À primeira vista, parece que o tombamento da cidade
de Parnaíba, é um tributo ao ilustre passado da urbe ou uma referência aos
edifícios antigos que referenciam a história e a memória do desenvolvimento
urbano do município.
Essas afirmações são verdadeiras, no entanto, o
mais importante é que, o tombamento vai muito além do tributo ao passado: ele
reconhece e protege um dos maiores trunfos que a cidade de Parnaíba tem para o
seu desenvolvimento e para o seu futuro. Para muitos, pode ser paradoxal, mas a
preservação do patrimônio é um dos pressupostos do urbanismo contemporâneo.
O tombamento reconhece os valores da lenta evolução
urbana, protege as marcas da memória, que identificam a cidade e sua gente,
impede excessos da atualidade globalizada. Valorizar riquezas. Valer-se de um
tesouro. Este é o sentido do tombamento de Parnaíba, que além do valor
intrínseco do patrimônio, representa uma importante ferramenta de progresso
para o Piauí.
Somadas às motivações de valores históricos e
culturais, está o fato de que este rico acervo vinha sendo fisicamente
ameaçado, com o crescimento da exploração turística desordenada e a especulação
imobiliária crescente, que tem causado a demolição e, ou desfiguração de
inúmeras edificações, e sua substituição por construções sem qualidade estética
ou funcional e sem preocupação com a preservação das relações urbanas que
caracterizam este espaço tão singular.
Todo este preâmbulo, baseado no informativo do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional --- Iphan: Cadernos do
Patrimônio Cultural do Piauí --- Conjunto Histórico e Paisagístico de Parnaíba,
tem como objetivo, além de reforçar os esclarecimentos sobre o tombamento,
demonstrar a minha preocupação, com o excesso de críticas que esse Instituto
vem recebendo, desde setembro de 2008, quando auspiciosamente, por força de lei
federal, o centro histórico de Parnaíba foi inserido no seleto grupo de cidades
com seus sítios históricos tombados, como “patrimônio cultural do Brasil”. As
críticas se acirraram, a partir do momento em que, um grupo empresarial
adquiriu o imóvel onde funcionou o BNB Clube, na esplanada da Estação
Ferroviária, com o intuito de construir um grande complexo hoteleiro. Conversa
vai, conversa vem, sobrou para o Iphan, e por tabela para Parnaíba. O conflito
de interesses foi formado, e há até quem advogue a esdrúxula e infeliz idéia,
de desfazer a lei do tombamento.
Mas Segundo o Iphan, há de se entender que a
preservação institucional dos sítios e monumentos históricos não é incompatível
ou conflitante com o progresso de um lugar. Pelo contrário, é condição. Não há
preservação sem progresso urbano, nem progresso sem preservação. E vai mais
além: não é a paisagem protegida que deve ser agenciada aos novos prédios, mas
o contrário; os novos prédios devem se justar à protegida.
A cosmopolita e predestinada Parnaíba, volta a
viver um bom momento de crescimento, ao atrair grandes investimentos. Ademais,
a área protegida pelo tombamento é mínima, sobrando grandes espaços para
possíveis especuladores, advindos desse promissor crescimento.
Concluo afirmando que as críticas --- a maioria
infundadas --- são perfeitamente normais e democráticas, desde que, não atinjam
a esfera do radicalismo político inconsequente, e nem prejudiquem Parnaíba. O
tombamento é um fato irreversível, e certamente o futuro vai afirmar que
agregará valores insofismáveis à cidade.
jornaldaparnaiba.com | Por Mário Pires Santana
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