Em entrevista ao Jornal O Dia, Freitas Neto não descartou a
possibilidade de disputar o Governo do Estado pela oposição nas eleições do
próximo ano.
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Freitas Neto admite possibilidade de Eleições para o Governo do Estado. (Foto: Jailson Soares/Jornal O Dia) |
Freitas Neto (PSDB) já foi prefeito de Teresina, governador, senador,
deputado federal e estadual, mas nunca mais disputou um cargo eletivo. Hoje, é
diretor de Assuntos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado do Piauí
(Fiepi), mas teve seu nome citado no cenário político estadual novamente como
um possível candidato de oposição ao Governo do Estado nas eleições do próximo
ano. Em entrevista exclusiva ao ODIA, ele comentou as reformas previdenciária e
trabalhista, alegando que as mesmas são necessárias para o país. “Na realidade
são reformas que já deveriam ter sido feitas”, diz. Apesar disso, lamentou o
aumento de impostos proporcionado pelo presidente Michel Temer (PMDB). Sobre o
Governo Temer, Freitas Neto disse que é uma “continuidade do Governo Dilma”,
mas com uma herança de uma recessão econômica e de uma inflação acima do teto.
“Ele está pagando também pelo que recebeu”, avalia. O tucano, que ficou
bastante conhecido por ter saneado as contas da Agepisa, quando comandou o
órgão, admitiu ainda sobre a possibilidade de sair candidato ao Governo nas
eleições do próximo ano, disse que é necessário buscar maneiras novas de fazer
política e avaliou que o PSDB nunca venceu uma disputa a nível estadual porque
nunca se preparou para disputar a vaga.
Confira a entrevista:
Confira a entrevista:
O Governo conseguiu aprovar, recentemente, mesmo em meio às polêmicas,
reformas como a Reforma Trabalhista e tenta aprovar a Reforma Previdenciária,
que fazem com que os trabalhadores percam alguns direitos adquiridos. Como o
senhor avalia essas reformas?
Na realidade são reformas que já deveriam ter sido feitas. A questão,
por exemplo, da reforma da previdência é quase um imperativo: ou se reforma a
previdência ou ela quebra. Quando ela quebrar, milhares de aposentados e
pensionistas não receberá sua pensão. E a gente já está vendo os casos no
Brasil. No Rio de Janeiro, não só os aposentados e pensionistas estão sem
receber, mas também os funcionários da ativa. Ao contrário do que se imagina,
Estados e municípios também vão a falência e também a União. A questão da
Previdência é aritmética. Entretanto, pelo que eu conheço, quem tem direito
adquirido, eles serão mantidos. As regras atingirão pessoas que não estão ainda
aposentados. Com relação à trabalhista, ela é uma mera modernização da
legislação que está sendo aplaudida no Brasil todo. A nossa legislação
trabalhista é muito antiga prejudicando o surgimento de novos empregos. Ela não
tira direitos, ela flexibiliza. O principal ponto da reforma é que ela
privilegiou o negociado sobre o legislado, mas sendo negociado com o Sindicato
da classe, dentro das condições impostas pela Lei. Nada é feito
unilateralmente.
O Governo Temer tem sido bastante criticado por ter aumentado os
impostos, como o imposto do combustível, em um momento em que o país já
enfrenta uma crise econômica. O aumento era necessário, na sua avaliação?
O Brasil já tem uma carga tributária insuportável. O ideal seria cortar
despesas. Aumentar impostos seria a última medida a ser tomada. O aumento do
imposto sobre o combustível, por exemplo, ele vai atingir toda a população
porque aumenta o preço de maneira em geral. Mas aqui no Brasil se tem esse
hábito: tem dificuldade, aumenta imposto. Acontece no Governo Federal e também
nos Estados. O próprio Governo do Piau acabou de aumentar impostos.
O senhor é o diretor de Assuntos Econômicos da Federação das Indústrias
do Estado do Piauí (Fiepi). Essas medidas de aumento de impostos foram bastante
criticadas pelos industriais e empresários. Como o senhor vê essas críticas?
Os empresários, de uma maneira geral, vêm criticando o custo Brasil.
