Vencedor
do I Concurso de Fotografia da Oceana, Chico Rasta dedica o prêmio ao pai, o
Velho Brandão, que foi recentemente uma das vítimas da Covid-19 em nome de quem
ele abraça todas as famílias que perderam entes queridos na pandemia.
Conquista
do I Concurso de Fotografia da Oceana
Desde
a infância, a fotografia faz parte da vida de Francisco das Chagas Machado
Brandão, mais conhecido como Chico Rasta, que na última semana venceu o I
Concurso de Fotografia da Oceana, maior organização não governamental, sem fins
lucrativos, exclusivamente dedicada à proteção e recuperação dos oceanos em
escala global. Ele conquistou o prêmio com uma imagem que retrata a pesca
artesanal na praia de Bitupitá, em Barroquinha, no Ceará.
Paixão
por sets de filmagens
Chico
Rasta é um artista múltiplo, além de fotógrafo e, dos bons, é jornalista e a
lista não para por aí. Ao falar sobre seu trabalho com cinema, ele diz ser
apaixonado pelos sets de filmagens e se define como palpiteiro de roteiro.
Em
entrevista ao Nossa Gente, do Jornal Meio Norte, Chico Rasta lembra que seu pai
tinha uma máquina fotográfica Kodak, bem amadora onde os filmes iam pra Manaus
para serem revelados e levavam cerca de 30 dias. "Chegavam quase todas
queimadas inclusive, lembro que acabei levando uma surra por ter pego o
equipamento escondido de meu pai e levado pra escola. Ele acabou me pegando no
flagra clicando na volta da escola, mesmo sem filme na máquina. Eu adorava
aquele barulho de engatilhar e clicar. Nessa época, dei um tempo na fotografia
(risos)".
“"Como fotógrafo, busco sempre ser uma janela. Oportunizar que mais pessoas possam ter acesso àquele momento de beleza que a natureza me permitiu naquele instante."" Chico
Rasta
JMN:
No Piauí, o que você mais gosta de registrar e sempre proporciona um espetáculo
de imagem?
CR:
O céu do Piauí é incrível, diferente. No extremo sul do estado você tem a amada
luz dourada que nós fotógrafos tanto buscamos por quase que o dia todo. Nessa
época do ano, o céu do por sol, principalmente no litoral, é um espetáculo
diário. O azul do céu daqui é mais bonito, sem falar no espetáculo das noites
com estrelas totalmente aparentes e o braço da via láctea sempre evidente na
maior parte do ano. Bonito mesmo, pra quem tem “olhos de ver”, como bem diz
minha sogra, Dora Rodrigues.
JMN:
Que lugares do Brasil e do mundo você já listou para fotografar?
CR:
Eu vou pelos biomas e suas particularidades. Por ser natural da minha região e
admirador convicto, a Caatinga é o símbolo da força nordestina e dela ainda
tenho muito a conhecer. Estive no Pantanal, Cerrado, Mata Atlântica e Amazônia.
Quero conhecer os Pampas e voltar em todos esses biomas pelo menos mais umas
dez vezes em cada, o Brasil tem muito o que se conhecer. No mundo, a Papua Nova
Guiné e o leste da Austrália pelas Aves do Paraíso e as savanas africanas. Quem
sabe, um dia, a Antártida.
JMN:
O que a fotografia representa para você?
CR:
A fotografia me permitiu literalmente olhar tudo de um jeito grande e pequeno
ao mesmo tempo. Saber que tudo importa. A nuvem, a árvore, a abelha, o vento. E
que nós, humanos, podemos aprender muito sabendo olhar pra tudo isso e
compreender que nem todos os espaços nos pertencem. É preciso respeitar isso.
JMN:
Você já fotografou todo o Piauí? Que lugares ainda pretende registrar?
CR:
Tenho um projeto em parceria com o fotógrafo pernambucano, Luiz Netto, que é o
idealizador da coleção Eco Expedições, para lançarmos o livro Expedição Piauí -
O Sol do Equador, onde registramos a fauna e flora de todos os parques
ambientais do Piauí. Desde as Nascentes do Parnaíba, até o Delta. O livro já
está todo fotografado e aguarda um parceiro que acredite na força das nossas
belezas piauiense para imprimirmos, estamos abertos. O Piauí é um estado que
precisa se conhecer melhor quanto às suas belezas naturais também. Além do
livro, esse projeto tem previsto um programa de TV produzido pela Madre Filmes
que foi aprovado no edital da Ancine e Governo do Piauí e aguarda a liberação
de recursos para execução. O programa vai mostrar o trabalho dos fotógrafos na
captação das imagens, naturalmente tendo os parques nacionais como palco dessas
expedições. Além do Expedição Piauí, eu já andei bastante no estado em busca de
boas locações para filmes e séries nacionais gravarem por aqui. No Piauí, eu
quero muito voltar nas Nascentes, lá a Natureza me mostrou que para ser grande
é preciso começar pequeno, em alusão ao que ele é quando nasce e a
grandiosidade do Rio Parnaíba desembocando no mar, formando o Delta.
JMN:
A natureza está presente em seu trabalho fotográfico, que outros temas chama a
sua atenção?
CR:
Eu adoro fotografar arquitetura, inclusive fotografo e edito juntamente com os
arquitetos André Gomes e Martha Rossielle a Revista Arquit’ethos. Fotografia de
Gastronomia e Hotelaria são dois setores que atendo bastante na Rota das
Emoções e gosto bastante. Documental e retratos também me chamam bastante
atenção. São áreas que me sinto confortável pra trabalhar.
