identificar plena de unção e encantamento, as maravilhosas constelações que cintilam no lindo céu de nossa pátria; mais que o som metálico das moedas, soavam melhor aos seus ouvidos o barulho das ondas, nas praias distantes, e o sussurro perene dos coqueirais, bracejando incansáveis, tangidos pelo vento.

Vem, em seguida, a farmácia de Manoel José de Aguiar, farmacêutico, súdito. Português, aqui chegado de São Luís do Maranhão em 1872. O farmacêutico Aguiar fez-se acompanhar de sua família e montou a farmácia, primeiramente, numa antiga casa em cujo local é hoje o escritório de Narciso, Machado & Cia. A farmácia ficava em frente ao atual escritório de Moraes & Cia, à Rua Martins Ribeiro. Decorridos dois anos, mudou-se para os baixos do sobrado Vista Alegre, à Avenida Presidente Vargas, n° 300.

A quarta farmácia foi a de José Mazullo, italiano, farmacêutico pela Real Universidade de Nápolis, Natural de Palermo, na Sicília, faleceu nesta cidade em 1889, aos 69 anos de idade.

Sua farmácia foi adquirida dos herdeiros de Pedro Miguel, logo após sua chagada do Maranhão, em fevereiro de 1877. Mazullo estabeleceu-se, primeiramente, nos baixos sobrados, à Rua Duque de Caxias, onde é, agora, o escritório de Freire & Cia, mudando-se, mais tarde, para a casa à mesma Rua, 706, que fica atrás do Parnaíba Hotel. Homem de coração generoso, prestativo e inteligente, Mazullo era muito consultado e prestou inestimáveis serviços à população. Com pouco menos de sessenta anos de idade, casou-se, aqui, com uma moça de dezoito anos, e ao morrer deixou desse matrimônio cinco filhos que construíram, mais tarde, novas e distintas famílias parnaibanas.

Em quinto lugar, conta-se a farmácia de José Luiz da Silva, farmacêutico, brasileiro, que a comprou aos herdeiros de Manoel José de Aguiar, em 1884. José Luiz da Silva continuou com a farmácia ao mesmo local, isto é, na antiga casa térrea onde é, hoje, o escritório Narciso, Machado & Cia, (fundos do escritório).

Em sexto lugar, classifica-se a farmácia de José Mendes Guerreiro, pratico que comprou o remanescente da farmácia de Mazullo, depois da morte deste. Guerreiro estabeleceu-se em 1891, mas, pouco tempo depois, retirou-se de Parnaíba, levando os seus remédios.

Conta-se, em seguida, a farmácia de Raimundo Palhano, brasileiro, farmacêutico, que a adquiriu de José Luiz da Silva. Continuou com farmácia no mesmo local, mudando-a, algum tempo depois, para o local onde é, hoje, a firma R. Machado & Cia, local das antigas farmácias do farmacêutico Daniel Ribeiro e do prático Pedro Maciel.

Em oitavo lugar, situa-se a farmácia de Tomaz Alves de Sousa Bem, brasileiro, farmacêutico, homem de muito saber, mas algo filosófico, no sentido popular de indiferentes preconceitos e convenções socias. Tomaz Bem se estabeleceu na casa à Avenida Presidente Vargas, n° 164, atual residência do Sr. José Alves Ribeiro. Três anos depois se transferiu para a casa à mesma Avenida, n° 37, onde é, atualmente, o estabelecimento comercial do Sr. José Braga Filho.


Conta-se, em seguida, a farmácia de Júlio Verne, que se estabeleceu, mais ou menos, no ano de 1893, primeiramente numa casa à Avenida Presidente Vargas, 1456, onde é, agora, o escritório de Poncion Rodrigues & Cia. Mudou-se em seguida para os baixos do sobrado à mesma Avenida, n° 236, ao lado da casa Carvalho e em frente à casa Inglesa. Retirou-se, depois, para Manaus.

Comunicado no 276, de 09/11/13
Memórias de Parnaíba
Publicado em 05/09/13 – DIA NACIONAL DA FARMÁCIA
 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - Campus de Parnaíba
Departamento de Ciências Econômicas e Quantitativas
Núcleo de Pesquisas e Estudos Econômicos
Edição do Jornal da Parnaíba

Nenhum comentário: