quarta-feira, fevereiro 01, 2012

O drogado do Porto das Barcas

Complexo Cultural Porto das Barcas
O Porto das Barcas é um conjunto arquitetônico localizado na cidade de Parnaíba, litoral do Piauí, que nos séculos XVIII e XIX manteve intensa movimentação fluvial (Parnaíba é banhada pelo rio Igaraçu, que deságua no Atlântico para formar um dos únicos deltas em mar aberto do mundo). De seus armazéns saíam e entravam mercadorias para o exterior e restante do Brasil.

A imponência arquitetônica é notória, com algumas construções erguidas em pedras assentadas por óleo de baleia. São colunas e paredes espetaculares, que além de proporcionarem um charme especial ao espaço, também refletem a suntuosidade de uma época promissora. Depois de abandonado por muitos anos, o governo do Estado, em princípios da década de 90, transformou o Porto das Barcas em espaço cultural, freqüentado por visitantes e pela população local. Os seus armazéns foram transformados em restaurantes, lojas de artesanato, sorveteria, agências de viagens, auditório e escritórios.
Em uma noite agradável de final de janeiro, estive no Porto das Barcas para espairecer e jogar conversa fora com amigos e familiares. Ainda era cedo da noite. Algumas mesas encontravam-se vazias e poucas pessoas circulavam, mas havia no ar a impressão de que em pouco tempo o lugar estaria cheio – afinal de contas, era sábado!

Observei que rondava as mesas um rapaz moreno, aparentando ter entre 18 e 20 anos, cabelos curtos, trajando chinelos desgastados, calção preto e camisa vermelha desbotada, surrada por assim dizer. Parecia nervoso, pois se movimentava com impaciência. Abordava os visitantes, exibia um ar de piedade, estendia a mão e pedia-lhes uma ajuda. Talvez por sua aparência nada agradável, as respostas eram sempre negativas às suas investidas. A minha mesa, por exemplo, ele abordou diversas vezes, como se não lembrasse das feições dos clientes ou esquecesse que já recebera uma negativa.

O cliente da mesa ao lado ofereceu-lhe um sanduíche. Seria natural que ele estivesse com fome. O rapaz ajoelhou-se em agradecimento e subserviência. Pegou o guardanapo de papel, que estava sobre a mesa, envolveu o sanduíche e dirigiu-se ao restaurante ao lado, onde pediu uma sacola de plástico para acondicioná-lo. Passou, então, a abordar transeuntes, oferecendo-lhes o sanduíche.

A comida não lhe apetecia, não atraía o desejo de alimentar-se: ele queria dinheiro. Aquele comportamento demonstrou até onde a droga leva o indivíduo. O desespero se manifesta, a angústia de não conseguir os meios para chegar à droga vem à tona. O que esperar de seu final de noite? Quais instintos se manifestarão para que alcance o seu objetivo?

Assim nascem as vítimas, na perseguição de vultos sorrateiros que usam a covardia para espreitar e saltar sobre inocentes, tirando-lhes os bens e muitas vezes a vida em troca de algumas moedas.

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Edição: Jornal da Parnaíba | Por Enéas Barros

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