JMN:
Você tem fotografias publicadas no banco de imagens do Ministério do Turismo,
em várias outras publicações. Qual é o seu grande desafio como fotógrafo?
CR:
Como fotógrafo, busco sempre ser uma janela. Oportunizar que mais pessoas
possam ter acesso àquele momento de beleza que a natureza me permitiu naquele
instante. Os desafios envolvem uma carteira de possibilidades inesperadas por
se tratar de algo que nem sempre acontece como previsto, a espera é demorada e
normalmente não é coroada com a nossa vontade. E a gente precisa respeitar isso
também, que não é o nosso dia, que a luz não veio como queríamos, o bicho não
deu chance...e tudo certo também. A natureza tem que querer. Não apenas a
gente.
JMN:
Essa imagem premiada no I Concurso de Fotografia da Oceana foi feita quando? Em
qual lugar e qual a proposta dessa fotografia?
CR:
Ela é de 24 de agosto de 2014. Minha primeira saída para o mar na praia de
Bitupitá, em Barroquinha - CE. Eu estava com os técnicos do projeto Pesca
Solidária, realizado pela ong Comissão Ilha Ativa, na qual eu trabalhava como
coordenador de comunicação do projeto. Estávamos indo conhecer de perto a
despesca dos currais e aquela arte tradicional de pesca da região. Os currais
são construídos no mar que chegam à distâncias de cerca de 15 km da costa e
mais de 20 metros de profundidade conforme a maré. A manutenção dos currais
feita por grupos de pescadores que se equilibram nas estacas de madeira
cravadas no fundo do mar.
JMN:
Você faz parte da Associação dos Fotógrafos de Natureza, qual a sua opinião
sobre os cuidados e preservação do meio ambiente no Brasil?
CR:
Aproveitando o momento, essa parada mundial serve de reflexão para forma
consumista, super produtora de lixo e imediatista que vive a sociedade capital.
A natureza há centenas de anos vem sofrendo baixas violentas, muitas já são
irreversíveis, como o desaparecimento de inúmeras espécies, lixo nos oceanos, a
produção de plástico, desmatamento de biomas e um pensamento medieval que beira
à barbárie. O homem precisa compreender que faz parte de um ecossistema. Pela
forma de vida e o péssimo exemplo que mostramos diariamente fica muito claro,
pra mim, que o vírus somos nós, humanos. E se houvesse um diabo entre os
animais, como há na fé cristã, esse diabo dos animais certamente seríamos nós.
JMN:
Você conquistou vários prêmios, esse da Oceana, é o mais importante? O que ele
representa?
CR:
Todos são importantes, cada um tem presença forte e carimbam um momento
especial do caminho. Serve para gente avaliar o que está fazendo e seguir
andando porque a caminhada é longa e ainda falta muita estrada pra mim. Esse da
Oceana, em especial, tem um valor muito forte por retratar a Pesca Artesanal, a
força dos homens do mar e por me lembrar muito meu pai, o velho Brandão, que
foi recentemente uma das vítimas da COVID-19 a quem eu dedico essa vitória em
nome de quem abraço todas as famílias que perderam pessoas queridas nessa
pandemia. Admiro a iniciativa da Oceana e não à toa a ONG é uma das maiores
referências mundiais na proteção dos oceanos do planeta.
JMN:
Você é roteirista, produtor, já fez participações em trabalhos na TV, filmes,
novelas. Qual o trabalho que mais te encanta?
CR:
Não sou roteirista. Apenas palpiteiro do roteiro alheio, muito modestamente e
quando me é confiado o achismo. Por conta do cinema e da publicidade a gente
acaba se envolvendo no ambiente do set de filmagem que é um lugar incrível pra
mim. Eu dirigi algumas publicidades pela Framme Produções, a convite do diretor
de cinema, Alexandre Melo, dentre elas o aniversário de 162 anos de Teresina,
ainda pela Framme fiz a fotografia Still da minissérie Amor dos Outros que deve
estrear em breve em canais fechados. Sem dúvidas, o set de gravação é um lugar
mágico.
Jornal
Meio Norte- Como começou essa sua história com a fotografia?
Chico
Rasta: Trabalho com comunicação há 23 anos, comecei no rádio, passei pelo
impresso, depois fui pra TV e web, em 2000 na TV sempre pautado pelo
jornalismo, fui repórter, apresentador e editor-chefe de telejornal, mas sempre
com o pé na publicidade e documentário. Foi aí que comecei a observar
profissionalmente a cinegrafia e consequentemente a fotografia captada pelas
imagens. Com o passar dos anos, o avanço da tecnologia e a curiosidade me
fizeram buscar a máquina fotográfica pela sua nova função, na época, de filmar.
Mais precisamente, em 2009 quando casei, minha esposa Gelma viu que eu tinha
algum jeito pra coisa e me presenteou com uma máquina fotográfica. Ela
inclusive, além de incentivadora, é o critério de qualidade número um das
minhas fotos. Desde então, passei a estudar de forma mais comprometida e acabei
me assumindo também como fotógrafo profissional em meio à Comunicação Social.
Antes
disso, ainda na época do filme e com uma câmera analógica emprestada, me
arrisquei juntamente com um amigo (Edivan França) que na época era
laboratorista fotográfico, em um concurso fotográfico local promovido pelo Sesc
onde conseguimos emplacar algumas paisagens parnaibanas que estão até hoje no
acervo da entidade.
Por Isabel Cardoso/MN | Edição: Jornal da Parnaíba
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