quarta-feira, novembro 19, 2025

Prefeito de Parnaíba ensaia sua travessia ideológica

Entre o rompimento e a independência proclamada, Parnaíba parece ensaiar sua entrada no oceano vermelho.

Francisco Emanuel, Prefeito de Parnaíba | Foto: Lucas Dias/GP1
Tudo leva a crer que o litoral piauiense decidiu, de vez, tomar banho nas águas quentes da política nacional e parece querer sair de lá com um certo tom de vermelho. O prefeito de Parnaíba, Francisco Emanuel (PP), até então abrigado sob a sombra generosa do ex-prefeito Mão Santa, resolveu que já é hora de trocar de guarda-sol. E, como quem busca um novo balneário ideológico, articula sua filiação ao Republicanos, partido comandado no Piauí pela médica Alessya Xavier, esposa do deputado Jadyel Alencar, aliado de primeira hora do Palácio de Karnak.

Nada de novo sob o sol ou melhor, sob o sol de Parnaíba. A história política piauiense é pródiga em conversões repentinas e travessias suaves entre campos antes opostos. O mesmo vento que sopra do litoral parece carregar uma velha máxima da política local: “a conveniência é a ideologia mais resistente do Nordeste”.

Francisco Emanuel foi eleito abraçado a Mão Santa e apadrinhado por Gracinha Moraes Souza, herdeira política do patriarca. Prometia continuidade, lealdade e até uma pitada de modernidade. Mas, uma vez sentado na cadeira de prefeito, o “Novo Francisco” descobriu o sabor da autonomia e o gosto, dizem, foi irresistível.

Alegando interferência indevida de Gracinha na administração, o prefeito resolveu se emancipar politicamente. Mandou preparar a exoneração dos secretários ligados à deputada inclusive aqueles que carregam o sobrenome Moraes Souza. A cena lembra os rituais de purificação da política antiga: queimar as pontes, negar o fogo e jurar fidelidade à própria consciência.

Em nota oficial, o prefeito tentou equilibrar-se entre o rompimento e a gratidão. Afirmou respeitar a família Mão Santa, mas declarou, em alto e bom som, que não aceitará “interferências externas” nem de presidente, governador, senador, deputado ou vereador. A frase é bonita, mas soa como aquelas promessas de campanha que só se sustentam enquanto a próxima eleição não bate à porta.

A negação do rompimento foi, curiosamente, a maior confissão. Afinal, quando o político precisa dizer que “não há rompimento”, é porque a ruptura já se fez notar nos gestos, nos olhares e, sobretudo, nas exonerações.

O flerte com o Republicanos de Jadyel Alencar acende o sinal de alerta no mapa político do litoral. Parnaíba, que por anos foi reduto da direita piauiense e palco das cruzadas verbais de Mão Santa contra o PT, pode estar prestes a se tornar um curioso laboratório de reconciliação ideológica ou de conveniência estratégica.

No fim das contas, Francisco Emanuel parece seguir a velha lição da política brasileira: o poder local é líquido, adapta-se ao recipiente que melhor o contém. E se, por acaso, esse recipiente hoje se chama “governo estadual”, o prefeito apenas demonstra que sabe nadar conforme a maré.

Enquanto isso, no tabuleiro de Parnaíba, o grupo Mão Santa recolhe as peças e observa, talvez surpreso, que a lealdade política, como as ondas do mar, também vai e volta, mas quase nunca retorna ao mesmo ponto.

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1

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