sábado, setembro 27, 2025

Parnaíba passeia entre a exuberância do delta e os encantos de seus lençóis

Segunda maior cidade do Piauí combina aventuras em passeios por dunas e lagos; Caminhadas por cenário de prédios tombados ajudam a contar a história do lugar

Parnaíba passeia entre a exuberância do delta e os encantos de seus lençóis
De um lado, brilha o delta, único em mar aberto nas Américas, com seus arquipélagos, manguezais e dunas, tendo como ave-símbolo o guará, com sua plumagem vermelha impressionante. No caminho oposto, a vastidão de areia mutável e lagoas de águas cristalinas desenham oásis naturais, onde burrinhos e cavalos pastam indiferentes aos que por ali transitam.

Ainda pouco explorado, o Piauí, dono do menor litoral brasileiro, de apenas 66 quilômetros de extensão, surpreende quem está à procura de paisagens naturais extasiantes e intocadas.

Parada para banho na Ilha dos Poldros, rio e mar juntinhos, em Delta do Parnaíba, Piauí. | Photograph by Ricardo Junior / www.ricardojuniorfotografias.com.br

No norte do estado, a porta de entrada para esse universo litorâneo é Parnaíba, a segunda maior cidade do Piauí, com cerca de 162 mil habitantes.

A cidade é parada obrigatória na Rota das Emoções, um roteiro turístico que percorre o litoral dos estados do Ceará, Piauí e Maranhão. Quando feito de carro 4x4, o percurso se torna ainda mais fascinante, proporcionando contato direto com dunas, manguezais e paradas para banhos em lagoas cristalinas e praias desertas, sombreadas por coqueirais.

Muitas vezes, Parnaíba é vista apenas como ponto de passagem, um engano diante das belezas que a cidade e arredores oferecem.

Se o Maranhão tem seu principal cartão-postal, os Lençóis Maranhenses, há versões diminutas deles também no Piauí, no Ceará e nas Alagoas. É claro que nada comparável à dimensão e ao conúbio entre dunas e lagoas encontradas em terras do poeta e escritor Ferreira Gullar (1930-2016).

Podemos dizer que o "lençol irmão" piauiense tem suas próprias características que o tornam singular. É, por óbvio, miúdo, se comparado ao clássico maranhense. Nem possui tantas lagoas assim. Por outro lado, suas dunas exibem tons alaranjados, por causa da presença de óxido de ferro.

Entre as montanhas de areia, irrompe uma vegetação densa, algo raro de se ver no estado vizinho. No Piauí, ainda é possível explorar o território em cima de um quadriciclo, enquanto que no Maranhão isso é feito a pé, já que se trata de um parque nacional com uma série de controles e restrições em defesa de suas reservas naturais.

Vez outra, dá um friozinho na barriga quando a gente desce uma daquelas dunas enormes dos Lençóis Piauienses em cima de um veículo sobre rodas. Para se aventurar por aquelas bandas, os preços dos passeios partem de R$ 435, por quadriciclo, com até duas pessoas, por exemplo, na agência Quadri & Aventuras.

Curitibano, Alessandro Schwonka trocou, em 2009, o frio da capital paranaense pelo brilho do sol que por lá incide quase que o ano inteiro. É ele quem explica como funciona o veículo projetado para uso em diferentes tipos de terreno, incluindo áreas off-road, como trilhas e campos acidentados.

Antes de dar início ao trajeto, entretanto, o visitante passa por uma aulinha teste em uma área com marcação na areia. Só sai quando estiver razoavelmente habilitado a dirigir essa espécie de motocicleta de quatro rodas.

Há momentos que exigem mais atenção: como os que encaram subidas e descidas. O objetivo ali, todavia, é contemplar tamanha beleza. A área dos Lençóis Piauienses envolve um terreno de aproximadamente 55 quilômetros de comprimento por 2 quilômetros, em média, de largura. Nele, existem, digamos, três seções intercaladas de dunas, sendo que as mais altas atingem entre 50 e 70 metros de altura.

