segunda-feira, junho 20, 2016

A Tocha Olímpica e o seu legado para Parnaíba!

Sarah Menezes, campeã olímpica conduziu a tocha em Parnaíba, no litoral piauiense.
A passagem da Tocha Olímpica por solo parnaibano mais do que a ideia do “espírito olímpico” rendeu um embate nas redes sociais que foi analisado como ato infrutífero e oportunista. Para alguns, as justificativas de que o evento é positivo para a cidade e as críticas desferidas contra algumas medidas adotadas pela municipalidade soaram como eleitoreiras, de parte a parte.

O fato é que estaremos sediando os primeiros Jogos da América do Sul, os primeiros do Brasil e a tocha Olímpica Rio 2016 está rodando por mais de 300 cidades de todo o país.  O revezamento da chama Olímpica é mais uma oportunidade para provar o velho mote de que "o melhor do Brasil é o brasileiro". Em Parnaíba, a festa nas ruas para receber este símbolo revelou a carência da população em manifestações artísticas e culturais. O povo foi pra rua ver a “Tocha”. Eu também estava lá!

Nas redes sociais foram inúmeras as postagens. Uns elogiavam, outros criticavam severamente! Falta de conhecimento? Intenção maliciosa? Consciência? Desmerecer um evento de tão significativa importância só encontra abrigo no contexto peculiar de uma Parnaíba que adota o “fuxico” e discute pouco a própria realidade e o seu futuro. Quisera, esses mesmos, aprofundarem a submissão a que está submetida a maioria da população que não tem ainda satisfeitas as suas necessidades mais básicas de sobrevivência!

Destaco uma parte do pensamento crítico sensato do Fumanchu. Em seu blog ele mostrou sua indignação (desde o princípio descrente) com a situação da Vila Olímpica de Parnaíba que, com custo total de R$ 200 milhões, a construção era destinada a preparação de competidores para os Jogos Olímpicos Rio 2016 e incluía ginásio para cinco mil espectadores, piscina olímpica; piscina para saltos ornamentais; quadras esportivas; pista de corrida; vestiários; quiosques; estacionamento para cinco mil veículos, além de um estádio com capacidade para 35 mil pessoas. Quatro anos após o começo das obras, o local virou símbolo de desperdício de dinheiro público. Já foram gastos R$ 3,7 milhões e apenas 2% do previsto no projeto inicial foi concluído. O Tribunal de Contas da União apontou graves irregularidades na obra de Parnaíba. Não há uma mobilização para exigir lisura do pleito! Fumanchu protestou e não foi ver a Tocha!

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Muitas outras críticas também inundaram a internet, desde a escolha dos condutores ao roteiro percorrido. Questionamento sobre as despesas em preparar a cidade para receber a tocha (que não se sabe o custo e que foi objeto de requerimento no parlamento municipal) também mereceu o mesmo espaço. Nestes embates, um me chamou a atenção: alguns moradores denunciaram o fato da Prefeitura mandar limpar as ruas e recuperar a pavimentação do circuito por onde passou a Tocha.  Foram taxados de oportunistas.  Concordo que é importante “preparar a casa aos visitantes”, porém não se vê mal em perguntar a razão da falta de cuidado com toda a “casa” e não apenas da “sala de visita”. Outro aspecto é que se deve cuidar da casa, em especial, para os seus habitantes e não apenas aos seus visitantes. Pois o evento é uma oportunidade para se mostrar a nossa cultura, nossas belezas naturais e todo o potencial humano que a cidade tem.

Sobre a participação no revezamento da Tocha, cerca de 70 pessoas foram selecionadas pra carregar o símbolo olímpico. Aqui destaque para Sarah Menezes, a primeira mulher a ganhar uma medalha olímpica no Judô; Thyago Tharson, Tri-Campeão piauienses de ciclismo; Lucas Nascimento, campeão de jiu-jitsu; Mário Boi dentre outros que merecidamente foram lembrados pelo comitê organizador do evento. Quem participou fala com emoção do momento. No entanto, alguns escolhidos foram duramente criticados por “não merecerem”. Porém, os patrocinadores oficias do evento estabelecem critérios próprios de escolha dos condutores (Coca-Cola, Nissan e Bradesco), muitos chamados não estão diretamente ligados ao esporte.

Algumas críticas contra a administração municipal têm razão de ser, outras não. É preciso separar o joio do trigo! Contudo, não se pode subestimar aqueles que, lucidamente, emitem sua opinião incluindo-o no simplório “coro dos contrários”. Prefiro usar o termo “coro dos descontentes”. Vi em muitas postagens o descontentamento com a falta do “espírito olímpico” da nossa representação política, em todos os níveis, muitos dos mandatários são medalhistas em cinismo, corrupção e “cara de pau”.

A “Tocha Olímpica” traz a mensagem de um mundo “sedutor” e “fascinante” (a glória do campeão, a unidade entre os povos), contraditoriamente, um mundo competidor e cruel (disputa individual e entre as nações), subliminarmente, os interesses dos “patrocinadores”.  O esporte enquanto “fato social” é uma criação perpétua dos homens que o praticam e o organizam. Em conformidade, os homens são, por sua vez, transformados pelo próprio esporte e que também o transformam. É nesta perspectiva, que entendemos a razão de ser do “espírito olímpico”, para além de uma questão ideológica. Muito embora muitos não lhe prestem atenção, é um agente provocador de ideologia. Quer dizer, as opções em matéria de esporte podem e devem ser objeto de confronto ideológico, sob pena dele em termos sociais não servir a não ser para alienar as massas ao serviço do poder vigente, seja ele qual for. Que o legado deste revezamento, ímpar, acenda em nosso meio e em nós a chama da liberdade, da igualdade e da fraternidade!

Por Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.

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