sexta-feira, agosto 03, 2012

Para uma cidade cidadã


"Seria importante, ainda, um programa de educação física aliado a um diagnóstico nutricional"

A ideia de viver em grandes cidades passa hoje inevitavelmente pela ideia de cidadania, através do necessário concílio entre a renúncia de alguns direitos individuais em favor de interesses coletivos e a adoção do pensamento da função social da propriedade privada em todas as suas dimensões, em especial, naquelas cidades não planejadas.


Uma cidade cidadã não admite cidadãos serem tração humana de caixas de geladeiras servindo de voluntários para uma precária coleta seletiva de lixo, ao invés de o poder público liderar e destinar os resíduos à transformação energética ou para bens de capital. Faz-se ainda necessário um Código Sanitário acompanhado de um diagnóstico das endemias e epidemias de sua histórica, além da aceleração dos projetos de saneamento básico e de galerias pluviais autônomas.

O fortalecimento do atendimento de saúde pública também é um dos maiores desafios, instituindo triagens obrigatórias em todas as emergências. Seria importante, ainda, um programa de educação física aliado a um diagnóstico nutricional e a um programa de saúde mental multidisciplinar, em especial, nas favelas.

Sobre a tão falada “mobilidade urbana”, são importantes a abertura de vias e a adoção de transportes coletivos de massa, numa cidade onde “aluga-se” permissão pública de táxis, explorando a mais valia de centenas de motoristas. Faz-se necessária a mudança vetorial para que as pessoas morem próximo ao trabalho e ao seu entretenimento, através de um pacto liderado pelo prefeito com industriais, comerciantes e trabalhadores, após censo laboral que possibilite o remanejamento das forças produtivas para mais perto de suas casas.

No turismo e na cultura há um vácuo de identidade. Carece uma política de tombamento do patrimônio material e imaterial para preservar a sua memória, pautar o presente e resgatar o futuro. O orgulho da história e de sua cultura, gastronomia, folclore, credos e ofício traria uma política cultural e turística original.

São urgentes um inventário da flora e fauna da Capital e a proliferação da prática da urbicultura familiar orgânica. A cidade deve inverter a lógica da privatização dos espaços públicos, recuperando os privatizados, e adotar o instituto jurídico do parcelamento compulsório em grandes glebas para a reforma urbana que democratize o solo, o subsolo e o espaço aéreo para se tornar, verdadeiramente, uma cidade cidadã, sem planejamento retórico, mas com ações efetivas e resolutas.

Jornal da Parnaíba | Reno Ximemes / Advogado e procurador da Assembleia Legislativa do Ceará

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