Dentro desse custo, entra a infraestrutura inadequada, péssimo ambiente de
negócios que existe em vários lugares do Brasil e a carga tributária, como até
falei anteriormente. No Brasil se paga mais imposto do que qualquer país do
mundo e, evidentemente, isso prejudica a atividade econômica e a
população.
Nesse momento está acontecendo um grande embate no Congresso Nacional
por conta da votação da admissibilidade da denúncia contra o presidente Temer.
Como o senhor vê esse momento político e essa votação?
Veja bem: o que eu lamento muito é que o Brasil, no momento em que ia
retomar, ou que estava retomando as atividades econômicas, que estávamos
tentando sair da recessão, vem uma crise política que está prejudicando a
economia. Prejudicando a economia, prejudica a população. Acho que o Brasil
está tratando mais de política do que de administração. Está acontecendo de
maneira generalizada e está prejudicando a população. O Governo Temer é uma
continuidade do Governo Dilma, ele era vice-presidente, os ministros dele são
quase todos os que serviram no Governo Dilma, mas ele, além de tudo, pegou a
herança de uma resseção econômica, de uma inflação acima do teto. Ele está
pagando também pelo que recebeu. Mas nós temos uma eleição no próximo ano, o
Brasil vai ter a oportunidade de escolher e é preciso que a população tenha o
discernimento de escolher uma pessoa que entenda de gestão, que seja
comprometida com o futuro do país e não pense apenas em medidas que,
aparentemente, sejam simpáticas e que depois coloque o Brasil na situação em
que foi colocada agora. É um momento de grande responsabilidade.
Quanto ao presidente Temer, ele escapou momentaneamente. Na hora que
ele sair da Presidência, esse processo terá andamento e ele terá que responder
por essas acusações que estão sendo feitas pelo Ministério Público Federal.
Agora, o apelo que faço é: vamos cuidar do Brasil e cuidar menos de política
porque o que se sabe mesmo é que, o próprio PT não quer tirar o Temer e,
inclusive pessoas do próprio partido admitem isso. Querem que ele fique
sangrando, fique com essa impopularidade que tem, em parte pela situação que
recebeu o país, mas que ele fique desta maneira, para que o PT possa disputar
as eleições do próximo ano. É aquela história do quanto pior, melhor. Muitos
partidos agem assim, muitos políticos de vários partidos, agem assim. Querem o
pior para tirarem proveito eleitoral da situação. O PT não quer tirar o Temer,
ele quer que ele fique impopular até a eleição.
O senhor já foi senador (1995-2003), governador (1991-1994), foi
deputado estadual (1979-1983), deputado federal (1983-1987) e prefeito de
Teresina (1983- 1986). Seu nome foi colocado pelo prefeito Mão Santa como um
nome que agregaria a oposição. Ventila essa possibilidade de candidatura
majoritária?
Eu diria a você que não é uma aspiração minha. Entretanto, tenho
recebido manifestações nesse sentido e a minha resposta é a seguinte: não é
provável, mas não é impossível.
Se fala muito que o eleitor está cansado da “velha política” e que
falta nomes novos no cenário político. O senhor acha que novos nomes seria a
alternativa para a crise política que o país atravessa?
O importante não é novos nomes, mas sim novos métodos, até porque pode
entrar uma pessoa nova, mas com políticas velhas. E qual a política velha? A do
compadrio, o de barganha política, e a nossa legislação leva a isto. A classe
política precisa tomar juízo e fazer a reforma política para reduzir esse
número de partidos que, na maioria das vezes representam apenas legenda de
aluguel. Essa quantidade de partidos leva a barganha e é difícil o Governo
compor uma equipe competente sem barganhar porque ele não terá condições
políticas de governar e isso precisa ser corrigido. Então, o importante são
novos métodos e não novos nomes.
O governador Wellington Dias tem amplo apoio na Assembleia e um leque
de partidos aliados. O senhor acredita que ele conseguirá manter as alianças
até 2018?
Acho difícil. Acho que até o final desse ano o panorama político é
geralmente favorável ao Governo. O governador convocou quinze deputados
[suplente], metade da Assembleia Legislativa, é claro que ele tem um apoio
retumbante lá. No momento da eleição, isso tudo muda. Muda completamente.
As eleições para Governador no Piauí não são fáceis. Não será fácil nem
para o governador nem para o adversário dele. Quem vai ganhar, só o tempo
dirá.
