A Nova República (pós-ditadura) está morta! Morreu
no dia em que completou 30 anos (1985-2015). A massa rebelada nas ruas (mais de
2 milhões de pessoas, segundo estimativa das polícias militares) falou em impeachment,
fora PT e muito (muito mesmo!) em "fim da corrupção". A causa
mortis da Nova República decorre de uma série de complicações (econômicas,
políticas, sociais, educacionais, eleitorais, "teatrais" etc.), mas a
doença de maior eficácia mortífera chama-se cleptocracia, que significa o
Estado governado por ladrões pertencentes às classes dominantes ou reinantes,
ou seja, as que dominam o poder econômico, financeiro, político e
administrativo do País (esses 4 núcleos serviram de base para o
Procurador-Geral dividir a criminalidade organizada "complexa" no
petrolão).
Praticamente todos os grandes partidos políticos
estão envolvidos com essa mais nefasta corrupção, que é praticada por quem tem
o domínio da nação (econômico, financeiro, político e administrativo). Só com
base na delação premiada do Delator-Geral da República (cleptocrata), que é o
ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa, já são 7 (sete) os partidos dos
políticos investigados pelo escândalo: PP, PMDB, PT, PTB, PSDB, SD e PSB.
Considere-se, no entanto, que, até o momento, já foram 15 delações. Nas outras
14, feitas por Sub-Delatores-Gerais da República (cleptocrata), muitos outros
políticos e partidos estão fartamente citados (já incluindo-se corrupção em
outros setores, como o da energia).
Qual a grande farsa que a cleptocracia
(especialmente a brasileira) derrubou? A de que haveria ruptura entre a
economia (ciência econômica) e a política (ciência política). A tese é do final
do século XIX e foi defendida por William Stanley Jevons, León Walras, Anton
Menger e Antoine Augustin Cournot, na onda da revolução marginalista (veja
Jaime Osorio, El Estado en el centro de la mundialización: 128-129). Para
a economia política clássica, que se cristaliza na segunda metade do século
XVIII e primeira do século XIX, com François Quesnay, Adam Smith e David
Ricardo, a reflexão econômica era inseparável da política, das classes sociais,
das formas de apropriação da riqueza social. O que essa farsa tem a ver com a
roubalheira na pátria mãe gentil?
Enquanto prosperou a velha tese da separação entre
economia e política (entre o mercado e a democracia) só eram visíveis os
corrompidos (funcionários públicos e políticos), não os corruptores (os donos
do dinheiro e, em consequência, do poder econômico e financeiro). Com a
cleptocracia abundantemente evidenciada nos mensalões (do PT e do PSDB) e,
agora, no petrolão (acontece a mesma coisa no cartel do metrôSP), passaram a
ganhar imensa visibilidade também os corruptores de alto calibre do mundo
econômico e financeiro, que se unem frequentemente com o poder político e administrativo
para, juntos, numa Parceria Público/Privada entre Poderosos (das classes
dominantes ou reinantes) promover a Pilhagem do Patrimônio Público.
Trata-se da criminalidade organizada P7 (Parceria
Público/Privada entre Poderosos para a Pilhagem do Patrimônio Público), cujos
protagonistas ladrões sempre foram beneficiários do silêncio obsequioso de
todos os criminosos do grupo (a máfia chama isso de omertà). Esse silêncio
mafioso foi rompido pela primeira vez de forma sistemática pelos membros da criminalidade
organizada P7. O resultado (ainda preliminar) já começou a aparecer: 16
empreiteiras atuavam em cartel na Petrobras (segundo o MP), 24 ações já foram
iniciadas (19 penais e 5 cíveis), 11 empreiteiros estão presos (além de vários
diretores e funcionários da Petrobras), 15 acordos de delação premiada já foram
firmados, 54 pessoas estão sendo investigadas, dentre elas 35 parlamentares,
dois governadores (Pezão-RJ e Tião Viana-AC) e um ex-governador (Sérgio Cabral)
etc. Desfraldados os véus farsantes dos verdadeiros donos do poder (poder
econômico e financeiro), sabe-se que o mundo da corrupção cleptocrata
(corrupção de alto nível, dos poderosos) é muito mais imundo e profundo do que
o povo brasileiro poderia imaginar.
Artigo de Luiz Flávio Gomes
Da redação do Jornal da
Parnaíba
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