Índios Tremembés: primeiros habitantes do litoral piauiense

Índia Tremembé, habitante da costa litorânea

Os índios Tremembés foram os primeiros habitantes do litoral piauiense. Existem vestígios e documentos que comprovam a ocupação deles no local, desde o século XIII até o final do século XVII.

Esse foi o tema da dissertação da historiadora e pesquisadora Jóina Freitas Borges, mestra em História do Brasil pela Universidade Federal do Piauí, que tem como título “Sob os areais: arqueologia, história e memória”. Jóina Borges atualmente é doutoranda em História do Brasil pela Universidade Federal Fluminense, e desenvolve a tese “Os senhores das dunas: táticas, estratégias e autonomia tremembé nos séculos XVI e XVII”. Especialista no assunto, a pesquisadora lançou o livro “A História Negada – Em busca de novos caminhos”, que trata dos primeiros habitantes do litoral do Piauí.

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Integrante do Núcleo de Antropologia Pré-Histórica, Jóina Borges começou a pesquisar os sítios arqueológicos que estavam cadastrados junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-IPHAN. À medida que intensificou sua investigação, descobriu que os vestígios das ocupações dos primeiros habitantes do litoral do Piauí estavam dispersos por toda a costa, sendo, no mínimo, esta presença datada em torno de 2.700 anos.

“Encontrei inúmeros escritos de cronistas que relatavam sobre os Tremembés no litoral piauiense”, diz Jóina. Todo o litoral do Piauí fora ocupado pelos Tremembés entre os séculos XIII e XVII. Nessa época, os Tremembés se concentravam em diversos pontos na costa setentrional do Brasil: em Jericoacoara no Ceará, às margens do rio Camurupim no Piauí, em Tutóia e na Ilha do Caju no Maranhão, por exemplo. “Estudando os índios e os sítios arqueológicos, comecei a tentar fazer conexões entre a arqueologia e os documentos para ver os locais de ocupação deles”, diz a historiadora. A ocupação deste povo pode ser, inclusive, anterior a essas datas, pois possuíam uma profunda adaptação ao meio costeiro, que podia ser resultado de antepassados que já viviam no litoral há pelo menos 2.700 anos.

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A pesquisadora utilizou três tipos de fontes para compor o seu trabalho: a arqueologia - através dos vestígios encontrados nos sítios do litoral piauiense; os documentos históricos e a memória, através de entrevistas com os Tremembés que vivem no Ceará e pessoas que moram nas redondezas dos sítios arqueológicos. A partir disso, descobriu que a tradição oral da região do litoral piauiense, mesmo sem citar especificamente os Tremembés, ainda relata sobre o modo de viver dos indígenas que eram, segundo os próprios entrevistados, os donos do local e viviam em pequenas comunidades até a chegada dos europeus, no ano de 1.500.

Um desses locais é o Sítio ‘Seu Bode’, uma extensa área que possui um vasto material arqueológico na sua superfície. De acordo com a historiadora, o local correspondia a um dos núcleos de povoamento Tremembé. Tal afirmação poderia ser comprovada através da comparação de artefatos cerâmicos, confirmadamente Tremembé, com os artefatos do Sítio Seu Bode. Nessa região, que não foi escavada, é possível encontrar a história dos índios a olho nu. “Com o estudo de mapas, conseguimos localizá-los também em alguns documentos. Quando os cronistas citam a aldeia do Parameri, estão falando justamente dessa aldeia localizada nesta região do Sítio Seu Bode, que é próxima ao Rio Camurupim”, afirma a pesquisadora. As peças de cerâmica encontradas no local foram enviadas para São Paulo e, apenas na superfície, sem ter sido realizadas escavações, uma das amostras foi datada pelo Laboratório de Física da USP em cerca de 2.700 anos antes do presente. “Antes de Jesus, na época de Alexandre e muito antes de qualquer europeu chegar, já existiam índios morando e povoando o Litoral do Piauí”, afirma Jóina Borges.

Um dos próximos desafios é fazer escavações no local e estudar as relações entre os vários sítios arqueológicos encontrados no litoral piauiense e cearense. Antes, contudo, a pesquisadora trabalhará no seu projeto de doutorado os dados históricos referentes aos Tremembés. “Devo entrar no aspecto histórico das relações entre os Tremembés e os estrangeiros. Além desta datação de 2.700 anos, nós encontramos datações de 800 anos e 400 anos, e essas duas demonstram uma continuidade na ocupação deles no litoral que vai até a época da chegada dos europeus. Desde aproximadamente os séculos XII e XIII, já se pode falar na presença dos Tremembés, e não de forma difusa de seus antepassados, na costa piauiense. Muito antes dos europeus chegarem e antes da ocupação de outros indígenas, como, por exemplo, os Tupinambás, em São Luís”, explica.

Rdação: Jornal da Parnaíba | Com informações da Fapepi