A agricultura da carnaúba é algo tradicional e familiar, muitas vezes passado de geração a geração. O que representa, muitas vezes, condições inadequadas ou com falta de sustentabilidade. Foi vendo este cenário que a bióloga Silvania Nogueira passou a dedicar sua carreira na melhoria das condições de trabalho e na assistência a trabalhadores e suas famílias.
Em 2018, ela tinha recém-voltado de uma graduação nos Estados Unidos, quando assumiu, aos 22 anos, a gestão da ONG Instituto Carnaúba Socioambiental, com sede no município de Russas e atuação em diversos estados do Nordeste. A instituição tem como principal objetivo o desenvolvimento de projetos de sustentabilidade na cadeia produtiva da carnaúba. “Quando cheguei, verifiquei que eles não tinham muito projetos que visassem o desenvolvimento social da cadeia, não tinham evidências de boas práticas no campo e pouquíssimo financiamento”, analisou.
Silvania, então, conseguiu um acordo de cooperação técnica com a Trivium Foundation, instituição holandesa com foco em projetos sociais em cadeias produtivas ao redor do mundo. O estabelecimento da parceria originou como resultado, em 2020, na construção de uma escola na Ilha do Goiabal, no município de Araioses (MA), junto à prefeitura. “Identificamos que apenas 30% das crianças da região tinham condições de estudar, e, ainda assim, a qualidade da educação não era satisfatória, e muitas das escolas só podiam ser acessadas via barco”, relatou a bióloga.
Hoje, a escola tem 655m² de área total, com capacidade para 40 alunos e estrutura completa para fornecer educação de qualidade aos filhos de agricultores. “É um trabalho do qual me orgulho muito”, reforçou Silvania.Outro projeto de destaque foi a consultoria técnica da União Para Biocomércio Ético (UEBT), uma entidade sem fins lucrativos que incentiva boas práticas de extração de produtos derivados da biodiversidade em diversos locais. Silvania integrou o desenvolvimento de um projeto de incentivo à regularização das máquinas de bater palha em carnaubais do Nordeste, financiado através de acordo de cooperação com a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit GmbH (Agência Alemã de Cooperação Internacional - GIZ), uma empresa alemã especializada em projetos de desenvolvimento sustentável global.
Graças à expertise e visão da cadeia de Silvania, foi possível sistematizar o conhecimento sobre as melhores práticas de saúde e segurança do trabalho e respeito às normas NR 12 e NR 13, que estabelecem padrões para trabalhadores que atuam tanto em montagem e operação de máquinas quanto em caldeiras, vasos de pressão e tanques metálicos, e a consequente adaptação das máquinas para conformidade. Como consultora, foi essencial para a construção/adaptação das diretrizes da norma de Biocomércio Ético beneficiando a toda cadeia produtiva. “Conseguimos regularizar 20% das máquinas do setor e a redução do risco de acidente de 400 trabalhadores que atuam anualmente na safra da carnaúba”, celebra a bióloga.
Hoje, ainda há muitos desafios na agricultura, sobretudo na extração de cera e pó de carnaúba. O principal deles é a condição do trabalhador, muitas vezes em situação análoga à escravidão. A atuação de Silvania, agora, é voltada para este foco. “As desigualdades sociais ainda são muito presentes na vida do trabalhador da carnaúba. É uma questão bastante delicada, mas pretendemos atuar no intuito de diminuir estes índices tão negativos para nosso País”, pontuou.
Sobre Silvania NogueiraFormada em Ciências Biológicas e Biotecnologia na Universidade Federal do Piauí e pela Assumption University, nos Estados Unidos, Mestre em Biotecnologia também pela Federal do Piauí e doutoranda em Biotecnologia pela Universidade Federal do Delta do Paraíba.
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