Pouco mais de dois meses após o início do segundo
mandato, a presidente Dilma Rousseff (PT) enfrenta uma onda pró-impeachment que
começou na web, mas já ganhou as ruas.
No último dia 15 de março milhares de pessoas se
manifestaram em diversas cidades brasileiras para protestar contra o Governo
Dilma. A revolta das pessoas encontra justificativa no aumento da tarifa de
energia elétrica, aumento do preço da gasolina, dólar subindo e elevação de
impostos (com pequeno surto inflacionário). São medidas que atingem, em cheio,
as "elites” – leia-se: as classes que pagam imposto de renda. Isso se
avoluma em função da confusão política em torno do conflito de Dilma com
o Parlamento e as notícias escandalosas da corrupção de empreiteiros no caso da “Operação Lava Jato”.
Como resposta de apoio ao governo e na tentativa de
enfraquecer os protestos, a Central Única dos Trabalhadores – CUT, o MST e o
Partido dos Trabalhadores, fez uma manifestação no dia 13 de março. Não foi bem
como eles queriam, fracassou, registrou-se pouca participação.
É preciso ver o que move os dois lados, qual a
defesa e os seus interesses. Na verdade não dá para esconder que o governo está
num momento delicadíssimo. O segundo mandato de Dilma é um desastre. A composição
do seu governo é servida, em muitas áreas, pelo que há de mais ruim no atual
sistema político. Ajustes econômicos desastrosos e articulação política incapaz
de dialogar com o Congresso Nacional.
O PT hoje prova do “próprio veneno”, foi quem mais
disseminou as manifestações pela legitimidade da liberdade de expressão e a
defesa da democracia. Gritou pelas ruas “Fora Collor” e depois bradou por 8
anos “Fora FHC”. Os petistas se articularam num uníssono ataque aos protestos: “impeachment
é golpe; é coisa das elites; não há respaldo jurídico; é coisa da Rede Globo;
quem foi pra rua é exatamente quem não votou na Dilma”. Afinal não pode o povo
externar seu descontentamento com o governo petista?
A verdade é que, grande parte de quem votou e de quem
não votou está descontente, por motivos diferentes, mas descontentes. Toda
manifestação é legítima. Espera-se que o Brasil de fato aprenda a ir para as
ruas com mais frequência. Reivindicar os seus direitos e manifestar a sua
indignação de forma civilizada e ordeira é o bom sinal da liberdade. Liberdade
que precisa ser estimulada e respeitada.
O “Fora Dilma” mesmo sem base jurídica é um grito
difuso de indignação e não pode ser ignorado.
O sistema político da forma como ele está engrenado
é a raiz de grande parte dos problemas da nação brasileira, especialmente da
corrupção. Como não admitir que o povo grite contra o atual modelo?
Após os protestos Dilma falou: “Ao ver centenas de
milhares de cidadãos não pude deixar de pensar e tenho certeza de que muitos
aqui concordam comigo, valeu a pena lutar pela liberdade, pela democracia. Este
País está mais forte que nunca”. Não cabia mais um discurso, ainda mais quando
este é de autopromoção. Esperava-se que o governo apresentasse uma proposta de
maneira sintética e factível na direção da construção de um modelo de estado e
sociedade que supere as injustiças, deficiências e enfrentamentos acumulados no
passado e seja possível encontrar caminhos de solução, equidade e
progresso.
Ao invés de
culpar a mídia, as elites e os adversários o PT e o Governo Dilma deveriam se
afastar da iniquidade que os invade. Não sentir culpa pelos erros cometidos e
achar que tudo o que faz é absolutamente correto e normal tem um preço e eles estão
pagando por estes erros.
Ante a descaracterização tentada pelo governo, o
movimento tem apelo fundado nos erros do PT.
Nós brasileiros e brasileiras necessitamos e
merecemos viver melhor. O objetivo final da política e o papel do Estado deve
ser conduzir as decisões, canalizar os recursos e enfrentar os conflitos e as
dificuldades sociais de maneira que se logre garantir o máximo bem-estar a
todos os cidadãos e cidadãs.
Neste momento, o que se espera é a reorientação
da ação do governo, a ressignificação do “Fora Dilma”, de forma a atender a
pauta das reivindicações, operando uma separação entre a legitimidade dos manifestantes
pacíficos, imbuídos de valores cívicos dos oportunistas com motivação política.
Não deve o governo desqualificar os protestos sob as justificativas até aqui
lançadas ao vento!
Artigo de Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e
contribuinte parnaibano.
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