O PMDB, nos últimos anos, tem sido decisivo nas últimas eleições. O
senhor acredita que isso acontecerá no ano que vem? Para que lado o senhor acha
que penderá o partido, já que hoje ele está dividido?
Olha, tudo vai depender de como estará o Governador no ano que vem. Se
o governador for o favorito, ele vai contar com um apoio maior. Se aparecer um
candidato competitivo, esse apoio será dividido politicamente. Tem muita gente
que está no Governo, mas está insatisfeito e está lá por falta de opção. Diante
desse cenário, que alternativas a oposição teria? Tem que lançar um nome
competitivo. Uma pessoa que saiba argumentar, uma pessoa que conheça a
realidade do Piauí e se comprometa a fazer uma gestão priorizando não os
políticos, mas a população, o Estado. Se ela conseguir convencer de que
consegue fazer isso, dessa sua postura, de que vai, realmente, adotar isso,
creio que será um candidato competitivo. Não existe essa história de eleição
ganha de véspera. Nunca existiu e nunca existirá.
O senhor é filiado ao PSDB, que há muitos anos comanda Teresina, mas
nunca conseguiu ampliar espaços no interior. Porque essa dificuldade do partido
em fazer a população do interior se identificar com a sigla?
Porque nunca fez política no Estado. Sempre fez política, não só
administrando bem, como sabendo fazer a política da capital, mas jamais almejou
ampliar essa política no âmbito estadual. As vezes que disputou, mesmo com bons
nomes, não se preparou para isso e continuou agindo dessa maneira.
Inclusive esse ano, muita gente que era do PSDB migrou para o PP.
O senhor acha eu isso seria uma tentativa de ser mais bem aceito e ter
uma base no interior do Estado?
Provavelmente sim porque alguns entendem que o PSDB não busca mais esse
objetivo de se transformar em um partido de nível estadual e procuraram o PP
que é um partido que está crescendo no Estado.
Se fala muito que o prefeito Firmino Filho deixou passar um “cavalo
selado” nas eleições de 2002 e que acabou prejudicando uma capitalização do
PSDB no interior. O nome dele, novamente vem sendo sondado para o Senado.
Acredita que é o momento de ele partir para essa candidatura?
Olha, isso é uma questão muito de caráter pessoal. Em 2002, ele chegou
a alimentar a candidatura, a viajar pelo interior e, se tivesse realmente sido
candidato, provavelmente teria sido governador. Ele agora tem dito que não há
essa possibilidade de se candidatar. Se for candidato, é um bom nome, mas me
parece que ele está sendo sincero e realmente não será candidato.
Comenta-se que quando governador, o senhor atuou para sanear as contas
da Agespisa. Como o senhor analisa a decisão do governo em fazer a subconcessão
dos serviços da empresa para iniciativa privada?
Essa é uma decisão de caráter político-administrativo. Na realidade, o
Governo decidiu não acabar com a Agespisa, mas entregar para a iniciativa
privada. Se fosse o PFL, lá atrás, que resolvesse fazer isso, o PT ia fazer um
verdadeiro escândalo dizendo que estávamos privatizando um serviço essencial
que é o abastecimento de água e o esgotamento sanitário. Mas ele fez! Eu peguei
a Agespisa completamente falida e, dentro de pouco tempo, coloquei ela nos
eixos através de gestão. Foi isso que fiz! Optei por recuperar a Agespisa. O PT
optou por privatizar o sistema.
O senhor acredita que, nesse momento, diante de todos os problemas que
a Agespisa tem, mas com a privatização, será possível recuperar a empresa?
A empresa perdendo Teresina fica inviável. Esse sistema de empresas
estaduais pegava municípios grandes e pequenos para que tivesse uma
estabilidade. Teria lucro em municípios maiores e prejuízo nos menores. Isso
foi um modelo que foi implantado ainda na década de 70, dentro de um Programa
chamado de Plano nacional de saneamento, que levou água encanada para todas as
sedes urbanas daquele tempo, inclusive a Agespisa. Mas depois, com má gestão,
ela faliu.
Por: Karliete Nunes e Mayara Martins/Jornal O Dia | Edição: José
Wilson | Jornal da Parnaíba
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