
Istoé Dinheiro
Profeta do planejamento estatal e do desenvolvimento, o ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso pregou durante anos no deserto. Agora, voltou a ser ouvido.
O economista João Paulo dos Reis Velloso é um personagem singular na cena política brasileira. Ministro do Planejamento de 1969 a 1979, portanto em dois governos do período da ditadura militar, dificilmente alguém o relaciona com o clima de medo que marcou os duros anos inaugurados em 1964.
Pensa-se em reis Velloso mais como o visionário planejador da infraestrutura institucional voltada para o desenvolvimento do País nos anos 1960 e 1970. depois que saiu do governo, em 1979, o economista fez uma breve incursão pela iniciativa privada, mas se reencontrou na tarefa de "pensar o Brasil", além de apresentar ideias e projetos para o País no Fórum nacional, que ele criou em 1988.
À frente do instituto nacional de Altos estudos, ele venceu pela teimosia e pela perseverança. ignorado por governos anos a fio, reis Velloso encontrou no Fórum nacional um canal direto para propagar seus pensamentos. "Acho que fui um bom estrategista do desenvolvimento", disse à dinheiro, durante a realização da 21ª edição do Fórum, no rio de Janeiro, com a presença de duas mil pessoas. "o que me dá alegria é ver que as ideias pegaram." de fato, muitas das teses que foram discutidas nos fóruns de reis Velloso nos últimos 21 anos ajudaram a criar um novo consenso em torno da retomada dos programas de estímulo ao crescimento, como é o caso do PAC.
O fórum deste ano não poderia passar ao largo da crise. Abordando oportunidades que poderão ser criadas com a retração da economia mundial, como o pré-sal, novas matrizes energéticas e o aproveitando da biodiversidade, Reis Velloso apresentou um plano de ação para o País destacando o acesso ao crédito, o estabelecimento de uma meta de crescimento de 2% e a contenção de gastos de custeio do governo. "Há necessidade de transformar a crise em oportunidade, como nos anos 30, quando o País se industrializou", afirmou reis Velloso. Mas, mais do que apontar problemas, reis Velloso busca soluções. Antes mesmo de a expressão BriCs ser criada, o economista apontava, em seus fóruns, a força dos emergentes. "o Brasil precisa acelerar seu processo de desenvolvimento para que cheguemos, junto com Índia e China, a um século XXI diferente de todos os que passamos", disse no encontro de 2000.
Reis Velloso também passou a ser mais ouvido após a eleição do presidente Lula. "o governo anterior não apreciava a política setorial, era mais sistêmico", critica o economista. "Com a chegada de Lula, pudemos definir estratégias de longo prazo, que puderam ser implementadas desde o início." na sua lista de prioridades constam a reforma do Judiciário, a reforma política, que teve alguns pontos já abordados pelo Congresso nacional, e a reforma previdenciária, esta um eterno problema que, segundo ele, será resgatada.
Mas não é apenas um diálogo mais franco com o governo que permitiu que algumas das ideias aventadas por Reis Velloso pudessem ser postas em prática. "Sem o apoio do setor privado, as palavras dele seriam ouvidas, não entendidas", afirma o economista e seu irmão Raul Velloso. Com a anuência do empresariado, Reis Velloso pôde formar a Cúpula Empresarial, que conta com 50 executivos de grandes empresas, como Roger Agnelli, da Vale, e José Sérgio Gabrielli, da Petrobras. Foi do encontro com esse grupo que surgiu o documento do plano de ação, distribuído por Reis Velloso ao presidente Lula e ao ministro Guido Mantega.
Se aos 77 anos Reis Velloso continua sendo uma máquina de pensar políticas de longo prazo, o Brasil só tem a ganhar com isso.
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