HISTÓRIAS DE PARNAÍBA: MÚMIA que dormiu na casa de SIMPLÍCIO DIAS na Parnaíba em 1824
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A múmia de uma criança vinda do
Cairo (Imagem Ilustrativa do Comércio de Múmias) |
Você duvida que aqui já teve
Múmia?
Pois leia esta história ai, pra
você ficar sabendo que Parnaíba tem até história de Múmia mal assombrada.
Naquele sábado de julho de 1824
JÁ ERA BOCA DA NOITE quando o
escravo Elias entrou pela porta dos fundos da casa de Simplício Dias naquele
sábado de julho de 1824 pra avisar sem mais tardança que o capitão de um navio
francês insistia em falar com o governador da Parnaíba sobre a chegada de uma
encomenda que por certo haveria de interessar, uma múmia egípcia.
A chegada de uma encomenda, a
Múmia
Simplício naquele momento ao
saber da chegada de Elias com noticia de que havia coisa grave ocorrendo no
cais, tratou logo de chamar o negro a um canto.
O navio francês, Le Prince de
Bourbon, comandado por Emile Bornett, vindo do Egito e com escala no Marrocos,
havia aportado em Tutóia a caminho de São Luiz e pedia permissão pra entregar
uma encomenda ao coronel Simplício Dias da Silva.
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Múmia Egípcia em Parnaíba
O desembarque da múmia seria pela madrugada
E a encomenda, dada o valor e
sendo coisa de chamar atenção, não poderia ser desembarcada em plena luz do
dia. Simplício mandou o negro de volta com a ordem de que o desembarque da
múmia seria pela madrugada antes da mudança de maré e com pouca gente por
perto.
Deu ordens a Elias de que
reunisse logo uns quatro homens de sua confiança pra aquela faina.
Havia comprado através de um
negociante grego no Cairo aquela que seria a joia da sua loja, a múmia de uma
criança, com o que pretendia abrir uma casa com mercadorias do Oriente na
Parnaíba.
Pela madrugada os negros chegaram
sem fazer barulho e tendo Elias como guia e encarregado do serviço foram depois
no rumo do Porto Salgado pra desembarcar a múmia e guardar no prédio da
esquina.
A madrugada com pouco movimento
no cais e o silêncio do outro lado da Ilha de Santa Isabel fizeram com que
dentro de pouco menos de meia hora aquela que seria a peça mais valiosa da loja
de antiguidades estivesse guardada no armazém.
Uma peça da história da humanidade em Parnaíba
Simplício, tamanha a curiosidade
pelo objeto comprado do Egito, mal dormiu naquela noite e na madrugada. Dia
nascido, bem a criadagem de pé e mandou Elias abrir o armazém na parte de baixo
do prédio da esquina. Queria ver com aqueles olhos que um dia a terra haveria
de comer, uma peça da história da humanidade e que só ele e seu dinheiro podiam
comprar.
A múmia seria uma vingança pela
ingratidão de dom Pedro I
Seria admirado e temido por toda
a região, em São Luiz, Recife, Rio de Janeiro.
Finalmente se vingava da
ingratidão de dom Pedro I por não ter aceitado seu presente, para as filhas, as
princesas Januária, Paula e Francisca, um cacho de bananas feito de ouro maciço
e com pedras de rubi nas pontas!
Se vingava por estar sendo agora
perseguido e sendo acusado de tramar a queda do Império.
Os dias, cinco de uma semana,
foram passando e a loja da esquina sempre fechada começou a chamar a atenção.
Coisas estranhas começam a
acontecer
Certa noite, já entrando em
agosto, Elias foi na ponta do pé ver como estava a carga, uma peça belíssima de
madeira e ornada com cenas de batalha.
Foi ver, mas sem o direito de
chegar perto e de tocar.
Tinha o tamanho de menos de uma braça. Viu a peça e do jeito que entrou calado e se pelando de medo, foi saindo.
Apenas Simplício e ele sabiam do que se tratava. Quando saiu na porta do armazém na esquinada da rua Grande, por volta de umas duas horas, achou de tanger um cachorro que dormia enrodilhado.
O bicho nem se mexeu
Um Cachorro foi o primeiro a morrer
Pegou um pau e fustigou de novo.
Nem a pau.
Nesse momento lá embaixo no cais uma sineta tocou duas vezes.
Com aquele sinal Elias se arrepiou dos pés à cabeça.
Saiu olhando pra os lados em direção dos fundos e foi se aquietar. Mais daqui a pouco haveria de já estar de pé antes que Simplício acordasse.
Era lei e ele tinha que cumprir. Mas quando na volta passou pelo cachorro viu que estava morto. Tratou de tirar aquela coisa dali antes de amanhecer.
Lá pelo meio do dia foi chamado pelo capitão do porto, Sebastião de Seixas. Dois negros que haviam levado nas costas a encomenda pra o governador Simplício Dias da Silva naquela madrugada, estavam mortos.
A múmia trazia coisa ruim pra dentro de casa
Morreram escumando pela boca e se
coçando sem que nada desse jeito. Não tinha sido nada de briga entre eles ou
coisa de comer. E assim começaram a aparecer e acontecer outras coisas dignas
de se meter na cabeça de que aquela múmia trazia coisa ruim pra dentro de casa.
Simplício começou a ficar encasquetado com tanta coisa acontecendo dentro de
sua casa.
Sem dar ciência a ninguém
Simplício mandou jogar a Múmia longe
Aquele cachorro, agora dois
negros da estiva mortos sem causa, uma sua sobrinha caiu da escada e quebrou as
costelas, o armazém ficou de uma hora pra outra infestado de ratos e de
morcegos. Sem dar ciência à família e aos amigos, ao chefe de polícia, noutra
madrugada Simplício Dias da Silva mandou que pegassem aquele troço e jogassem
ou queimassem bem longe.
Mas com medo de se repetir com
ele o ocorrido com os negros estivadores, Elias acabou foi jogando no barranco
do Porto Salgado no lado contrário a alfândega.
Conclusão
Este é mais um conto maravilhoso
do escritor parnaibano Pádua Márques.
Publicado no livro “Vinte Contos
para Simplício Dias”
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