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Ferrovia do Piauí: Ponte Metálica sobre o Rio Portinho - 📷Fotos: Walter Fontenele |
🏠Parnaíba (PI) - O Piauí foi um dos últimos Estados a implantar ferrovia no Brasil. No início do século XX, nenhum quilometro sequer de trilhos haviam sido assentados, o que só aconteceu no ano de 1916 com a inauguração do trecho ferroviário de 24 km, ligando o Portinho ao Cacimbão. (VIEIRA, 2010, p. 41).
A implantação da ferrovia no Piauí teve um papel significativo no
contexto social e econômico para muitas cidades e povoados do Estado do Piauí,
entre os anos de 1920 e 1980, com destaque para a cidade de Parnaíba.
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Ferrovia do Piauí: Ponte Metálica sobre o Rio Portinho - 📷Fotos: Walter Fontenele |
No grupo de trabalhadores que ajudaram a construir a Ponte Metálica
sobre o Rio Portinho estava o pai do ex-ferroviário, Francisco Sousa Marques.
Marques relata que seu pai construía “serviços artes”, que era como os
ferroviários chamavam a construção de bueiros, pilares e pontes. “Ele primeiro
veio construir os pilares da ponte do Rio Portinho e depois foi que os
engenheiros vieram localizar a parte metálica, já com as placas de concreto
armado.” (MARQUES, 2006).
A “Maria Fumaça” brilhando e fumegante, soltando fagulhas pela chaminé,
os vagões que formavam o comboio; primeiro o carro de carga e logo os de 1ª e
2ª classe. Às 17h o trem apitava anunciando a partida. Os últimos
retardatários, carregados de pacotes de pães e biscoitos, escapando pelos
dedos, eram empurrados para o vagão. Todos se acomodavam; muitos sentados,
muitos de pé, proseavam sobre os acontecimentos do dia. Com um apito longo o
trem deixava para trás a zona urbana, e eu com os olhos compridos, tentava
vislumbrar na casa amarela encimada com uma estrela branca (meus avós paternos)
algum vulto amigo. Passávamos o São João, agora todos já descontraídos,
chegávamos ao Catanduvas. Mais duas paradas Floriópolis e Berlamina, e já
divisávamos a velha e fascinante ponte de ferro sobre o rio Portinho. O ranger
oco das rodas de ferro sobre os trilhos, a fumaça do trem, a altura da ponte,
que se nos afigurava enorme, com o rio caudaloso lá embaixo, as fagulhas
entrando pelas janelas, o medo do enxame dos maribondos que podiam atacar, tudo
conspirava para aumentar o medo, e dar asas à nossa imaginação infantil.
Respiração presa, até o trem chegar novamente em terra firme. Outro apito
prolongado e triunfante, passávamos o Cemitério Branco, os primeiros casebres,
e logo a estação cheia de gente, principalmente de meninos já com a cor local,
para saudar efusivamente os recém-chegados. Todos muitos limpos, e de tamancos,
muitos à vontade naquela verdadeira terra prometida. A chegada era uma festa.
Todos falavam ao mesmo tempo, davam ordens e faziam perguntas. Trouxe as
bolachas? E a carne? Peixe que é bom, hoje não apareceu. Fomos à Atalaia pela
manhã, o João se queimou com uma caravela. O banho do trapiche hoje a tarde foi
sensacional! (ARAKEN, [19--], p. 22-23)
Muitas estruturas físicas da ferrovia do Piauí foram tombadas pelo
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). O que
falta para o IPHAN fazer o mesmo com a ponte metálica e também com a estação da
cidade de Luís Correia?
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Estação Floriópolis, em Parnaíba (Foto: José Wilson / Jornal da Parnaíba) |
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