A idéia do intercâmbio veio por meio de um projeto desenvolvido com mulheres do município piauiense Morro da Mariana, ou da Ilha Grande, como passou a ser chamado o município depois de sua emancipação. Após anos trabalhando de forma anônima, as 120 rendeiras associadas são reconhecidas como o principal pólo de produção de bilro do Piauí.
Essa realidade só começou a ganhar força em 2000, durante o primeiro intercâmbio com duas estudantes de design da Holanda. “Elas passaram dois meses lá, convivendo e trabalhando com as rendeiras”, explica Sílvia Sasaoka, uma das autoras do projeto.
Outra experiência positiva foi a integração do estilista Walter Rodrigues com a comunidade. Ele aceitou o convite para conhecer o grupo e acabou fazendo parte de uma etapa do projeto. Resultado: em sua coleção de Verão, apresentada em julho de 2001 no São Paulo Fashion Week, o estilista usou basicamente as rendas de bilro do Morro da Mariana.
Após o trabalho, as artesãs viajaram a São Paulo para conhecer o ateliê do estilista. “Foi uma grande emoção pra gente assistir ao desfile e ainda conhecer a rotina de Walter Rodrigues de perto”, comenta Maria do Socorro Reis Galeno.
A partir de então, o estilista nunca mais abandonou as rendeiras. Queridinho da atriz Claudia Raia, dentre outros famosos, Rodrigues também assinou o vestido da primeira-dama Marisa Letícia na posse do presidente Luis Inácio Lula da Silva, em 2006. A roupa, na cor amarela, trazia uma capa repleta de camélias feitas em renda de bilro pelas mulheres do Morro da Mariana.
O estilista ainda costuma utilizar a renda na confecção de seus vestidos de noiva. Para um deles, encomendou mais de duas mil camélias. “Trabalhamos sem parar por dois meses e meio, com 30 rendeiras, para dar conta do pedido”, recorda Socorro.
Além das mulheres do Ceará, as piauienses também conheceram as rendeiras de Santa Catarina, outra região do País reconhecida na arte de fazer renda. Entre um lugar e outro, existem algumas diferenças na denominação dos pontos, mas, ao final, as técnicas acabam sendo praticamente as mesmas. As aplicações, os entremeios e os bicos têm nomes, muitas vezes, engraçados como jacarequara com ou sem barata, margaridão e coração na goela.
Fonte: Diário do Nordeste (CE)
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