Foram identificados dezenas de trabalhadores escravizados nos
municípios de Parnaíba e Luís Correia, dentre outras cidades do Piauí.
Em meio ao século XXI, em que o mundo está cada dia
mais globalizado e a tecnologia em constante inovações, ainda é possível
encontrar casos de pessoas que vivem em situação análoga ao trabalho escravo.
Só no Piauí, já foram identificados, nos últimos
seis anos, 306 trabalhadores escravizados e só em 2014 foram resgatados cerca
de 160 trabalhadores na extração de carnaúbas, na região de Picos, Luís
Correia, Oeiras, Parnaíba e Assunção do Piauí.
Atualmente, o Estado é um dos principais
exportadores de mão de obra escrava e a maioria deles não percebe a real
situação de trabalho.
Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag),
a Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil e a Federação dos
Trabalhadores na Agricultura do Estado do Piauí (Fetag/PI), junto com os
Sindicatos locais, estão realizando nos dias 23 a 26 deste mês a Oficina de
Formação de Multiplicadores/as no Combate ao Trabalho Escravo.
Antônio Melo, representante da OIT no Estado,
explica que, com as reuniões, espera-se que ocorra uma sensibilização sobre o
tema e que as informações sejam levadas para todos os municípios.
O representante da OIT no Estado revela que o Piauí
é um dos principais exportadores de trabalhadores escravizados do país. “No
Piauí, os resgates que aconteceram, de 2008 até o momento, são relativamente
modestos. Foram contabilizados 306 atuando no Estado.
Apesar de não ser tão acentuado esse número, até
então, o Estado é um dos principais exportadores de trabalho escravo do país,
indo para outros Estados, como Mato Grosso, Bahia, São Paulo, Minas Gerais e
Paraná, para atuar na agricultura, pecuária e até naconstrução civil”, aponta
Antônio Melo.
Segundo Manoel Simão, representante da Fetag/PI, o
trabalho escravo não é apenas aquele em que há casos de maus-tratos físicos,
mas também o ato de discriminar ou reduzir o indivíduo.
“Apesar da
maior incidência ser na zona rural, o trabalho escravo está em todos os
lugares. E é importante que se saiba o que é trabalho escravo e quem participa
dele. O trabalho escravo não consiste apenas em ser maltratado ou pisado, mas
também, uma palavra pode machucar, o ato de discriminar e diminuir a pessoa”,
explica Manoel Simão.
Trabalhadores
escravizados não têm consciência da condição
Apesar das péssimas condições de moradia e
trabalho, muitos trabalhadores, ludibriados por uma oportunidade de trabalho
fixo, não sabem ou não se dão conta da real situação a que estão enfrentando.
Alguns até se dão conta, mas por estarem envoltos a dívidas, ficam
impossibilitados de deixar o posto de trabalho.
O perfil destes trabalhadores é, geralmente,
homens, entre 18 a 45 anos de idade, com baixa escolaridade e que começaram a
trabalhar muito cedo.
De acordo com Antônio Melo, representante da OIT do
Piauí, essa população tem vivido em más condições, por exemplo, vive em lonas
no meio do pasto, bebe água suja, se alimenta mal, e, ainda, para sobreviver,
alimenta-se de carne da caça.
Em troca da mão de obra, recebe uma quantia bem
abaixo do combinado e, para sobreviver, são cercados por dívidas implantadas
pelos próprios exploradores. E garante, ainda, que eles não percebem a
exploração em que estão vivenciando.
"Em
geral, eles não sabem o que é trabalho escravo e não se sentem nessa situação.
Quando eles são resgatados, muitas vezes tendem a se contrapor à própria
fiscalização do trabalho. Como eles não têm qualificação nem trabalho próximo
da residência, têm uma tendência a ver a fiscalização como alguém que está
tirando deles a garantia de uma renda fixa. E não é bem assim. Mas depois que
começa a conscientizá-los, você nota que eles não queriam estar naquela situação
desestruturante", esclarece o representante da OIT do Piauí.
Da redação do Jornal da Parnaíba
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Por /Márcia
Gabriele/Meio Norte
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