Sarah Menezes, campeã olímpica conduziu a tocha em Parnaíba, no litoral piauiense. |
A passagem da Tocha Olímpica por solo parnaibano
mais do que a ideia do “espírito olímpico” rendeu um embate nas redes sociais
que foi analisado como ato infrutífero e oportunista. Para alguns, as
justificativas de que o evento é positivo para a cidade e as críticas
desferidas contra algumas medidas adotadas pela municipalidade soaram como
eleitoreiras, de parte a parte.
O fato é que estaremos sediando os primeiros Jogos
da América do Sul, os primeiros do Brasil e a tocha Olímpica Rio 2016 está
rodando por mais de 300 cidades de todo o país. O revezamento da
chama Olímpica é mais uma oportunidade para provar o velho mote de que
"o melhor do Brasil é o brasileiro". Em Parnaíba, a festa nas ruas
para receber este símbolo revelou a carência da população em manifestações
artísticas e culturais. O povo foi pra rua ver a “Tocha”. Eu também estava lá!
Nas redes sociais foram inúmeras as postagens. Uns
elogiavam, outros criticavam severamente! Falta de conhecimento? Intenção
maliciosa? Consciência? Desmerecer um evento de tão significativa importância
só encontra abrigo no contexto peculiar de uma Parnaíba que adota o “fuxico” e
discute pouco a própria realidade e o seu futuro. Quisera, esses mesmos,
aprofundarem a submissão a que está submetida a maioria da população que não
tem ainda satisfeitas as suas necessidades mais básicas de sobrevivência!
Destaco uma parte do pensamento crítico sensato do
Fumanchu. Em seu blog ele mostrou sua indignação (desde o princípio descrente)
com a situação da Vila Olímpica de Parnaíba que, com custo total de R$ 200
milhões, a construção era destinada a preparação de competidores para os Jogos
Olímpicos Rio 2016 e incluía ginásio para cinco mil espectadores, piscina
olímpica; piscina para saltos ornamentais; quadras esportivas; pista de
corrida; vestiários; quiosques; estacionamento para cinco mil veículos, além de
um estádio com capacidade para 35 mil pessoas. Quatro anos após o começo das
obras, o local virou símbolo de desperdício de dinheiro público. Já foram
gastos R$ 3,7 milhões e apenas 2% do previsto no projeto inicial foi
concluído. O Tribunal de Contas da União apontou graves irregularidades na
obra de Parnaíba. Não há uma mobilização para exigir lisura do pleito! Fumanchu
protestou e não foi ver a Tocha!
Oferta válida somente para o mês de junho 2016 |
Sobre a participação no revezamento da Tocha, cerca
de 70 pessoas foram selecionadas pra carregar o símbolo olímpico. Aqui
destaque para Sarah Menezes, a primeira mulher a ganhar uma medalha olímpica no
Judô; Thyago Tharson, Tri-Campeão piauienses de ciclismo; Lucas Nascimento,
campeão de jiu-jitsu; Mário Boi dentre outros que merecidamente foram lembrados
pelo comitê organizador do evento. Quem participou fala com emoção do
momento. No entanto, alguns escolhidos foram duramente criticados por “não
merecerem”. Porém, os patrocinadores oficias do evento estabelecem critérios
próprios de escolha dos condutores (Coca-Cola, Nissan e Bradesco), muitos
chamados não estão diretamente ligados ao esporte.
Algumas críticas contra a administração municipal
têm razão de ser, outras não. É preciso separar o joio do trigo! Contudo, não
se pode subestimar aqueles que, lucidamente, emitem sua opinião incluindo-o no
simplório “coro dos contrários”. Prefiro usar o termo “coro dos descontentes”.
Vi em muitas postagens o descontentamento com a falta do “espírito olímpico” da
nossa representação política, em todos os níveis, muitos dos mandatários são
medalhistas em cinismo, corrupção e “cara de pau”.
A “Tocha Olímpica” traz a mensagem de um mundo
“sedutor” e “fascinante” (a glória do campeão, a unidade entre os povos),
contraditoriamente, um mundo competidor e cruel (disputa individual e entre as
nações), subliminarmente, os interesses dos “patrocinadores”. O esporte enquanto
“fato social” é uma criação perpétua dos homens que o praticam e o organizam.
Em conformidade, os homens são, por sua vez, transformados pelo próprio esporte
e que também o transformam. É nesta perspectiva, que entendemos a razão de ser
do “espírito olímpico”, para além de uma questão ideológica. Muito embora
muitos não lhe prestem atenção, é um agente provocador de ideologia. Quer
dizer, as opções em matéria de esporte podem e devem ser objeto de confronto
ideológico, sob pena dele em termos sociais não servir a não ser para alienar
as massas ao serviço do poder vigente, seja ele qual for. Que o legado deste
revezamento, ímpar, acenda em nosso meio e em nós a chama da liberdade, da
igualdade e da fraternidade!
Por Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e
contribuinte parnaibano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário