O Exército, a pedido do STF, terá até maio para finalizar perícia
Para entender esse questionamento, é necessário retroceder no
tempo. Em 1880, antes do Brasil se tornar República, um decreto imperial
determinou a atual fronteira oficial entre Piauí e Ceará. Nesse documento, o
Império “cedeu” ao Ceará as áreas que hoje são alvo do litígio e, em troca, o
Piauí teria a saída para o litoral. Mas, segundo o historiador Eric Melo, tanto
o litoral piauiense quanto a Serra da Ibiapaba haviam sido ocupadas pelo
Ceará.
Em 1920, Piauí e Ceará assinaram um acordo com a Presidência da República prevendo
um estudo definitivo para por fim à questão. Porém, esse trabalho de campo
nunca foi feito. De lá para cá, as cidades da Serra da Ibiapaba continuaram
crescendo e, hoje, mais de 8 mil pessoas vivem na região
Representantes do Piauí conseguiram nos arquivos portugueses um
documento ainda mais antigo, do ano de 1770, que comprovaria que a Coroa
Portuguesa havia concedido à administração que viria se tornar o estado do
Piauí, a área em disputa.
Já a Procuradoria-Geral do Ceará apresenta outra versão. O Comitê de Estudos de Limites e Divisas Territoriais argumenta que documentos, também obtidos em arquivos de Portugal, colocam em xeque a versão do Piauí, tanto sobre a ocupação do litoral, quanto da Serra da Ibiapaba. Uma Carta Régia, de 1720, teria determinado que “toda a terra que fica em cima da Serra”, pertenceria aos habitantes da, então, "capitania do Ceará-Grande”.
A documentação histórica pode retroceder ainda mais no tempo, chegando à ocupação
pelos jesuítas. Essa disputa é uma “herança” deixada pela colonização
portuguesa que, porém, pode parecer distante do cotidiano de alguns dos 8,5 mil
moradores da área em litígio.
Mais ao sul, Lucivânia Marques, moradora de Crateús, defende que não
faz sentido pensar em mudar a identidade de uma população que há tantos anos se
considera cearense.
Documentos históricos e narrativas à parte, o fato é que o Exército, a
pedido do STF, terá até o mês de maio de 2024 para finalizar a perícia
definitiva sobre a área. A futura decisão, da Ministra Carmem Lúcia, deve
considerar também os aspectos econômicos, sociais e culturais, para,
finalmente, colocar um ponto final na disputa entre piauienses e
cearenses.
Edição: Ana Lúcia Caldas/Edgard Matsuki
Nenhum comentário:
Postar um comentário