Não à toa o nosso cérebro tem horários e melhores condições para tomar decisões. Entenda como isso funciona.
Quantas decisões você toma ao longo do dia? O quanto é difícil tomar algumas delas?
Certamente você já percebeu que o
cérebro humano lida melhor com decisões nas primeiras horas do dia.
Acordar, tomar banho, escovar os
dentes, ir para o trabalho, tomar café, almoçar, tomar ou não água ao longo do
dia... tudo é decisão e o nosso cérebro precisa de energia para investir em
boas escolhas ao longo de todo o dia.
Por que o cérebro tem um limite
de decisões para tomar ao longo do dia?
Nosso cérebro é limitado pelos seus recursos disponíveis. Imagine que você tem uma caixa d´água que permite a vazão de apenas 80 litros de água por dia, e você precisa priorizar para onde vai cada litro. E mais, desses 80 litros, 50 já estão comprometidos com as atividades obrigatórias que tem que ser feitas todo dia. O cérebro trabalha mais ou menos assim para gerenciar o seu consumo de energia.
“Toda tarefa cognitiva que exige
pensamento focado, como ponderar entre duas opções, avaliar o risco de uma
decisão e tentar prever suas consequências, ou até mesmo o esforço para
resistir a uma tentação (como um doce após o almoço), representa uma atividade
com alta complexidade e, também, alto custo energético. Ao longo de um dia,
quanto mais alta a carga cognitiva no seu cérebro, mais rápido ele esgota a
energia que tem disponível”, detalhou a neurocientista parceira do SUPERA –
Ginástica para o cérebro.
Decisões de manhã x decisões a
noite
Partindo da premissa de que a
noite de sono foi restauradora, o cérebro inicia o dia com todo seu potencial
disponível, mas o quanto de disposição e energia ele ainda terá a noite vai
depender da carga cognitiva sofrida ao longo do dia.
Carga cognitiva significa a carga
imposta ao sistema cognitivo das pessoas, decorrente do esforço mental exigido
na realização de tarefas, como a aprendizagem de novos conhecimentos ou a tomada
de decisões.
“Por exemplo, se uma pessoa
começa o dia trabalhando em reuniões, lidando com conflitos, depois vai à
escola dos filhos resolver problemas, em seguida precisa atender clientes e a
noite vai para a faculdade, com certeza ela chegará em casa esgotada. Diferente
de alguém que estudou de manhã, trabalhou em atividades mais mecânicas e depois
encontrou com os amigos. Essas duas pessoas terão diferentes níveis de energia
para tomar uma decisão à noite, mas nos dois casos, não custa nada deixar para
o outro dia”, explicou a neurocientista do SUPERA – Ginástica para o cérebro,
Livia Ciacci.
A capacidade de decidir pode
diminuir ao longo do dia?
Não há um horário padrão para
tomar decisões, porque, segundo a especialista do SUPERA – Ginástica para o
cérebro isso é algo que depende tanto do estado de saúde geral do corpo (que
reflete no quão rápido a pessoa se cansa), quanto da intensidade do esforço
cognitivo das tarefas já realizadas no dia. Mas a lógica é que o poder de tomar
decisões conscientes vai diminuindo ao longo do dia.
“Alguns estudos já avaliaram as
decisões tomadas por médicos e juízes em diferentes momentos do dia, e todos
constatam essa diminuição da qualidade, mesmo que a pessoa não perceba”,
explicou.
Como otimizar a energia ao longo
do dia?
A única maneira de garantir
energia disponível para aquilo que é realmente importante, é tendo um olhar
cuidadoso para a rotina e para a sua agenda. Parece bobeira, mas acordar
sabendo exatamente o que vai comer, vestir e organizar em casa antes de sair
pode poupar seu cérebro de muitas decisões que são pequenas, mas geram esforço.
Para quem deseja ou precisa ter
um alto desempenho cognitivo, a rotina é a maior aliada. Ela precisa ser
fluida, fácil e sem atritos. E no quesito agenda, vale ter cautela ao se
comprometer com muitas atividades, ou com atividades complexas no final do dia.
A dica aqui é usar a inteligência para distribuir as tarefas e compromissos
estrategicamente ao longo da semana.
Agora, considerando o período de
um dia, podemos melhorar o desempenho do cérebro se hidratando, fazendo pausas
e se alimentando nos horários corretos.
Qual é o papel dos estimulantes
neste processo?
Seria maravilhoso se o café e
outros estimulantes não tivessem papel importante neste processo, mas tem.
Quando estamos usando os
circuitos do cérebro para pensar, tomar decisões, ler, estudar, e tantas outras
tarefas, os neurônios consomem ATP – que é o combustível ou a gasolina do
cérebro. Quebrar muitas moléculas de ATP gera um subproduto que é a Adenosina
(como se fosse o gás carbônico da queima da gasolina). A adenosina vai se
acumulando e se liga a receptores que causam a sensação de cansaço e
sonolência.
“A cafeína se parece com a
adenosina o suficiente para ocupar a ligação com esses receptores, mas seu
efeito é oposto, ela vai evitar que se sinta o cansaço além de induzir a
liberação de adrenalina, que vai trazer a sensação de estar energizado. Mas
tudo isso é temporário, e quando passa o efeito, todo aquele cansaço está
acumulado ali, e talvez até pior”, explicou Livia Ciacci.
Sono, atividade física e estímulo
cognitivo
Dentro deste contexto, o sono é o
único recurso para ‘faxinar o cérebro’ e prepará-lo para mais uma rodada de
atividades. Levar a qualidade do sono a sério é a estratégia mais eficaz e
econômica para melhorar a performance mental.
Os exercícios físicos e a
alimentação são os responsáveis pela saúde do corpo e do coração, essenciais
para que o cérebro tenha equilíbrio para se dedicar ao esforço mental. “Lembre-se
sempre que o corpo sinaliza para o cérebro como ele está, se está faltando
água, nutrientes, ou se o metabolismo está bagunçado, e isso vai diminuir a
disposição para se dedicar aos esforços cognitivos”, explicou.
Já os estímulos cognitivos de
qualidade, ou ginástica para o cérebro, tem a função de treinar o cérebro para
diferentes tipos de processamentos. Quando ensino para o cérebro maneiras
diferentes de lidar com problemas, cálculos ou outras habilidades cognitivas,
ele gastará menos energia quando tiver que usar esses recursos. É como um
atleta, que só consegue bater recordes de performance porque ele treina o
suficiente para que aquela atividade se torne fácil para ele.
Quais seriam os melhores
‘horários’ para tomar boas decisões?
São os horários que você está
descansado, alimentado, bem hidratado e sem preocupações excessivas roubando a
atenção.
“É muito comum nós
negligenciarmos esse cuidado com o momento certo para fazer certos tipos de
atividades mentais, isso acontece porque nós não percebemos a queda de
desempenho gradual, e temos a tendência de acreditar que estamos prestando
atenção em tudo. Mas na verdade, à medida que a fadiga vai aumentando, o
cérebro vai automatizando as decisões. Ou seja, ele liga o piloto automático,
você acha que está em pleno controle, mas no dia seguinte pode vir a pensar
“onde eu estava com a cabeça”?”, concluiu a especialista.
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