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Bandeira do Piauí |
Foi em maio de 2005 que a Assembleia Legislativa do Piauí aprovou
o projeto, de autoria do então deputado estadual Homero Castelo Branco. Até
então, a bandeira do Piauí era composta pelas 13 faixas verdes e amarelas, como
ainda permanece, e pelo retângulo azul com a estrela Antares ao meio. A
alteração consistiu na inclusão da data. No entanto, não foi algo isento de
discussões e disputas. Um abaixo assinado com mais de 10 mil pessoas
contra a mudança na bandeira chegou à Assembleia.
Para entender como a data chegou ao símbolo piauiense, o Cidadeverde.com conversou com o historiador Fonseca Neto, que foi um dos articuladores deste processo, que tinha o intuito de dar visibilidade à Batalha do Jenipapo.
Esta reportagem foi dividida em tópicos:
1. Entenda a "disputa
de datas"
2. Na década de 30, a Alepi
muda o 'Dia do Piauí'
3. O reconhecimento à
Batalha do Jenipapo
4. Abaixo assinado contra o
13 de março na bandeira
5. Tem espaço para todo
mundo
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Monumento em homenagem aos heróis do Jenipapo, em Campo Maior |
O historiador pontua que as discussões sobre as “datas” relativas à
independência do Piauí têm discussões há muito tempo. Ele lembra que, desde a
época do império, o dia 24 de janeiro de 1823, data que marca a adesão de
Oeiras, era celebrado como o que símbolo principal da independência, mas
que tinham debates entre os intelectuais e historiadores sobre o dia 19 de
outubro de 1822, quando houve em Parnaíba o primeiro gesto de adesão do Piauí à
independência do Brasil, e sobre 13 de março de 1823, data da Batalha do
Jenipapo, em Campo Maior.
“Durante mais de 100 anos celebrou-se o dia 24 de janeiro. Foi uma data
celebrada durante todo o tempo do Império e durante os 36 primeiros anos do
período Republicano. Mas essa data, ao longo do tempo, escritores,
pesquisadores e políticos reivindicaram, propuseram que podia mudar, poderia
ser Parnaíba. Alguns achavam que o aconteceu em Parnaíba foi mais importante, o
19 de outubro, já outros achavam, até que se falava, no [Batalha do] Jenipapo,
data esquecida, que teve o derramamento de sangue, e etc., E que Oeiras foi, e
tem esse significado, de fato histórico, a adesão, participação oficial do
Piauí dizendo sim ao processo de separação de Portugal”, citou o pesquisador.
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Historiador Fonseca Neto |
Segundo o pesquisador, em 1936, a Assembleia Legislativa tinha maioria
de deputados da região Norte do Piauí, o que possibilitou, diante dos contextos
políticos da época, a transferência da data em que era celebrado o Dia do Piauí
para 19 de outubro, em alusão à declaração de adesão da independência por separatistas
liderados por Simplício Dias da Silva em Parnaíba.
“Em 1936, na década de 30, há quase 90 anos, a Assembleia tinha maioria
expressiva de deputados da região norte do Piauí, e tinha havido a chamada
Revolução de 30, um movimento bastante expressivo de mudar a história do
Brasil, alguns acharam e propuseram à Assembleia que a data devia ser mudada
para 19 de outubro pelo caráter de ser a primeira manifestação, mais
contundente, também oficial, para esse debate. E como tinha maioria política,
mudaram a data. Evidentemente que a mudança da data não muda a história, mas
muda o foco, a discussão”, lembrou.
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O reconhecimento à Batalha do Jenipapo | |
“Lá pelos anos 90, e chegando já a primeira década do século XXI, esse
movimento foi levantado por intelectuais, como o Monsenhor Chaves, que é de
Campo Maior, escreveu textos. Desde os 150 anos da Independência do Brasil se
falava isso, mas veio se transformar numa proposta mais concreta depois”,
explicou.
De acordo com o professor Fonseca, a ideia inicial era que a Batalha do
Jenipapo tivesse alguma representação em um símbolo oficial. A data de 24 de
Janeira, em alusão a Oeiras, já consta no Brasão Oficial do Estado. E o 11 de
outubro, da declaração em Parnaíba, é o feriado do Dia do Piauí. Restava uma
homenagem ao 13 de março.
Brasão do Piauí consta em alguns símbolos oficiais, como a faixa
governamental. Nele, há a data 24 de janeiro de 1823
“Tivemos a ideia de uma maneira de significar e dar uma igualdade de
significados e reverência para o 13 de março. Não seria fazendo um novo feriado
ou trocando de feriado, mas que os símbolos estaduais: o hino, o brasão e a
bandeira, faziam referência aos Bandeirantes, o próprio dia do Piauí já era uma
homenagem a Parnaíba, o 24 de janeiro está no brasão do Estado, aí que veio a
ideia de se inscrever na bandeira o Piauí a expressão 13 de março. Acho que foi
uma maneira de lembrar e dar uma ressonância simbólica muito maior ao
acontecimento de Parnaíba”, lembrou.
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Abaixo-assinado contra o 13 de março na bandeira |
“Alguns intelectuais de Parnaíba fizeram abaixo assinado com mais de 10 mil assinaturas, faziam acusações a mim e aos apoiadores da proposta, disseram que a gente não sabia história. Fizeram abaixo assinado em colégio, mercado, na Praça da Graça, eu sei que conseguiram muita coisa, não é pouco não”, disse.
Apesar da mobilização, o projeto foi aprovado em março de 2005 e
sancionado em novembro do mesmo ano pelo então governador Wellington Dias.
Dessa forma, passou-se a se ter, de fato, cada uma das três datas com uma
relevância.
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Atletas piauienses com a bandeira do Piauí |
19 de outubro de 1822 – Feriado do Dia do Piauí
24 de janeiro de 1823 – Brasão do Piauí
13 de março de 1823 – Bandeira do Piauí
Para o professor Fonseca, a disputa foi importante para o
reconhecimento da Batalha do Jenipapo, que cada vez mais, tem atraído a
curiosidade não só dos piauienses, mas de pessoas que gostam de história.
“É uma luta que valeu a pena, na minha opinião. Os historiadores diziam
que era uma besteira, e eu dizia que é uma batalha simbólica, ela é séria. No
Brasil, já era assim há 20 anos, se decide uma eleição sem pensar, só na
manipulação de símbolos, ideológicos, políticos. Se entrega na hora da campanha
para discutir 'besteiras', mas essas simbologias jogam um papel muito
importante na afirmação das identidades nacional, do Piauí, por isso forma a
mente das pessoas”, citou.
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