Em Parnaíba a Marujada já foi uma das danças
folclóricas das mais apreciadas, a ponto de influenciar o laureado escritor
Humberto de Campos em sua infância, colocando em uma de suas crônicas, a
despedida de seu cajueiro, uma passagem de sua infância relacionando-se a
Chegança (Marujada), que cito a seguir:
“Mais uns meses e vou subindo, experimentando a sua
resistência. Ele se balança comigo como um gigante jovem que embalasse nos
braços o seu irmãos de leite. Até que, um dia, seguro da sua rijeza hercúlea,
não o deixo mais. Promovo-o a mastro do meu navio e, todas as tardes, lhe subo
ao galho mais empinado, onde, com o braço esquerdo cingindo o caule forte, de
pé, solto, alto e sonoro, o canto melancólico da "Chegança", que é,
por esse tempo, a festa popular mais famosa de Parnaíba:
Assobe, assobe, gajeiro,
Naquele tope real...
Para ver se tu avistas,
Otolina,
Areias de Portugal!
Areias de Portugal!
Mão direita aberta sobre os olhos, como quem
devassa o horizonte equóreo, mas devassando, na verdade, apenas os quintas
vizinhos, as vacas do curral de Dona Páscoa e os jumentos do sr. Antônio
Santeiro, eu próprio respondo, com minha voz gritada, que a ventania arrasta
para longe, rasgando-a, como uma camisa de som, nas palmas dos coqueiros e nas
estacas das cercas velhas, enfeitadas de melão-são-caetano:
Alvíssaras meu capitão,
Meu capitão-general!
Que avistei terras de Espanha.
Otolina,
Areias de Portugal!”
Areias de Portugal!”
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Praça Cajueiro de Humberto de Campos - O Cajueiro foi plantado por Humberto de Campos quando criança, no quintal de sua casa. |
Tudo isto é passado e não vemos nenhum movimento
para resgatá-los. Quando governador, Dr. Alberto Silva reativou este
movimento folclórico e de muita tradição em Parnaíba, mas os gestores que o
sucederam não enxergaram tão valorosa parte de nossa cultura quem sabe
enterrada para sempre e apenas lembrada no livro de Humberto de Campos.
Agora, com a segunda administração do prefeito Mão
Santa, apreciador da cultura parnaibana e do Superintendente de Cultura,
Teófilo Lima, um conhecedor das raízes de nossos cantos e danças, quem sabe
seja a vez do resgate das belíssimas apresentações
da Marujada.
A última família que conheci em Parnaíba e que
mantinham as tradições da Marujada era a de Dona Maria Avani, moradora da Rua Desembargador
Freitas no Bairro Nova Parnaíba, ali na esquina com o Emater. Seus filhos (todos ainda vivos, mas morando em outras cidades), Raimundo,
Luís, Gerardo, Mário, Zé, Antônio, Deusdeth e até a única filha mulher, a Inês,
todo ano juntavam os aficionados desta dança folclórica e, com autorização da
Marinha do Brasil (por conta das fantasias que são semelhantes a farda da
Marinha), saiam da porta da Capitania dos Portos de Parnaíba para iniciar suas apresentações.
A Marujada (Chegança)
As "cheganças" são danças dramatizadas
que acontecem durante o ciclo de Natal, no carnaval e nas festas de São João. O
termo 'chegança' vem, provavelmente, de uma dança portuguesa do
século 18, embora alguns especialistas afirmem que seja originário de palavras
náuticas como 'chegar' – dobrar as velas à chegada do navio – e “chegada” –
abordagem. Acredito mais nesta última definição.
Na chegança de mouros, o tema central é a luta dos
cristãos contra os mouros. Já as histórias de navegadores são contadas na
chegança de marujos ou marujadas. Um cordão de marinheiros puxa um navio e
anuncia a chegada dos marujos. Os integrantes interpretam personagens como
Patrão, Piloto-Mor-de-Guerra, Padre-Capelão, Embaixador, Guarda-Marinha. Eles
simulam manobras de navio até chegarem ao seu destino: palanques ou casas.
Normalmente participam apenas homens. As mulheres participam da chegança das
mulheres. Cantam e dançam usando chapéus com fitas e flores. Não há um enredo
em particular nem personagens.
Por José Wilson | para o Jornal da Parnaíba
Por José Wilson | para o Jornal da Parnaíba
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