Entre o rompimento e a independência proclamada, Parnaíba parece ensaiar sua entrada no oceano vermelho.
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| Francisco Emanuel, Prefeito de Parnaíba | Foto: Lucas Dias/GP1 |
Nada de novo sob o sol ou melhor, sob o sol de Parnaíba. A história política piauiense é pródiga em conversões repentinas e travessias suaves entre campos antes opostos. O mesmo vento que sopra do litoral parece carregar uma velha máxima da política local: “a conveniência é a ideologia mais resistente do Nordeste”.
Francisco Emanuel foi eleito abraçado a Mão Santa e apadrinhado
por Gracinha Moraes Souza, herdeira política do patriarca. Prometia
continuidade, lealdade e até uma pitada de modernidade. Mas, uma vez sentado na
cadeira de prefeito, o “Novo Francisco” descobriu o sabor da autonomia e o
gosto, dizem, foi irresistível.
Alegando interferência indevida de Gracinha na administração, o
prefeito resolveu se emancipar politicamente. Mandou preparar a exoneração dos
secretários ligados à deputada inclusive aqueles que carregam o sobrenome
Moraes Souza. A cena lembra os rituais de purificação da política antiga:
queimar as pontes, negar o fogo e jurar fidelidade à própria consciência.
A negação do rompimento foi, curiosamente, a maior confissão. Afinal,
quando o político precisa dizer que “não há rompimento”, é porque a ruptura já
se fez notar nos gestos, nos olhares e, sobretudo, nas exonerações.
O flerte com o Republicanos de Jadyel Alencar acende o sinal de
alerta no mapa político do litoral. Parnaíba, que por anos foi reduto da
direita piauiense e palco das cruzadas verbais de Mão Santa contra o PT, pode
estar prestes a se tornar um curioso laboratório de reconciliação ideológica ou
de conveniência estratégica.
No fim das contas, Francisco Emanuel parece seguir a velha lição da
política brasileira: o poder local é líquido, adapta-se ao recipiente que
melhor o contém. E se, por acaso, esse recipiente hoje se chama “governo
estadual”, o prefeito apenas demonstra que sabe nadar conforme a maré.
Enquanto isso, no tabuleiro de Parnaíba, o grupo Mão Santa recolhe as
peças e observa, talvez surpreso, que a lealdade política, como as ondas do
mar, também vai e volta, mas quase nunca retorna ao mesmo ponto.
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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