quarta-feira, setembro 08, 2010

Cavalo com tromba viveu no Piauí, diz bióloga

Tromba permitia que cavalo devorasse ramos de arbustos
em vez de comer grama como fazem os cavalos atuais
O termo preferido pelos biólogos, um tanto hermético, é "probóscide vestibular". Em português mais castiço: uma tromba modesta. O que, em se tratando de um cavalo, é bastante esquisito.

Esquisito, mas real, indica a análise de uma bióloga da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro). A explicação para traços misteriosos do crânio do Hippidion principale, que viveu no Brasil na Era do Gelo, é ele ter tido uma "trombinha".

"Nos sítios paleontológicos, muitas vezes o Hippidion aparece com o Equus neogeus, semelhante ao cavalo atual", diz Camila Bernardes. "Se animais com parentesco muito próximo habitam o mesmo local, é porque há diferenças entre eles que minimizam a competição."

A maior pista veio do osso nasal do crânio do bicho, que é projetado para a frente. "Pelo crânio, parece um unicórnio", brinca a bióloga. O lugar onde se encaixam o osso nasal e o osso maxilar do bicho é recuado perto do que se vê nos cavalos de hoje, e a região é cheia de depressões, as chamadas fossas.

É possível saber, analisando calombos e depressões na estrutura óssea, como eram os músculos de um animal. Assim, Bernardes concluiu que os músculos responsáveis por erguer o lábio superior do Hippidion eram bem mais potentes, e capazes de repuxar o beiço do bicho por uma extensão maior, do que os dos equinos atuais.

A tromba possivelmente ajudava o animal a ser especialista em agarrar e devorar ramos de pequenos arbustos com o superlábio. Assim, ele não competia tanto com o Equus, um comedor de grama, como os cavalos atuais.

O bicho tinha patas relativamente curtas. Era parrudo, quase um pônei, e habitava savanas bastante secas. Seus fósseis foram encontrados em sítios do Piauí à Bahia, no Nordeste, e em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul, além de Peru, Bolívia e Argentina. A distribuição do Equus neogeus é similar.

Todos os cavalos sul-americanos estavam extintos quando a Era do Gelo terminou, há 10 mil anos os cavalos atuais foram "importados" há poucos séculos.

REINALDO JOSÉ LOPES

EDITOR INTERINO DE CIÊNCIA / FOLHA

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