A adrenalina acompanha o movimento pela areia e se dissipa por completo no instante em que paramos para um banho na lagoa do Portinho, que faz fronteira com a cidade vizinha de Luís Correia. Suas águas ajudam a moldar os "lençóis" e dar graça e vida à região.

A depender da incidência solar e das chuvas, que ocorrem entre janeiro e abril (março, geralmente, é o mês mais chuvoso), as águas doces do Portinho passeiam por cores que vão do ocre ao azul-esverdeado.

Há opções no programa que contemplam o dia todo, saindo da lagoa e indo em direção à praia do Itaqui, em Luís Correia, cortando trilhas, numa espécie de "looping" de sobe e desce motorizado.

Fique de olho no calendário lunar. Em um giro de aproximadamente duas horas e meia de duração, existe a opção de contemplar dunas e a lagoa tingidas de prata, graças ao brilho vigoroso da lua cheia.

Parnaíba ganhou esse nome —e batizou o delta— por causa do rio, um dos maiores do Nordeste, responsável por dividir o Piauí com o Maranhão ao longo de sua extensão.

Há saídas para explorar o santuário natural partindo do Porto dos Tatus, em Ilha Grande, a aproximadamente 10 km da cidade.

A presença de um delta em mar aberto atraiu navegadores e aventureiros desde a segunda metade do século 16. Elevada à categoria de cidade em 1844, Parnaíba fez fortuna com a atividade de produção de cera de carnaúba na primeira metade do século 20.

Palmeira endêmica do semiárido nordestino, espécie da flora símbolo do Ceará e Piauí, conhecida como "árvore da vida", a carnaubeira oferece um cardápio vasto de utilidades: madeira para qualquer tipo de construção habitacional, instalações para animais, utensílios de uso pessoal, substância medicinal, fruto de alimento para gente e bicho e cera como matéria-prima para a indústria.

Foi, principalmente, a partir da segunda década do século passado que a extração e comercialização do pó e da cera de carnaúba tornaram-se as atividades econômicas mais importantes de Parnaíba, favorecendo outro ciclo de desenvolvimento da cidade.

Legado mais evidente, seu conjunto histórico e paisagístico foi tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), em 2011. São cerca de 830 imóveis com valor patrimonial, a maior parte no chamado centro histórico.

Uma das raras construções em estilo barroco no estado, a Igreja Nossa da Graça, do século 18, atual catedral, é uma delas.

Ponto de artesanato e de encontros, o Porto das Barcas era, em outros tempos, um ambiente de acesso ao intercâmbio de produtos europeus.

É nesse complexo que está inserido o Museu do Mar, com suas salas interativas que contam a história, a fé e a religião dos pescadores. Por andanças perto dali, vale conferir o prédio histórico que abriga a unidade do Sesc Caixeiral, na avenida Getúlio Vargas.

Outro área tombada é a da praça Santo Antônio. Nela, na singela rua Humberto de Campos, o número 988 guarda o hotel boutique Casa de Santo Antônio, imponente sobrado datado de 1911. O prédio mantém o charme histórico de outrora, decorado com peças clássicas, e o requinte moderno. Com a obra de restauro em 2011, o casarão foi reconfigurado para abrigar 22 suítes.

Sob a sombra de uma mangueira, a piscina é um lugar para relaxar em dias de sol a pino —nesta época do ano, os termômetros marcam 33ºC. As diárias para casal com café da manhã partem de R$ 680. Quem não estiver hospedado, porém, pode reservar um jantar. A sugestão de prato principal é a lagosta com espaguete por R$ 110.

No único estado nordestino onde a capital fica a quase 350 quilômetros distantes do litoral, o Piauí oferece, na histórica Parnaíba, um portal de acesso a sabores e encantos do rio e do mar.

Roberto De Oliveira | Da Folhapress - Parnaíba (PI)

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