Uma empresária identificada como Francisca Danielly Mesquita Medeiros, 38 anos, foi presa, nesta terça-feira (23), suspeita de manter a prima e afilhada- atualmente com 27 anos- em cárcere privado, sob tortura e em situação de escravidão, em uma residência no bairro Ilhotas, na zona Sul de Teresina. A investigação teve início após a vítima conhecer um rapaz e relatar o caso.
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Acusada do crime foi presa na
segunda /Reprodução
O reencontro emocionante com a mãe ocorreu no 6º Distrito Policial, horas após o resgate.
"Nas poucas saídas de casa,
quando ela ia deixar a criança autista [filho da suspeita] na escola, conheceu
um rapaz. Ele tomou conhecimento do caso, procurou uma terceira pessoa que nos
acionou. Fizemos um levantamento e constatamos os crimes, uma situação de
penúria e tristeza", disse o delegado Odilo Sena, titular do 6º Distrito
Policial.
A vítima vivia encarcerada e em condições degradantes desde os 12 anos de idade.
“Essa jovem, desde os 12 anos de idade, vivia em cárcere privado, sendo obrigada a realizar todas as tarefas domésticas, onde a dona da casa a mantinha sob constantes ameaças, além das torturas físicas e psicológicas.
Passou 15 anos morando num inferno. Além dos
trabalhos domésticos também era a responsável pelos cuidados de outra criança”,
relata o delegado.
Vítima relata ameaças de morte
Ao Cidadeverde.com a vítima
contou que era proibida de frequentar a escola, praticamente, não tinha
autorização para sair e foi impedida de retornar para casa dos pais. Ela também
relatou que as agressões e ameaças de morte eram diárias.
"Era briga todo dia, ameaça
de morte. Todo dia ela me ameaçava de morte. Ela dizia que eu não fazia as
coisas direito. Às vezes, ela saia para festa e chegava de manhã e dizia que eu
tinha batido no filho dela, mas eu não tinha batido", disse a vítima.
A mãe, que também não quis ser
identificada, contou que a filha foi convidada para passar o feriado da Semana
Santa em sua casa, mas que depois foi impedida e ameaçada, caso fosse buscá-la
ou mantivesse contato.
"Ela me pediu para que ela
fosse passar a Semana Santa com ela, que depois ela entregava a menina, mas não
entregou. Cheguei a vir buscar a menina, mas ela me ameaçou, disse que ia dar
parte de mim e que eu ia morrer na prisão. Fiquei com medo. Tentei buscar ela,
mas como me ameaçou, eu fiquei com medo. Tentava falar por telefone, mas ela me
bloqueou. Não tinha mais contato com ninguém", contou a mãe que pede
Justiça.
Após prestar depoimento no 6º DP,
a vítima foi encaminhada ao Instituto Médico Legal (IML) para o exame de corpo
de delito. Segundo o delegado, a jovem possui diversas marcas de agressões
recentes e antigas espalhadas pelo corpo.
“Ela está com as costelas
machucadas e com os lábios machucados. Ela pegou uma surra ontem e na semana
passada também. Ela tem marcas antigas pelo corpo, uma constatação clara da
maldade e perversidade humana”, frisou a autoridade policial.
Odilo Sena revelou ainda que as
investigações também apuram denúncias de que o companheiro da empresária
agredia fisicamente a criança autista. “Começamos a receber as informações e
vamos apurar também. Se ele estiver envolvido ele vai responder por isso”,
concluiu.
Veio para Teresina para melhorar
de vida
A vítima é natural do povoado
Veredão, na cidade de Chapadinha, no Maranhão, onde residia com os pais. Ela
veio para Teresina ainda criança com a promessa de uma vida melhor.
“Os pais da vítima são de baixa
renda e possuem poucas instruções. A acusada, que é prima de 2º grau da jovem,
trouxe a jovem para capital e, posteriormente, passou esconder informações
sobre o paradeiro da moça”, completou Odilo, acrescentando que a família já
havia tentado outros meios de resgatar a jovem sem sucesso.
Francisca Danielly será indiciada
por cárcere privado, redução a condição análoga à escravidão, tortura física e
psicológica. Além da esfera criminal, ela deve responder nas áreas cível e
trabalhista.
Em 2020, a suspeita foi candidata
a vereadora de Teresina em 2020, mas teve o registro indeferido. No site do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) consta ainda que ela é fisioterapeuta e
terapeuta ocupacional.
Caso perverso
O delegado Odilo Sena relata que se emocionou com o caso que o classificou como uma "perversidade".
"Me emocionei algumas vezes.
Essa menina tem 27 anos, mas é praticamente uma criança. Ela é muita sofrida,
vem sofrendo há 15 anos. Foi separada dos pais.
A presa é prima da mãe dela e [consequentemente prima dela], além de
madrinha. Ela veio para estudar, mas isso não aconteceu. Cuidou dos filhos da
acusada como uma escrava, é tanto que o filho autista da acusada a chama de
mãe. Ela apanhava, era humilhada psicologicamente, era oprimida e vivia para
servir", desabafa o delegado.
Breno Moreno e Graciane Araújo
redacao@cidadeverde.com
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